EUA caem no status de
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Universidades do país enfrentam forte concorrência* As universidades americanas, que por meio século atraíram os melhores e mais brilhantes estudantes do mundo com pouco esforço, estão repentinamente enfrentando uma forte concorrência à medida que o ensino superior passa por rápida globalização. A União Européia, atuando metodicamente para competir com as universidades americanas, está modernizando seu sistema de ensino superior e oferecendo cursos ao estilo americano ministrados em inglês. Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia estão recrutando agressivamente estudantes estrangeiros, assim como centros asiáticos como Taiwan e Hong Kong. E a China, que declarou a transformação de 100 universidades em instituições de pesquisa de nível mundial como uma prioridade nacional, está persuadindo os maiores estudiosos chineses a voltarem das universidades americanas para casa. "O que estamos começando a ver em termos dos estudantes internacionais agora dispondo de opções além dos Estados Unidos para ensino de alta qualidade é apenas a ponta do iceberg", disse David Payne, um diretor executivo do Serviço de Teste Educacional, que realiza vários testes para que estudantes estrangeiros tenham acesso às universidades americanas. "Outros países estão começando a expandir sua capacidade de oferta de ensino superior. No futuro, os estudantes estrangeiros terão muito mais oportunidades." Os estudantes estrangeiros contribuem anualmente com US$ 13 bilhões para a economia americana. Mas este ano trouxe sinais claros de que o enorme predomínio dos Estados Unidos no ensino superior internacional pode estar acabando. Em julho, Payne informou à Academia Nacional de Ciência sobre a queda acentuada no número de estudantes da Índia e da China que realizaram o mais recente Graduate Record Exam (exame de histórico de graduação), obrigatório para aqueles que se candidatam à maioria dos cursos de pós-graduação; ele caiu pela metade. As inscrições estrangeiras para cursos americanos de doutorado caíram 28% neste ano. As matrículas de fato de estudantes estrangeiros de doutorado caiu 6%. As matrículas de todos os estudantes estrangeiros, em programas de graduação, doutorado e pós-doutorado, caíram pela primeira vez em três décadas em um levantamento anual divulgado no outono. Enquanto isso, as matrículas em universidades aumentaram na Inglaterra, Alemanha e outros países. Parte do declínio americano, concordam os especialistas, se deve aos atrasos pós-11 de setembro no processamento dos vistos de estudante, o que tem desencorajado milhares de estudantes, não apenas do Oriente Médio, mas também de dezenas de outros países, a se matricularem nos Estados Unidos. Os educadores americanos e até mesmo alguns estrangeiros dizem que as dificuldades com vistos estão ajudando as escolas estrangeiras a aumentarem sua participação no mercado. "O ensino internacional é um grande negócio para todos os países de língua inglesa, e os Estados Unidos tradicionalmente têm dominado o mercado sem se esforçarem muito", disse Tim O'Brien, diretor de desenvolvimento internacional da Universidade de Nottingham Trent, na Inglaterra. "Agora Austrália, Reino Unido, Irlanda, Nova Zelândia e Canadá estão disputando estes dólares, e nossas vidas foram facilitadas devido às dificuldades que os estudantes estão encontrando para entrar nos Estados Unidos." "Os estudantes internacionais dizem que não vale a pena esperar dois dias em uma fila do lado de fora do consulado americano de seus países para obtenção de um visto quando é muito mais fácil vir para o Reino Unido." Os educadores americanos estão preocupados desde o outono de 2002, quando um grande número de estudantes estrangeiros enfrentou atrasos no processamento de vistos. Mas poucos notaram o rápido crescimento do ensino superior como uma indústria global até recentemente. "Muitos câmpus americanos ainda não se prepararam para a concorrência", disse Peggy Blumenthal, vice-presidente do Instituto para Ensino Internacional. Ainda assim, disse Blumenthal, não se sabe se o declínio repentino nas matrículas de estrangeiros é uma queda isolada ou o começo de um longo