Não é apenas uma efeméride, o Dia da Amazônia é uma convocação pública

 

 

Em 5 de setembro é comemorado o dia a maior floresta tropical do planeta: a Amazônia, um dos patrimônios naturais mais valiosos de toda a humanidade, com sete milhões de quilômetros quadrados, sendo cinco milhões e meio de florestas. O bioma é fundamental para o equilíbrio ambiental e climático do planeta, mas está no epicentro de um projeto de privatização e desmonte do aparato estatal que lhe garante a preservação do habitat de inúmeras espécies animais, vegetais e arbóreas, além de matérias-primas alimentares, florestais, medicinais e minerais. 

Poucos governos conseguiram, de fato, frear as ambições do agronegócio brasileiro ante ao desmatamento amazônico, principalmente em função das possibilidades economicamente favoráveis para o PIB e a balança comercial. Porém, é notório que, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o agronegócio tenha expandido sua influência política, principalmente após a eleição de Jair Bolsonaro, que sem nenhum pudor, prometeu ao longo de sua campanha mais terras para o setor, e menos para os indígenas e preservação. 

Não obstante, foi possível observar o expressivo aumento de parlamentares ligados à “bancada do boi” – como é chamada a base de parlamentares ligados ao agronegócio -, sobretudo após a eleição de Bolsonaro. Desde então, a Amazônia tem sido constantemente ameaçada por inúmeras atividades predatórias, entre elas a extração de madeira, a mineração, as obras de infraestrutura, e a conversão da floresta em áreas para pasto e agricultura. 

Alguns números traduzem o tamanho da crise: em 2020, o desmatamento na floresta amazônica chegou a 11.088 km², o maior em 12 anos; Em março deste ano, a Amazônia Legal teve 810 km² de seu território desmatado, de acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Estudos revelam que houve aumento de 216% de desmatamento em relação ao mesmo mês no ano passado, quando o desmatamento somou 256 km², e a área desmatada representa o maior valor da série histórica dos últimos 10 anos referente ao mês de março.

O que está acontecendo na floresta amazônica brasileira, desde 2016, é uma tragédia humanitária sem precedentes que conta com a vista grossa das autoridades federais, inclusive do Exército Brasileiro, que atualmente, em missão comandada por Hamilton Mourão, vice-presidente da República, monitora a região. O resultado da catástrofe na floresta mais importante do mundo não passa despercebido, por outro lado, pelas grandes potências internacionais, seja por interesses imperialistas; possibilidades de marketing, a exemplo das atitudes do presidente francês Emmanuel Macron; ou mesmo aqueles líderes que simplesmente prezam por um planeta sustentável.

O Brasil, como país, como sociedade, como política de Estado, precisa compreender a importância da Amazônia como território soberano e protegido. Para além dos ganhos científicos, para além das possibilidades medicinais que a floresta ainda esconde, para além do turismo e do discurso neoliberal privatista, é preciso parar o desmatamento na floresta. O brasileiro muitas vezes carece de compreensão a respeito de sua importância para o planeta. Somos 210 milhões de habitantes, a 12ª economia no mundo, o principal país da América Latina e, principalmente, o dono 60% do mais importante bioma do planeta.

O Dia da Amazônia é uma responsabilidade nossa para com o mundo. Passou do momento de reconhecermos o tamanho de nossa importância para a humanidade. “A nossa luta é pela defesa da seringueira, da castanheira; e essa luta nós vamos levar até o fim, porque não vamos permitir que as nossas florestas sejam destruídas”, Chico Mendes, assassinado por grileiros em Xapuri, no Acre, em 1988.