#8M: Mulheres em espaços de poder: avanços e limitações
Reportagem da Semana
12 de março de 2021
Imprensa ADUR-RJ
O Dia Internacional da Mulher tem origem na Rússia, sendo considerado um dos marcos iniciais para a Revolução Russa. A data é historicamente associada às reivindicações de mulheres operárias por melhores condições de trabalho e de vida, fim das longas jornadas de trabalho e baixos salários, além de direitos políticos, sociais e econômicos. A data é comemorada desde o início do século XX, mas foi somente na década de 70 que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 8 de março como data oficial, como uma maneira de combater desigualdades e a discriminação de gênero.
O debate sobre estes temas têm avançado, porém, os índices de violência contra a mulher e os dados sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho reforçam o quanto ainda é preciso caminhar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. E, para que isto aconteça, a participação das mulheres comprometidas com esta pauta em espaços de poder, especialmente espaços políticos, é essencial.
Desigualdade de gênero
A desigualdade no mercado de trabalho ainda é enorme no comparativo entre homens e mulheres. Mesmo com a instituição de direitos trabalhistas como a licença-maternidade, as mulheres ainda são prejudicadas em suas carreiras quando ficam grávidas, por exemplo. Segundo uma pesquisa realizada pela Catho em 2018, cerca de 30% das mulheres deixam o mercado de trabalho para cuidar dos filhos. Entre os homens, essa proporção é quatro vezes menor, de 7%.
No caso das mulheres que já são mães, o agravante é ainda maior: 48% apontam que já tiveram problemas no trabalho por ter que se ausentar por conta de problemas com os filhos. Uma pesquisa da Vagas.com, divulgada pelo veículo G1 em 2019, apontava que 52% das mães que trabalham dizem ter passado por constrangimentos no ambiente de trabalho durante a gravidez ou no retorno da licença-maternidade.
Violência
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o 5º país, em um ranking de 84 nações no mundo que mais matam mulheres de forma violenta. De acordo com dados de um levantamento de 2018 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1206 mulheres foram assassinadas naquele ano, um aumento de 11% em relação ao ano anterior. Entre 9 em cada 10 casos, o assassino era companheiro ou ex-companheiro da vítima.
No Brasil, 3 mulheres são vítimas de feminicídio por dia. Segundo o Mapa da Violência, as maiores vítimas do feminicídio são mulheres negras e jovens, entre 18 e 30 anos. Dados do levantamento Um Vírus e Duas Guerras, realizado por veículos de jornalismo independente, revelam que durante os meses de março e agosto de 2020, houve um feminicídio a cada nove horas no país.
A Lei n. 11.340/2006, a chamada Lei Maria da Penha, é o principal marco jurídico na luta pelo fim da violência contra as mulheres no Brasil. A lei criminaliza casos de violência doméstica verbal, física ou psicológica, e determina que quando uma mulher está em situação de risco de violência, o Estado deve garantir sua segurança e proteção.
A presença de mulheres na política
No Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto em 1932 – ano da instituição do Código Eleitoral que retirou as primeiras restrições para a participação política feminina. Porém, a luta das mulheres brasileiras pelo voto e pelo direito de se candidatar a cargos políticos data de antes de 1932: ainda na primeira década do século XX foi fundado o primeiro partido político feminista do Brasil, o Partido Republicano Feminino, como uma pressão para a institucionalização do voto das mulheres, por exemplo.
No entanto, o direito ao voto está longe de ser suficiente para a construção de uma sociedade livre das violências de gênero. A partir do momento em que as mulheres passaram a ser consideradas cidadãs, a luta continuou em busca da conquista de direitos e, para viabilizar estes direitos, é essencial a garantia da participação política das mulheres.
Mesmo com a visibilidade e a atuação dos movimentos feministas, a ausência de mulheres em cargos de decisão política em espaços institucionais e não institucionais é marcante e, quando acontece, carrega uma série de violências simbólicas.
