É primavera na América Latina
Reportagem da Semana
11 de junho de 2021
Imprensa ADUR-RJ
Por João Pedro Werneck e Pollyana Lopes
O mundo acompanhou aterrorizado a recente ascensão da extrema-direita em grande parte do Ocidente nos últimos anos. O movimento foi impulsionado no continente europeu, em especial pelo Brexit, em razão da crise migratória e de trabalho no Reino Unido e outros países da região, que também elegeram representantes identificados com bandeiras xenófobas.
A onda conservadora, pouco tempo depois, invadiu o principal país da América, os EUA, e Donald Trump foi eleito (em 2016), abrindo caminho para um longo inverno que chegaria à América Latina nos anos seguintes. Macri, Piñera, Bolsonaro e Obrador, para citar alguns, são exemplos de candidaturas latinas que foram alavancadas no esteio de um amplo movimento conservador.
Como não existem crises migratórias na América Latina (salvo raras exceções), outros inimigos foram criados para serem combatidos, como o suposto comunismo, ou mesmo uma doutrinação com os estudantes universitários.
Nas particularidades da América Latina, os conservadores ainda teceram alianças com o neoliberalismo, criando uma ampla aliança da extrema-direita contra o trabalhador, o Estado e os servidores públicos. Porém, como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança; e depois de todo inverno, chega a primavera. Joe Biden, considerado de centro-direita, tomou posse como presidente dos EUA em 2021.
Uns anos antes, na Argentina, Alberto Fernández foi eleito ao lado de Cristina Kirchner. No Chile, uma nova Constituição será elaborada, sendo que é certo que seu compromisso é formar uma sociedade mais progressista, e, portanto, menos desigual. Na Bolívia, passado o golpe, Luis Arce tomou posse, sendo mais um presidente de esquerda que voltou ao poder.
O Brasil, por sua vez, aguarda ansioso para dar uma resposta ao governo de Jair Bolsonaro nas urnas, a exemplo do que indicam as pesquisas de rejeição do presidente. Porquanto a primavera política na América Latina começa a desabrochar suas flores, o Peru é o novo centro das atenções. Uma pesquisa de boca de urna divulgada no último domingo (6) havia indicado uma vitória apertada de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori, com 50,3% dos votos válidos.
Importante destacar o caráter autoritário do governo de Alberto Fujimori que, depois de eleito presidente em 1992, deu um autogolpe, colocando o exército na rua, fechando o Congresso e a Suprema Corte. O governo do ditador Fujimori foi acusado de inúmeras violações de direitos, algumas das mais graves foram massacres de supostos guerrilheiros e a esterilização forçada de 200 mil mulheres, a maioria de origem indígena.
No Peru, mais uma vitória do campo progressista
Porém, o candidato de esquerda no país, Pedro Castillo, ultrapassou a sua oponente e venceu a apuração da eleição presidencial por uma vantagem pequena, de quase 72 mil votos. Entre as promessas do progressista, Castillo quer redigir uma nova Constituição para dar ao Estado mais controle sobre a economia.
Apesar de Keiko Fujimori ter pedido recontagem e alegar fraude (o que se tornou sintomático em setores da direita), suas chances de reverter o pleito são mínimas. Observadores e autoridades eleitorais peruanas atestam a lisura da eleição. Fujimori enfrenta também acusações na Justiça, e vem descumprindo as regras impostas em 2020, quando foi solta sob liberdade condicional, ao se comunicar com testemunhas do processo em que é acusada de receber financiamentos ilícitos de campanha.

Keiko Fujimori sendo conduzida por policiais em Lima em 10 de outubro de 2018 Foto: JUAN CARLOS VIVAS / AFP
Sobre este processo, a imprensa brasileira tem manifestado demasiada obsessão. Justifica-se: Fujimori foi alvo da Lava Jato peruana, um braço da operação iniciada no Brasil, e parte da cruzada do Departamento de Justiça dos EUA contra a América Latina. Em razão do forte apelo midiático que paira sob a figura de Sergio Moro, a imprensa brasileira trata das eleições no Peru como mais uma vitória da Lava Jato e da moralidade política ante à corrupção. O pleito, porém, e sobretudo a vitória progressista, são justificados por fatores que vão além da atuação de um promotor e um juiz.
Pedro Castillo era um personagem quase desconhecido no Peru. Professor do ensino fundamental e sindicalista. Passou a correr o país e surgiu como o “candidato do interior” na corrida presidencial. A estreita diferença com que Castillho superou a oponente não é novidade na política peruana. Nos dois pleitos anteriores, o país também se dividiu ao meio. Ollanta Humalla venceu por 51,44% a 48,55% dos votos válidos, em 2011, e com Pedro Paulo Kuczynski, a diferença foi ainda menor, 50,12% a 49,87. Agora, o placar marcou 50,21% a 49,79%.

Professor do ensino fundamental e sindicalista, a campanha de Pedro Castillo utilizou um lápis como símbolo. Foto: Agência Reuters
Castillo entrou na disputa como coadjuvante inesperado e roubou a cena principal. A perda de credibilidade de lideranças tradicionais acabou lhe abrindo espaço entre outros 17 candidatos no primeiro turno da disputa presidencial. Obteve surpreendentes 18,9% dos votos, contra 13,4% de sua oponente, Keiko Fujimori. Seu programa é muito próximo das formulações da socialdemocracia europeia clássica, dos anos 1950-60. Entre outras coisas, propõe recolocar o Estado no centro da atividade econômica, para que este assuma suas características de “controlador, planejador, empresário, protetor, inovador e regulador do mercado”.
É preciso acompanhar com atenção a formação do novo governo e seus primeiros passos, assim como a situação que parece se desenhar na América Latina. São os novos ventos, a nova onda de centro-esquerda. A primavera chegou.
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