(21) 2682-1379 Fale Conosco
[wpdreams_ajaxsearchlite]

O legado da Lava-Jato: criminalização da política, crise econômica e esvaziamento do discurso anticorrupção

Reportagem da Semana 

18.02.2021

 

Depois de 7 anos de uma atuação marcada por excessos jurídicos, políticos e sociais e métodos bastante controversos, a Operação Lava-Jato teve seu fim decretado na primeira semana de fevereiro de 2021. Com o anúncio do dissolvimento do núcleo da Operação, os integrantes da força-tarefa passaram a fazer parte do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também do Ministério Público Federal.

A Operação Lava-Jato foi deflagrada em 2014, unindo membros do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal na investigação de casos de corrupção de contratos de grandes empresas privadas com a Petrobras. Durante o período em que esteve atuando, a Lava-Jato somou 1.450 mandados de busca e apreensão, 132 prisões preventivas, 163 prisões temporárias, 130 denúncias, 533 acusados e 278 condenações, de acordo com o balanço da Operação divulgado pelo Supremo Tribunal Federal. Com o fim da Lava-Jato, um dos procuradores da força-tarefa, Júlio Noronha, declarou que mais de 400 investigações em andamento são interrompidas.

O desmantelamento da Lava-Jato já era uma intenção anunciada pelo atual Procurador-Geral da República, Augusto Aras, desde que assumiu o cargo em setembro de 2019. Aras foi escolhido por Bolsonaro para ocupar o cargo mesmo não sendo um dos nomes presentes na lista tríplice elaborada pelo MPF. Em 2020, Aras chegou a dar declarações sobre a Operação afirmando a necessidade de “corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”.

O PGR sempre foi um crítico da Operação e membros da força-tarefa consideravam as declarações dele um aceno à candidatura de Bolsonaro em 2022, uma vez que o presidente rompeu com o maior personagem da Lava-Jato, o ex-juiz Sérgio Moro, que pode ser adversário direto de Bolsonaro nas próximas eleições.

Com os questionamentos acerca das ferramentas de investigação da força-tarefa e as revelações comprometedoras obtidas com a Vaza-Jato, alguns processos judiciais no âmbito da Operação podem ser revistos. Um dos mais importantes, o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado pelo caso do triplex no Guarujá, pode ter a sentença anulada pelo STF, que já concedeu à defesa do petista o acesso à íntegra das mensagens vazadas.

 

Efeitos nefastos para a economia brasileira 

A Lava-Jato representou o agravamento da crise e da recessão na economia brasileira. Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), apenas no primeiro ano da Lava-Jato, a Operação retirou R$ 142,6 bilhões da economia brasileira, gerando um impacto negativo de quase de três pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB).

O Estudo comprova que a Lava-Jato produziu pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos para o Brasil do que o valor desviado com a corrupção. A Operação afetou negativamente vários setores da economia, como o naval, a construção civil e a engenharia pesada, deixando milhões de trabalhadores brasileiros desempregados, paralisando obras, falindo empreiteiras e construtoras brasileiras.

De acordo com o professor da UFRRJ, Pedro Henrique Pedreira Campos, em artigo publicado no jornal do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon), “As maiores construtoras do país – Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, UTC e Constran – tiveram perdas de 85% de sua receita entre 2015 e 2018, passando de um faturamento conjunto de R$ 71 bilhões para apenas R$ 10,8 bilhões”.

Neste sentido, a Lava-Jato atuou como uma aliada do imperialismo norte-americano e tem sua parcela de responsabilidade na tomada do mercado da construção por parte dos Estados Unidos. Em agosto de 2019, o governo Bolsonaro assinou um memorando juntamente com o governo Trump que entregou às empreiteiras norte-americanas obras de infraestrutura bilionárias no Brasil. O acordo permitiu a entrada de empresas como a Halliburton no país, que já foi administrada pelo ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, entre 1995 e 2000 e condenada pela justiça norte-americana a pagar multas milionárias por corrupção.

 

Judicialização da política X Politização da justiça

Os efeitos políticos do discurso de combate à corrupção vendido pela Lava-Jato geraram consequências econômicas e também eleitorais. A construção midiática de combate à corrupção da Operação contribuiu para a formação ideológica da judicialização da política e da politização da justiça.

