Entrevista com a pesquisadora Sara Wagner York
26 de janeiro de 2022
Imprensa ADUR-RJ
Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Junior faz uso de nome duplo justamente para reiterar o direito do uso do nome social por parte de pessoas trans e travestis no Brasil.
Sara fez graduação em Pedagogia, Letras inglês e português, e no momento, cursa jornalismo. Ela também é especialista em orientação, inspeção e supervisão escolar; especialista em gênero e sexualidade pelo Centro Latino-Americano do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores da mesma instituição.
Nascida no município de Itapirapuã, estado de Goiás, Sara foi criada por uma família que desde bebê lhe negou a possibilidade de conhecer sua verdadeira mãe. Durante a maior parte de sua infância, Sara foi criada pela avó paterna desta família, dentro da qual sempre sentiu um desconforto. “Tempo depois eu fui descobrir que aí sim tinha toda uma relação de subtração desse bebê para a manutenção de uma estrutura familiar que atendesse a essa sociedade quando a gente conhece”, explicou ela.
Na adolescência, ao usar o nome social e símbolos femininos, Sara foi expulsa de casa e começou a buscar mecanismos para sobreviver. Morando de favor durante um período, ela não desistiu de estudar. Sara estudou dança, participou de um grupo de teatro, trabalhou com montagem coreográfica e depois com enfermagem, quando cursou alguns períodos do curso.
“Em 1996 eu ganhei um prêmio de melhor espetáculo teatral do Brasil com a peça ‘Meu Guri’, mas meu nome não aparece em nenhum dos noticiários por ser travesti”, mencionou.
Sara teve um filho, mas passou um período de 15 anos de muita dor ao ficar distante dele por conta do que ela define como a “ruptura” de sua família. Com todas as violências e opressões das quais foi vítima, após morar um período nas ruas, Sara conseguiu se reerguer e foi viver um período fora do Brasil.
Em Londres, ela se sentiu verdadeiramente reconhecida, quando passou a ter um dos seus trabalhos de maior relevância como cabeleireira da cantora brasileira Elza Soares. Durante o período que morou fora do país, Sara fez parte da militância internacional na Marcha para Pessoas Trans e Travestis na cidade de Liverpool, no Reino Unido.
Ao retornar ao Brasil em 2013, Sara conta que sentia um desejo muito grande de mudar expectativas e que encontrou essa possibilidade justamente na academia, ao estar presente no ambiente escolar.
“Quando eu volto para o Brasil, eu tenho mais a intenção de fazer alguma coisa para que as histórias como a minha não se repetissem. Que história é essa? A história de subtração enquanto criança, então, para atender as dinâmicas do patriarcado, depois o afastamento da minha família, mais especificamente do meu filho, e a falta de apoio da minha família, exatamente por conta da transfobia”, ressalta ela.
No entanto, dentro dos espaços acadêmicos, Sara considera que a definição de respeito em todas as suas condições ainda é um dos desafios mais básicos e essenciais a ser reivindicado. Segundo Sara, exemplos comuns no cotidiano de pessoas trans são os apagamentos, como a utilização do banheiro em horários diferenciados para evitar encontrar um fluxo maior de pessoas e até mesmo as dificuldades no respeito à utilização dos nomes sociais ou ao nome social da pessoa trans ou travesti nos processos acadêmicos.
“Pensamos em como a utilização do banheiro deveria ser básica para todos, todas e todes nós, porque o banheiro feminino é tão importante para as mulheres trans e travestis, [pensamos] como possibilitar banheiros masculinos para homens trans e [pensamos] como a gente vai garantir que esses abusos não ocorram em todos os nossos corpos ou com todos os nossos corpos”, exemplifica.
Com relação à produção acadêmica e científica, Sara também ressalta que as dinâmicas da universidade ainda precisam aprender a lidar com pessoas trans e travestis dentro de diversos contextos, especialmente no tripé ensino-pesquisa-extensão para mudar o caminho de apagamento e não-visibilização delas ao longo da história.
“Na parte de pesquisa, acredito que o respeito para com os pesquisadores trans e travestis. Pessoas que podem pesquisar e podem estar nestes espaços pesquisando não apenas gênero e sexualidade, mas sobretudo e também gênero e sexualidade. Não é porque sou travesti que eu preciso obrigatoriamente pesquisar gênero e sexualidade. Mas eu percebo reiteradamente, sou muito mais convidada a falar sobre gênero, sexualidade e travestilidade ou transgeneridade do que propriamente sobre informática na educação, que é uma das disciplinas que ministro, inglês que é uma das minhas disciplinas, língua portuguesa entre outras disciplinas pedagógicas, por exemplo. É como se as minhas outras compreensões tivessem outras pessoas para falar por elas, e aí não é necessário que eu fale. Existem pessoas que falam melhor desse assunto. Mas sobre a travestilidade, aí eu tenho “lugar de fala”. Sabemos que o lugar de fala é todo lugar que o ser humano tem sobre todos e qualquer assunto. A discussão não é sobre o lugar de fala em si. A discussão é sobre quem este grande sistema chancela como possibilitado a falar sobre um determinado tema e outro ainda não”, destaca a pesquisadora.
Sobre as construções possíveis e necessárias para um futuro mais plural e respeitoso para todos, todas e todes, Sara evidencia a necessidade de ponderar diálogo e ação social.
“Acredito que a única saída possível que nós temos é observar e aprender com a diferença. O que nos foi, talvez, negado pelas instâncias cisgêneras , brancas, europeias, capitalistas, utilitaristas, eurocentradas, exclusivistas que tem que sempre uma história com a narrativa única que é produzida pelos mantenedores das estruturas fálicas de poder. E, de repente, a gente precisa olhar e entender que a gente vai ter que dialogar com a história do coleguinha que está do lado. (…) Acho que a resposta mais direta é: vamos aprender a viver plenamente enquanto humanos por causa e com as diferenças”, conclui Sara.
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