Presidente da ABC critica subfinanciamento da pesquisa
O financiamento à pesquisa no Brasil está estagnado, em torno de 1% do PIB, o que ameaça as conquistas já alcançadas e mina o desenvolvimento do país, critica o professor Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências. Confira o artigo “Qual é o propósito da Ciência”, publicado originalmente no blog Ciência & Matemática, de Claudio Landim.
Qual é o propósito da Ciência?
Uma teoria com beleza matemática é mais provável de ser correta do que uma teoria feia que concorde com alguns dados experimentais. (Paul Dirac, 1902-1984)
No início do século 20, um grupo de jovens provoca uma revolução na ciência, ao formular uma teoria que se afasta radicalmente dos conceitos clássicos: a física quântica. Surge então uma nova visão da natureza: a luz comporta-se ora como ondas, ora como se fosse constituída de corpúsculos; átomos e elétrons poderiam também ter comportamento típico de ondas. O primeiro vislumbre aparece com os trabalhos de Max Planck, em 1900 e de Albert Einstein , em 1905. Os jovens responsáveis por essa reviravolta conceitual não tinham nenhuma ideia sobre possíveis aplicações dessa nova física: movia-os a curiosidade e a paixão pelo conhecimento.
Cem anos depois dos trabalhos de Planck, um artigo publicado na revista “Scientific American” pelos físicos norte-americanos Max Tegmark e John Archibald Wheeler mostrava que, no ano 2000, cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano eram baseados em invenções tornadas possíveis pela física quântica, de semicondutores em chipsde computadores a lasers em reprodutores de CDs e DVDs, aparelhos de ressonância magnética em hospitais, e muito mais.
A história é rica em exemplos de descobertas em ciência básica, movidas pela curiosidade, que acabaram provocando grandes transformações no quotidiano da humanidade. Assim foi com a eletricidade, explorada em experimentos pelo grande físico britânico Michael Faraday. Foi ele quem descobriu, em 1831, que uma corrente elétrica era produzida em um fio de cobre, ao movê-lo em um campo magnético — descoberta que deu origem aos geradores de energia elétrica. Questionado pelo então Ministro das Finanças britânico, Sir William Gladstone, sobre a utilidade do efeito que acabara de descobrir, Faraday responde: “Há uma alta probabilidade, Sir, que em breve o senhor poderá taxá-la”.
Também no Brasil, a ciência teve um retorno fantástico: aumentou enormemente a eficiência da agricultura, tornou possível a extração de petróleo do pré-sal — hoje mais que 50% da produção brasileira —, permitiu o enfrentamento de epidemias emergentes, o enriquecimento de urânio para centrais nucleares e o aparecimento de diversas empresas de alta tecnologia com protagonismo internacional.
Hoje em dia, a velocidade crescente do avanço científico e tecnológico diminui a distância entre descobertas de ciência básica e suas aplicações. Por isso mesmo, em 2012, em meio à crise global que afeta a taxa de crescimento de sua economia, a China aumenta em 26% os recursos para pesquisa básica. A União Europeia planeja alcançar, no ano 2020, 3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Coréia do Sul e Israel já ultrapassam os 4% do PIB. Enquanto isso, o financiamento à pesquisa no Brasil está estagnado, em torno de 1% do PIB, o que ameaça as conquistas já alcançadas e mina o desenvolvimento econômico e social do país.
Mas a ciência não deve ser justificada apenas em função de suas possíveis aplicações. Se assim fosse, como entender o entusiasmo em torno do anúncio, em 2016, da detecção de ondas gravitacionais produzidas por uma colisão de buracos negros, ocorrida há mais de um bilhão de anos atrás, motivo de manchetes de jornais em todo o mundo e do Prêmio Nobel de Física em 2017? Como entender a fascinação provocada pela descoberta de um novo elo na evolução da espécie humana?
A curiosidade está inscrita no DNA humano. Trata-se de buscar respostas para questões fundamentais: quem somos, de onde viemos, qual o nosso lugar no Universo. A busca pelo desvelamento dos enigmas da natureza está intimamente ligada ao senso de beleza, que justifica a frase do grande físico Paul Dirac e é fundamental para o propósito humano. Einstein dizia que “A coisa mais bela que podemos experimentar é o misterioso. Essa é a fonte de toda verdadeira arte e toda a ciência. Aquele para quem essa emoção é estranha, aquele que não pode mais fazer uma pausa para refletir e ficar absorto em admiração, está praticamente morto: seus olhos estão fechados”.
Einstein dizia também que “o eterno mistério do mundo é sua compreensibilidade”. Está aí talvez o grande enigma da ciência, aquele que une de forma indissolúvel o Universo com aqueles que o observam: através da ciência, o Universo é descrito por uma parte sua, a chamada “vida inteligente”, que obsessivamente procura entender os mistérios do mundo em que vive e as respostas para sua própria existência.
Luiz Davidovich é Professor Titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Presidente da Academia Brasileira de Ciências
Fonte: ADUFRJ (publicada originalmente no Blog Ciência & Matemática, de Claudio Landim / jornal O Globo, 29/5)
Mais Notícias
Funcionamento ADUR durante o feriado
Postado em 17/04/2025
A ADUR deseja a todas e todos uma Feliz Páscoa e confraternização com família e amigos. Um ótimo descanso neste … leia mais
Ação judicial da ADUR garante RSC para docentes EBTT aposentados da UFRRJ
Postado em 17/04/2025
Professores EBTT da UFRRJ que se aposentaram com paridade antes de 1º de março de 2013 têm direito ao adicional … leia mais
Glauber Braga Fica!
Postado em 16/04/2025
16 de abril de 2025 Comunicação da ADUR A ADUR-RJ manifesta sua solidariedade ao deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), diante … leia mais
Mario Vargas Llosa
Postado em 15/04/2025
Morreu neste domingo, dia 13 de abril, o escritor peruano Mario Vargas Llosa. Em seus 89 anos, ele construiu uma … leia mais
O Estado do RJ sofre com a falta de uma política de segurança
Postado em 15/04/2025
15 de abril de 2025 Comunicação da ADUR Nas últimas semanas, o Rio de Janeiro tem enfrentado um aumento significativo … leia mais
Nota de Repúdio à Proposta de Armínio Fraga
Postado em 15/04/2025
15 de abril de 2025 Comunicação da ADUR A declaração do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, sugerindo o congelamento … leia mais
Governo federal inaugura novo campus da UFF em Campos dos Goytacazes
Postado em 14/04/2025
O presidente Lula participa, neste momento, da inauguração do novo campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos dos Goytacazes, … leia mais
Nota de apoio à FAPERJ e à comunidade cientifica do RJ
Postado em 11/04/2025
11 de abril de 2026 Comunicação da ADUR A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia … leia mais
Deputado Glauber Braga Fica!!!
Postado em 10/04/2025
10 de abril de 2025 Comunicação da ADUR Perseguição politica. Esta é a definição da absurda decisão do Conselho de … leia mais
Bernardo Paraíso, presente!
Postado em 08/04/2025
Exatamente um ano atrás, a comunidade acadêmica da UFRRJ sofria um duro golpe: o assassinato brutal do estudante do curso … leia mais