Opinião da Semana #14: Que pragmatismo queremos para 2022?
09 de dezembro de 2021
Por João Pedro Werneck Vianna
Até onde se sabe, a eleição presidencial para 2022 terá apenas uma mulher concorrendo ao pleito, a senadora do MDB, Simone Tebet, que sequer aparece nas pesquisas de intenção de voto. A conjuntura eleitoral, apresentada como está, apenas reforça o estereótipo machista dos partidos políticos no Brasil, onde mulheres altamente capacitadas são preteridas por preconceitos sociais. Episódios de sexismo não devem ser tratados como relatos isolados, tampouco como “mimimi”. São reflexos de uma cultura de masculinidade tóxica que não vê as mulheres como sujeitos políticos.
Quando se diz que sexismo é estrutural, o que se quer dizer em outras palavras é que instituições políticas e jurídicas no Brasil impõem obstáculos para o acesso de mulheres a posições de poder. A esperança é que o candidato que vencer a eleição tenha ao menos a decência de, ao contrário do atual presidente, compor o governo com mulheres em ministérios importantes, representando a teia de etnias e diversidade que forma a sociedade brasileira.
Acontece que vencer uma eleição não é fácil. Não é de hoje que a esquerda no Brasil carece de uma aliança com o chamado “centrão” para chegar à presidência da República. Embora se discuta uma chapa entre trabalhistas e socialistas (PT e PSB) para 2022, inclusive com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, citando nesta semana, nominalmente, quais estados o PT deveria abrir mão para ganhar o apoio de seu partido, o arranjo eleitoral progressista depende de Geraldo Alckmin, nome da tradicional direita paulistana.
Alckmin está dividido entre duas siglas após deixar o PSDB de São Paulo: PSB e PSD. No Partido Social Democrático, prometeram-lhe uma chance como candidato ao governo de São Paulo e a posição de cacique no partido. Nos socialistas, Siqueira quer Alckmin como vice de Lula, que, diz ele em entrevistas, “flerta” com a ideia. Frequentemente questionado sobre o seu futuro, o ex-governador paulistano desconversa: “Vamos aguardar”. Velha raposa na política nacional, Alckmin faz o “jogo dos políticos”, ventila opções na imprensa, e depois analisa a repercussão. A chegada de Sergio Moro ao páreo deve retardar ainda mais sua escolha.
No campo progressista, sua entrada na chapa de Lula não é vista com bons olhos. “Não há nenhuma discussão no partido sobre candidatura a vice para Lula”, disse Gleisi Hoffman nos últimos dias. Ela também afirmou que o candidato a vice do petista será “resultado do processo político e da nossa capacidade de construir essas alianças”. e negou também “condicionamento do PT ao PSB, para filiar Alckmin ao PSB ou pedindo Alckmin de vice”. Aliados como o PSOL também criticaram a possibilidade de Lula ser candidato com um ex-PSDB como vice. Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, afirmou que considera “descabido ter um sujeito como Alckmin compondo uma frente das esquerdas”.
A conjuntura da política nacional apresenta três nomes com chances de vencer o pleito. Dois deles são o reflexo de um só no espelho – Sergio Moro e Jair Bolsonaro -, e ambos representam o reacionarismo no Brasil. Trata-se de uma especulação muito grande afirmar que Moro tirará votos de Bolsonaro, por mais provável que isso pareça. O presidente tem a máquina pública ao seu lado, além do apoio incondicional de relevantes líderes neopentecostais e do baixo clero das polícias e das Forças Armadas. Em um país tradicionalmente conservador, e em um pleito marcado pelo reacionarismo de dois candidatos, a escolha de Lula para vice é fundamental não apenas para garantir a governabilidade, como também o apoio de alguns setores importantes no Brasil, como a imprensa, a indústria, o agronegócio e o mercado financeiro.