A professora do Departamento de Letras e Comunicação da UFRRJ, Maria do Rosário Roxo, atualmente também exerce o cargo de Diretora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais e conta um pouco sobre como é ocupar esse lugar. “Eu sou linguista, trabalho com discurso, e eu trabalho com uma questão que dou muita importância que são as nossas subjetividades em construção. Eu percebo muito o quanto a nossa subjetividade feminina, enquanto diretora, está sempre afetada por discursos de discriminação. A gente lida com a subjetividade de ser muito competente, com a subjetividade de às vezes esquecer dos amigos, da casa, família, a gente lida com subjetividades e discursos que nos discriminam porque a gente parou de escrever artigo científico, porque a gente não sei o que, não sei o que lá. Então, vem uma série de questões na nossa cabeça que fazem parte de estar em um lugar de poder”.
A professora do Departamento de Ciências Sociais da UFRRJ, Marina Cordeiro, estudiosa das questões de gênero e desigualdade e 1ª Secretária da ADUR-RJ, explica que a representação de mulheres em espaços de poder não significam, necessariamente, uma diminuição de práticas políticas não-machistas e de caráter hostil para as mulheres. “As mulheres, por serem mulheres, possuem interesses idênticos? Não é porque as mulheres se candidataram que elas estão comprometidas com a questão feminina ou feminista, que são coisas muito diferentes. Muito menos com a mitigação da reprodução das desigualdades interseccionais. As práticas não violentas politicamente precisam ser debatidas porque eu não acredito que basta ser mulher. Eu acho que a discussão precisa ir muito mais a fundo em relação a esses elementos”.
Ela explica que a discussão sobre violência política é recente na literatura e que o Brasil, por exemplo, não possui uma legislação que defina o que é violência política. Há estudos que correlacionam a violência política ao estupro, na medida em que o estupro é um processo consciente de intimidação no qual os homens mantém as mulheres em constante sensação de medo. “O medo [que as mulheres carregam] de participar de uma mesa, de conduzir uma mesa, de assumir um posto de gestão, por exemplo, é um medo que tem a ver com uma violência política que tem as suas raízes no sistema patriarcal, que é um sistema, e que portanto é dinâmico, e não é estático”.
Nídia Majerowicz é professora do Departamento de Ciências Fisiológicas e conta que começou a atuar em espaços políticos mais institucionais a partir da experiência da ADUR. “A partir da minha entrada na universidade como professora, em 1985, eu comecei a participar das assembleias da ADUR e ali, na participação da ADUR, nos Congressos do ANDES, nós tivemos uma possibilidade de crescimento olhando e vivenciando. E a partir de um determinado momento, eu fui entrando na Diretoria da ADUR, entrei como vice-presidente e acabei sendo a primeira presidente da ADUR”.
Além do Sindicato, a professora também atuou na gestão da universidade, exercendo os cargos de Pró-reitora de Graduação por duas gestões, Pró-reitora de Assuntos Financeiros, atualmente é coordenadora do curso de Ciências Biológicas e foi eleita novamente Pró-reitora de Graduação para a próxima gestão da UFRRJ. Ela conta que o momento de sua trajetória em que ela mais sofreu com a misoginia foi enquanto estava à frente da Pró-reitoria de Assuntos Financeiros, justamente em um espaço marcadamente masculino. “Por conta dos compromissos políticos e sociais e visão de mundo que eu tenho, eu enfrentei determinadas coisas do poder masculino e sofri imensamente com a misoginia, com a desqualificação por isso. Algo numa intensidade brutal que eu tenho certeza que, se fosse um homem atuando da mesma forma que eu, não teria tido essa mesma forma de violência política, esse assédio”.
As falas das professoras nesta matéria foram proferidas durante o debate “Mulheres em Postos de Poder: Desafios e Questões”, que ocorreu no canal da ADUR-RJ no YouTube e pode ter sido um dos motivos pelo qual o canal sofreu uma grave censura caráter misógino e fascista. No dia 10 de março o canal foi suspenso. O erro foi reconhecido e corrigido no dia seguinte pela equipe Google e o canal foi restabelecido. Mesmo com esta ação, toda a sequência de depoimentos e publicações sobre o #8M, permanece disponível nas redes sociais e no site da ADUR-RJ.
Além do debate, ao longo da semana do dia 8 de março, com objetivo de reforçar a importância histórica e política da data, a ADUR-RJ produziu uma série de publicações com depoimentos de mulheres importantes e atuantes no Sindicato e na luta política.
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