25 de agosto de 2021

Opinião da Semana

Imprensa ADUR-RJ

 

O presidente Bolsonaro em manifestação antidemocrática, ainda em 2020. Imagem: Reprodução Folha PE.

 

É difícil afirmar com precisão se Jair Bolsonaro dará um golpe ante todas as evidências de que será derrotado nas urnas em 2022. A prévia do roteiro divide os críticos. Há quem sustente que, pelo andar da carruagem, o Brasil não termina o ano seguinte em uma democracia. Os céticos acreditam que os militares não embarcarão em uma tentativa de ruptura institucional, apesar das intenções do presidente. Há, contudo, um consenso entre os grupos: Bolsonaro tentará o golpe.

Apesar do considerável número de pessoas que acreditam que nenhuma das duas opções pode acontecer, e que, portanto, a eleição do ano que vem transcorreria sem problemas, é preciso estarmos atentos aos sinais de Brasília. Na última semana, o cantor Sérgio Reis passou a ser investigado pela Polícia Federal e foi alvo de uma operação em sua residência. Ele convocou protestos em Brasília para promover o fechamento de estradas e sitiar a cidade, com invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) e derrubada de ministros.

Com um de seus aliados “ameaçado” e diante de uma oportunidade para condenar o STF, Bolsonaro correu para a sua base de eleitores que infestam as redes sociais, e o caso do cantor ganhou um clamor popular, principalmente com relação ao debate sobre a liberdade de expressão. Aproveitando-se da jogada política, o presidente protocolou um impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Sobre este episódio, foi noticiado posteriormente que atitude não foi discutida sequer entre aliados, e pegou de surpresa o presidente do Senado, que rapidamente comunicou que arquivaria a proposta.

Como era de esperar, Bolsonaro dobrou a aposta. Como de costume, publicou vídeos nas redes sociais dizendo ser um outsider na política, e que o “sistema não o deixa trabalhar”, tecendo duras críticas aos ministros do Supremo. Não é uma estratégia nova no Bolsonarismo a jogada política de culpar “todos os outros” pelos seus recorrentes fracassos. Nesta semana em especial, ele precisou fazê-lo porque convocou manifestações anti-democráticas para o próximo dia 7 de setembro. Nos últimos dias, apelou mais e confirmou sua presença nos atos.

Os jornalistas Lauro Jardim e Fernando Gabeira disseram em coluna no jornal O Globo, no dia 23 de agosto, que o presidente “convocou a militância para tomar as ruas no feriado e protestar contra o que ele chamou de falta de liberdade”. Eles também sustentam que a manifestação de 7 de setembro será “a mais golpista de todas até aqui”. Em sua última live semanal, em mais um episódio de apoio aos atos do dia 7, Bolsonaro voltou a afirmar que as urnas não são seguras, e que a eleição “corre riscos”. Ele também criticou os ministros da Corte com relação ao processo do ex-presidente Lula, inflamando sua base contra o sistema judiciário.

Em entrevista a Revista Veja no último dia 24, o vice Hamilton Mourão disse que está “preocupado” com os recentes acontecimentos, e teme pelo o que pode acontecer no feriado da Independência. A possibilidade de confrontos em Brasília, nas intermediações do STF, levou os ministros a tomarem atitudes para sua segurança. O prédio foi reforçado. O temor que paira no ar cresce diariamente, impulsionado por novas informações e crises, como a recente declaração da Associação dos Militares Estaduais do Brasil.

A carta publicada diz que, em caso de ruptura institucional, as polícias militares automaticamente vão seguir o Exército. O texto também destaca que as PMs não serão empregadas de forma disfuncional por nenhum governador. A publicação aconteceu após um comandante da PM paulista ter sido afastado pelo governador João Dória por convocar manifestações a favor de Jair Bolsonaro.

Diante dos fatos, a imprensa já trabalha com a possibilidade de um motim generalizado no feriado da Independência avançando contra o STF. O site Poder360 descreveu a movimentação de grupos de WhatsApp de agentes de São Paulo e do Rio de Janeiro e afirmou que praças e oficiais das ativa e da reserva falam em “exigir” o poder, lutar contra o comunismo e exigir a retirada dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de seus cargos. Em um dos grupos, policiais combinaram de comparecer à manifestação da avenida Paulista usando as boinas da corporação.

É real o temor de que o Brasil viva um episódio similar à invasão do Capitólio nos Estados Unidos, quando seguidores de Trump, incitados pelo discurso de suposta fraude eleitoral feito por ele após a derrota para Joe Biden, invadiram a sede do Congresso americano. Não se sabe se acontecerá neste 7 de setembro, no dia em que Jair Bolsonaro for derrotado nas urnas, ou nunca. A Polícia Federal conduz investigações, inclusive contra Steve Bannon, o magnata que sustenta o fascismo pelo mundo. O Judiciário também conduz inquéritos para averiguar crimes contra democracia. Mas não se sabe até agora quem apoiará o delírio bolsonarista de poder.