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O protagonismo das mulheres nos Jogos Olímpicos: a luta por igualdade de gênero e pelo fim da sexualização dos corpos femininos

Reportagem da Semana

30 de julho de 2021

Imprensa ADUR-RJ

Por Larissa Guedes

 

A equipe de ginastas da Alemanha que se apresentou com vestimentas longas em protesto pelo fim da sexualização feminina no esporte. Da esquerda para a direita: Sarah Voss, Paulina Schäfer, Elisabeth Seitz e Kim Bui. Imagem: Reprodução site Hypeness.

 

A edição dos Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio, adiada para 2021 por conta da pandemia de COVID-19, tem sido marcada por manifestações de cunho político e social. Neste ano, uma das mobilizações mais repercutidas até o momento foi a das atletas mulheres da ginástica olímpica que se manifestaram contra a sexualização de seus corpos por conta dos uniformes tradicionalmente usados no esporte.

 

No dia 25 de julho, a apresentação das ginastas da Alemanha nas Olimpíadas colocou a questão em pauta com a escolha das atletas de troca da vestimenta tradicional, mais curta, por um modelo que cobria as pernas por inteiro. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) já regulamenta o uso de uniformes compridos para atletas que o fazem por razões religiosas, mas no caso das ginastas alemães, a escolha foi motivada por uma mobilização em tom de denúncia contra a sexualização no esporte e contra os casos de assédio e abusos sexuais. 

 

O movimento #itsmychoice – traduzido como “é minha escolha”, para o português – teve início ainda antes dos Jogos, liderado pela ginasta alemã, Sarah Voss. No Campeonato Europeu de Ginástica 2021, Voss encabeçou a mobilização contra a sexualização dos corpos de mulheres, pelo direito de escolha do uniforme que as atletas desejassem utilizar nas apresentações artísticas, visando principalmente o conforto com as roupas. Em uma declaração pública, a atleta afirmou que espera que o exemplo dela e das companheiras de equipe sirva para atletas mais jovens se encorajarem a se defenderem e a terem o direito de escolher o que querem vestir.

 

Também no início de 2021, aconteceu a mobilização das jogadoras de handebol de praia da Noruega durante o campeonato europeu do esporte, que se recusaram a usar o biquíni, então uniforme tradicional, para utilizar um short mais comprido. A Federação Europeia de Handebol (EFH) multou a equipe em 1500 euros  – cerca de 9 mil reais  – por considerar a vestimenta como “imprópria”, entendendo a decisão como uma infração ao código estabelecido para o torneio. A Federação de Handebol da Noruega (NHF) se manifestou em defesa das atletas, afirmando que pagaria a multa e também a cantora norte-americana Pink se disponibilizou a pagar o valor, criticando duramente a entidade e denunciando o sexismo presente na decisão.

 

Após a repercussão com a mobilização das atletas, a Federação Internacional de Handebol comunicou que vai debater sobre a possibilidade de alterações no regulamento dos uniformes no esporte. Um dos pontos levantados na discussão sobre a sexualização dos corpos femininos é sobre como essa pauta está presente na vida das atletas mulheres por conta das imposições estéticas e sexistas dos modelos de uniformes. Um dos argumentos citados é que, por exemplo, enquanto as mulheres são obrigadas a usar biquínis, no caso dos uniformes dos atletas masculinos do mesmo campeonato europeu, os shorts tinham o comprimento de 10 centímetros.

 

Para a professora do Departamento de Educação Física e Desportos da UFRRJ (DEFD/IE), Valéria Nascimento Lebeis Pires, esse movimento das atletas é um exemplo que pode impactar a vida das futuras gerações de jovens mulheres no esporte. “As possibilidades de realização e conquista com a força da mulher, respeitando e acreditando na ação coletiva junto às mudanças de comportamentos, ajustes ou alterações nas leis e regras que precisam ser tocadas para minimizarmos a falta de respeito e a sexualização dos corpos femininos no esporte no mundo”, pondera a docente.

 

A professora da UFRRJ, Valéria Nascimento Lebeis Pires e sua orientanda, a discente Izabela Mendonça Moreira Barcellos. (Imagens: Arquivo pessoal).

 

A discente de Educação Física da UFRRJ, Izabela Mendonça Moreira Barcellos, orientanda da professora Valéria, que pesquisa sobre a visibilidade das mulheres nos esportes, enxerga que a mobilização das atletas representa o anseio por respeito e valorização das suas habilidades esportivas. “A sexualização dos corpos femininos no esporte desrespeita, e mais uma vez inferioriza as mulheres, ao focar em seus corpos como elemento principal, e não em suas habilidades. Os veículos disseminadores dessas práticas inescrupulosas fomentam a desvalorização do feminino, das suas habilidades, e da sua luta. Essa prática propaga a ideia que as mulheres não possuem habilidades, e sim, são apenas corpos com roupas sexualizadas”, pontua Izabela.

 

O histórico de desigualdade de gênero e as conquistas das mulheres

 

Na imagem, Charlotte Cooper, tenista britânica e primeira mulher a se tornar uma campeã olímpica da história, nos Jogos de 1900, em Paris. Imagem: Reprodução site Olimpíada Todo Dia.