declínio. Mas nem todos os educadores estão expressando preocupação. Steven Sample, presidente da Universidade do Sul da Califórnia -que no ano passado contava com 6.647 alunos estrangeiros, a maior número entre todas as universidades americanas- disse que os colegas que dirigem outras universidades expressaram preocupação em encontros profissionais. "Mas nós competimos sem restrições entre nós mesmos pelo melhor corpo docente, pelos alunos, pelas doações e pelos subsídios, e este é um dos motivos para nossa força", disse Sample. "Agora nós competiremos com algumas universidades estrangeiras. Por mim tudo bem, que venham." Certamente, muitas universidades americanas continuam marcas mundiais extraordinárias. A Universidade Jiao Tong de Xangai compilou um ranking acadêmico online de 500 universidades mundiais, usando critérios como número de prêmios Nobel conquistados por membros do corpo docente e artigos acadêmicos publicados (ed.sjtu.edu.cn/rank/2004/2004Main.htm). Entre as 20 maiores da lista, 17 são americanas. Entre as 500, 170 são americanas. Durante 2002, o ano mais recente para o qual há números comparáveis disponíveis, cerca de 586 mil estudantes estrangeiros se matricularam em universidades americanas, em comparação com cerca de 270 mil na Grã-Bretanha, o segundo maior destino mundial para ensino superior, e 227 mil na Alemanha, o terceiro maior. As matrículas estrangeiras cresceram 15% neste ano na Grã-Bretanha, e 10% na Alemanha. Os países que exportam mais estudantes são a China, Coréia do Sul e Índia, mas a migração global anual para universidades estrangeiras envolve 2 milhões de estudantes de muitos países viajando em muitas direções. Tal número está explodindo -segundo algumas estimativas ele quadruplicará até 2025- à medida que o crescimento econômico produz milhões de novos estudantes de classe média por toda a Ásia. Em outubro, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos, um fórum econômico dos 30 maiores países industrializados, registrou este movimento global em um estudo. Stephan Vincent-Lancrin, um analista do quartel-geral da organização, em Paris, e um autor do estudo, disse que tradicionalmente a maioria dos países, incluindo os Estados Unidos, tenta atrair os estudantes estrangeiros como uma forma de disseminar os valores centrais do país. Mas três outras estratégias despontaram nos anos 90, disse Vincent-Lancrin. Países com populações em envelhecimento como o Canadá e a Alemanha, buscando uma abordagem de "migração capacitada", buscaram recrutar estudantes talentosos em disciplinas estratégicas e a encorajar sua permanência após a graduação. A Alemanha fornece subsídios generosos para os estudantes estrangeiros de forma que seu ensino acaba sendo gratuito. A Austrália e a Nova Zelândia, buscando uma abordagem de "geração de receita", tratam o ensino superior como uma indústria, cobrando plenamente os custos dos estudantes estrangeiros. Elas concorrem eficazmente no mercado mundial por oferecerem ensino de qualidade e os custos para alguns cursos nestes países são mais baixos do que nos Estados Unidos. Países emergentes como Índia, China e Cingapura, seguindo uma abordagem "formação de capacidade", vêem o estudo no exterior por milhares dos estudantes de seus países como uma forma de treinar futuros professores e pesquisadores para suas próprias universidades, que estão expandindo rapidamente, disse Vincent-Lancrin. Em agosto, uma delegação de autoridades de educação de Cingapura visitaram Mary Sue Coleman, a presidente da Universidade de Michigan, no câmpus de Ann Arbor. Eles ocuparam uma sala de conferência, montaram computadores e a encheram de perguntas sobre política para taxas de ensino, arrecadação de fundos, administração e pesquisa, lembrou Coleman. Eles queriam saber como Michigan se tornou uma universidade proeminente e como era administrada atualmente. "Eventualmente eles colherão os benefícios deste trabalho", disse Coleman. "Cingapura criará universidades de qualidade mundial. Outros países estão adotando a mesma abordagem. Nós enfrentaremos uma enorme concorrência. É melhor nos prepararmos para isto."
Fonte: The New York Times, Sam
Dillon, 21/12/2004..
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