Trabalho não remunerado realizado por mulheres representa US$ 10,8 tri por ano no mundo
Um avanço desenfreado da desigualdade econômica e social, que se sustenta na super exploração do trabalho não remunerado de mulheres e meninas. É o que aponta o último relatório desenvolvido pela organização não-governamental britânica Oxfam. De acordo com o estudo, em 2019 os bilionários do mundo, que somam apenas 2.153 indivíduos, detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas – 60% da população mundial.
O levantamento “Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade” denuncia que mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas por dia ao trabalho de cuidado não remunerado. Isso compreende as atividades diárias de cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, buscar água e lenha são essenciais para o bem-estar de sociedades, comunidades e para o funcionamento da economia.
Segundo a Oxfam, o valor monetário global trabalho do cuidado não remunerado representa US$ 10,8 trilhões por ano à economia global. A soma é mais de três vezes maior que o estimado para toda indústria de tecnologia do mundo.
Ainda conforme o levantamento, os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África. E, se o 1% mais rico do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre sua riqueza, nos próximos 10 anos seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e de cuidado para idosos.
“Esse grande fosso baseia-se em um sistema econômico sexista e falho, que valoriza mais a riqueza de um grupo de poucos privilegiados, na sua maioria homens, do que bilhões de horas dedicadas ao trabalho mais essencial – o do cuidado não remunerado e mal pago, prestado principalmente por mulheres e meninas em todo o mundo. A pesada e desigual responsabilidade por esse trabalho de cuidado perpetua as desigualdades de gênero e econômica”, avalia a ONG no documento.
Desigualdade no Brasil
Em relação ao Brasil, o estudo aponta que 90% do trabalho de cuidado no país são realizados, informalmente, pelas famílias – e desses 90%, quase 85% é feito por mulheres.
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas 30% dos municípios brasileiros (cerca de 1.500) contam com instituições de assistência a idosos – a maior parte está localizada na região Sudeste do país.
O relatório estima ainda que, em 2050, o Brasil terá cerca de 77 milhões de pessoas dependentes de cuidado (pouco mais de um terço da população estimada) entre idosos e crianças, segundo dados do IBGE.
A Oxfam aponta também a diferença salarial entre mulheres e homens no país e ainda entre as mulheres com carteira assinada e as contratadas de maneira informal. Em média, uma mulher no emprego doméstico no Brasil ganha 78,44% do rendimento de homens que exercem as mesmas funções.
Modelo sexista
A Oxfam mostra ainda que, em todo o mundo, os homens detêm 50% a mais de riqueza que as mulheres. E estão em maior número nos espaços de poder decisórios político e econômico. Apenas 18% de todos os ministérios e 24% dos cargos parlamentares no mundo são ocupados por mulheres. A ONG estima também que as mulheres estejam em apenas 34% de todos os cargos de direção em países que disponibilizam a informação.
“Atualmente, a extrema riqueza também é baseada no sexismo. Nosso sistema econômico foi construído por homens ricos e poderosos, que continuam a ditar as regras e a ficar com a maior parte dos benefícios”, alerta.
A organização recomenda que os governos, ao redor do globo, devem atuar para construir economia humana que seja feminista e que valorize o que realmente importa para a sociedade, em vez de promover uma busca interminável pelo lucro e pela riqueza. “Investir em sistemas nacionais de cuidado para equacionar a questão da responsabilidade desproporcional assumida pelo trabalho de mulheres e meninas, adotar um sistema de tributação progressiva, com taxas sobre riquezas, e legislar em favor de quem cuida, são passos possíveis e cruciais a serem dados para uma mudança”, orienta.
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