 

A participação de mulheres nos Jogos de Tóquio já é um marco histórico para as Olimpíadas: pela primeira vez, o Comitê Olímpico Internacional (COI) informou que dos quase 11 mil atletas participantes do evento, cerca de 49% são mulheres. Em comparação, na primeira edição dos Jogos, em 1896, nenhuma mulher participou. Nas Olimpíadas de Paris, em 1900, primeira vez que mulheres foram autorizadas a participar dos Jogos mesmo com muitas limitações de modalidades, elas compunham menos de 3% do total de atletas daquela edição.

 

Segundo a professora Valéria Nascimento, a desigualdade de gênero é historicamente e culturalmente marcada pelos estigmas e estereótipos associados ao corpo e ao movimento  nas relações sociais e profissionais. “Na nossa área, especificamente, essas relações, de certa forma, impõem enquadramentos  às práticas corporais limitadas as prerrogativas entre a sensibilidade e a força, sendo a mulher vinculada a fragilidade e a sensualidade. A desigualdade é fato, existe e há muito a transformar e reconstruir, mas penso que a potencialidade do desenvolvimento da mulher está menos afetada atualmente ao considerarmos as vozes que nos representam na história, na política, na educação,  no esporte, na ciência, dentro e fora de casa e em lugares que antes, jamais ocupávamos”, explica a docente.

 

Da esquerda para a direita: a skatista Rayssa Leal, a jogadora de futebol Formiga, a judoca Mayra Aguiar e a ginasta Rebeca Andrade. (Imagens: Reprodução Revista Exame,Revista Época, Globo Esporte e Coluna do Fla).

 

Nos Jogos Olímpicos de 2021, na delegação brasileira, as mulheres são um grande destaque: o Brasil teve a atleta mais jovem a participar das Olimpíadas, a skatista Rayssa Leal, de apenas 13 anos, que também se tornou a primeira e mais nova pessoa brasileira a ganhar uma medalha pelo país. No dia 26 de julho, Rayssa levou uma medalha de prata na categoria street do skate, modalidade recém incluída como parte do torneio. 

 

Dentre as atletas brasileiras, a mais velha é a jogadora Miraildes Maciel Mota, conhecida como Formiga, da seleção de futebol feminino. Ela é a única brasileira a ter participado de sete edições das Olimpíadas. 

 

No dia 28 de julho, a atleta Mayra Aguiar também fez história ao ganhar a medalha de bronze na categoria até 78 kg do judô, se tornando a primeira brasileira a ganhar três medalhas em um esporte individual em Olimpíadas. No mesmo dia, a ginasta brasileira Rebeca Andrade também brilhou ao conseguir sua medalha de prata, a primeira da história da ginástica artística feminina do Brasil na prova individual geral, que contempla as apresentações em solo, salto, trave e barras assimétricas. 

 

A discente Izabela Mendonça, orientanda da professora Valéria, explica porque a participação das mulheres nos esportes é um potencializador contra desigualdade de gênero. “A desigualdade de gênero na minha área profissional afeta abruptamente o desenvolvimento das mulheres, visto que, quando não se estabelece equidade entre os gêneros, e o gênero masculino é o detentor das oportunidades, da potencialização, do desenvolvimento, resta às mulheres o papel secundário, o de sempre estar atrás, de rasas oportunidades, isentas de respeito, em suma, sem caminhos que serão potencializadores de suas capacidades”, afirma ela.

 

A ginasta norte-americana Simone Biles. (Imagem: Reprodução Jornal O Dia).

 

 

Outro ponto importante que as mulheres protagonizam nos Jogos de Tóquio é o debate sobre saúde mental. A questão foi trazida para o holofote pela ginasta artística norte-americana Simone Biles, de 24 anos, que desistiu de disputar a final individual do campeonato para priorizar o cuidado com o seu bem-estar emocional. Em entrevista coletiva, Biles declarou que não estava feliz e que precisava se concentrar em sua saúde para além da ginástica. “Infelizmente aconteceu nesse palco. Esses Jogos Olímpicos têm sido muito estressantes? Uma longa semana, um longo ciclo olímpico e um longo ano. Eu acho que estamos todos muito estressados. Nós deveríamos estar nos divertindo e esse não é o caso”, a atleta argumentou. 

 

A professora Valéria acredita que o momento excepcional-histórico, de realização das Olimpíadas durante a pandemia de COVID-19, denota ainda mais a necessidade de cuidar e valorizar a vida e a saúde. “O esporte, nesse momento, vem resgatar a esperança, principalmente por meio desse protagonismo de nossas atletas, meninas e mulheres, corajosas que denunciam e se posicionam em favor do respeito e da autonomia para além do esporte. Não há dúvidas que esse é um dos feitos históricos de conquistas das mulheres no esporte. Nossas atletas, fonte de inspiração para mudanças que estão nos trazendo medalhas com significados para vida”, conclui a docente. 

 


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