O então juiz Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa, coordenados por Deltan Dallagnol, concentravam informações privilegiadas que trocavam entre si, como revelou a Vaza-Jato, série de reportagens do The Intercept Brasil que começou a ser publicada em junho de 2019. O veículo teve acesso a mensagens vazadas do aplicativo Telegram de diálogos comprometedores e estratégias inconstitucionais entre os investigadores e Moro.

O caso mais emblemático de interferência entre o ex-juiz e os procuradores foi a articulação para a condenação do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva para impedir que ele pudesse concorrer à presidência nas eleições de 2018. Esse feito favoreceu o crescimento do discurso de criminalização da política, de antipetismo e de anticorrupção apropriado como estratégia de campanha do então candidato Bolsonaro.

A eleição de Bolsonaro foi consolidada e o então juiz Sérgio Moro, que comandou por quatro anos os julgamentos em primeira instância da Lava-Jato, abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça do próprio Bolsonaro.

Com os escândalos de corrupção envolvendo a família e aliados políticos de Bolsonaro vindo à tona, o presidente passou a atuar para impedir o andamento das investigações. Na reunião ministerial ocorrida em 22 de abril de 2020, o próprio presidente declarou ter tentado interferir politicamente no comando da Polícia Federal.

Após o vídeo da reunião ministerial ter sido amplamente divulgado na imprensa e a tentativa de interferência de Bolsonaro na PF ter se tornado notória, Sérgio Moro pediu demissão do governo. Com a saída do ex-ministro, o governo Bolsonaro passou a se distanciar ainda mais da retórica anticorrupção de apoio à Lava-Jato.

Desde abril de 2020, Moro e Bolsonaro são investigados pelo caso em um inquérito aberto no STF. Segundo o Procurador-Geral, Augusto Aras, podem ter sido cometidos oito crimes. São eles: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crimes contra a honra. Os três últimos por Moro e os outros cinco por Bolsonaro, que também pode ser enquadrado no crime de prevaricação.


Mais Notícias

Representações sindicais participam do 67º Conad em julho, na capital de Minas Gerais

Postado em 03/07/2024

03 de julho de 2024 Comunicação da ADUR Convocado pela diretoria do ANDES-SN, o 67º encontro do Conad (Conselho do leia mais


UFRRJ concede título Doutora Honoris Causa para Benedita da Silva

Postado em 28/06/2024

O Conselho Universitário da UFRRJ aprovou, hoje, a concessão do título de Doutora Honoris Causa para a deputada federal Benedita leia mais


28 de junho | Dia do Orgulho LGBTQIA+

Postado em 28/06/2024

🌈 Em 28 de junho, celebramos o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Esta data homenageia a coragem e a resistência dos leia mais


ADUR condena a tentativa de golpe militar na Bolívia

Postado em 27/06/2024

27 de junho de 2024 Comunicação da ADUR A Associação dos Docentes da Universidade Rural Federal do Rio de Janeiro leia mais


Próxima Assembleia da ADUR será 10 de julho – Salve a data

Postado em 26/06/2024

Salve a data! Dia 10 de julho acontecerá mais uma Assembleia Geral Simultânea e Descentralizada da ADUR. A Assembleia terá leia mais


CEPE acata demanda da ADUR: aulas retornam 26 de junho e dois semestres de 2024 serão finalizados este ano

Postado em 25/06/2024

O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRRJ aprovou o retorno do calendário letivo para o dia 26 de leia mais


ADUR e Mulheres Marcham em Copacabana pelo Arquivamento do PL dos Estupradores

Postado em 24/06/2024

  23 de junho de 2024 Comunicação da ADUR No último domingo, 23 de junho de 2024, a Associação de leia mais


Assembleia Geral da ADUR encaminha assinatura das propostas apresentadas pelo MGI e pelo MEC e saída unificada da greve

Postado em 19/06/2024

Após amplo debate de análise de conjuntura e avaliação da greve, as professoras e professores da UFRRJ decidiram, em Assembleia leia mais


MGI aceita criar comissões para rever reenquadramento de aposentados, reposicionamento de docente e insalubridade

Postado em 19/06/2024

Temas foram incluídos na contraproposta de negociação a partir da atuação direta da ADUR O Ministério da Gestão e Inovação leia mais


Assembleia da ADUR – 19 de junho

Postado em 17/06/2024

🚨 Atenção, docentes! 📆 Dia 19 de junho, quarta-feira, acontecerá mais uma Assembleia Geral Simultânea e Descentralizada da ADUR. A leia mais


demais notícias