Não há segredo que a imprensa elegeu Moro como o seu candidato. Tampouco há surpresa com a constatação de quais setores da sociedade civil estão alinhados com o bolsonarismo. A candidatura de Lula, embora expressiva e resiliente, conforme demonstram as pesquisas que apontam para o seu crescimento progressivo, carece ainda de um nome que lhe dê sustentação não apenas agora, como também no futuro. Como Lula disse outro dia em um podcast, “vencer é importante, mas governar também é”. Na recente democracia brasileira, as alianças ingratas fazem parte do jogo político, e parece que é este o passo (do PT) que falta para definir a eleição que está por vir.
A verdade é que seria um gesto imenso (além fundamental e importante para a nossa sociedade) do PT incluir uma mulher como vice de Lula para 2022, principalmente tendo em vista que o golpe contra ex-presidente Dilma Rousseff foi essencialmente misógino e machista. O nome da empresária Luiza Trajano chegou a ser cogitado. Enquanto Alckmin não se decide, cresce dentro do MDB, com o aval de Michel Temer e do presidente nacional da sigla, o deputado Baleia Rossi, uma movimentação para que a Senadora Simone Tebet seja vice de Lula. Seria um recado importante, mas em uma sociedade marcada pelo patriarcado nos partidos políticos, sobretudo em Brasília, não é uma surpresa observar a rejeição desta aliança.
Embora seja verdade que petista é franco favorito para o pleito, a delicadeza da política nacional impõe alguma temeridade. Enquanto Bolsonaro desaba nas pesquisas de intenção de voto, Sergio Moro sobe impulsionado pela benção da grande imprensa. Seus erros acerca da Lava Jato, inclusive o julgamento vergonhoso sobre o caso do suposto tríplex de Lula, não são tratados com devida seriedade pela mídia. O ex-juiz se apresenta como um salvador outsider, e a imprensa vergonhosamente abraça este personagem, ainda que Moro tenha feito parte do pior governo da história, do genocídio bolsonarista, do aparelhamento escancarado da Justiça e da PF. Tudo por interesse próprio.
Como disse Donald Trump certa feita durante a campanha contra Biden, Moro também poderia atirar em alguém em plena avenida Paulista (Trump citou a 5ª Avenida, em NY) que iriam inocentá-lo de algum jeito ou arrumar um bode expiatório. Se hoje ele está em terceiro lugar nas pesquisas, é razoável imaginar que até o julho do ano que vem ele tenha passado Jair Bolsonaro, tornando-se o grande nome da direita para a eleição. Neste cenário, é preciso perguntar para Geraldo Alckmin o que ele faria? Apoiaria Lula? Talvez seja exatamente isso o que ex-governador de São Paulo espera para tomar a sua decisão: como será o futuro de Moro até meados do ano que vem?
O campo progressista, neste sentido, também precisa estar atento para ter uma bala de prata caso Geraldo Alckmin não esteja com o Lula. O exemplo da eleição chilena é bom parâmetro para oposição ao governo Bolsonaro, dado que foram para o segundo turno o candidato da extrema-direita, José Antonio Kast, com 27,93%, e o da esquerda, Gabriel Boric, com 25,76%. Por lá, o centro também será decisivo para apontar o novo presidente.Gabriel Boric, inclusive, trabalha em cima disso. Durante o primeiro turno, ele disse que pretende criar um imposto sobre as grandes fortunas do país, cobrar das grandes mineradoras um royalty da mineração e introduzir novos tributos, medidas que aumentariam a arrecadação para financiar sua agenda social.
Ciente, contudo, de que setores importantes da sociedade chilena fariam sua rejeição aumentar a partir do lobby contra essas propostas, no segundo turno ele “recuou”. Boric arregimentou importantes economistas de centro para assessorar no seu programa – Andrea Repetto e Eduardo Engel. Na última semana, ele voltou a acenar para o centro chileno ao comentar as eleições na Nicarágua: “Em nosso governo, o compromisso com a democracia e os direitos humanos será total. A Nicarágua precisa de democracia, não de eleições fraudulentas ou perseguição de oponentes”. As sutilezas da política latino-americana não permitem candidatos dos sonhos, mas candidatos possíveis, comprometidos com valores progressistas, como a redução da desigualdade, a geração de emprego, a democracia, a educação e a saúde públicas e gratuitas, e a preservação do meio ambiente. Na política não existem mitos “armados” ou “heróis justiceiros”.
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