ADUR Online #15: Desigualdades de gênero na construção das carreiras: desafios nas universidades
6 de novembro de 2020
Por Marina Cordeiro
Este texto tematiza um dos debates que tem ganho cada vez mais força pública nas últimas décadas: o pleito por igualdade de gêneros e observância das relações interseccionais na estrutura das desigualdades sociais, considerando o entrecruzamento de opressões de gênero, raça e classe. Observamos o debate sobre os marcadores sociais da diferença ganharem relevância acadêmica e social – incluindo também questões geracionais, de sexualidade, religião, etnia – e não seria diferente internamente à universidade, na sua qualidade de gendered social institution, ou “instituição social generificada”. Não à toa, inúmeras IES já possuem núcleos ou grupos de trabalho com foco em questões pontuadas pelas feministas: violência contra as mulheres, LGBTQIA+fobia, igualdade de gênero nas condições de trabalho, etc.
Ainda que tais dimensões estejam sendo debatidas no mercado de trabalho acadêmico e na construção das carreiras científicas, muito há de ser feito. Em outro artigo, apresentamos as críticas ao conceito de trabalho como sinônimo de assalariamento, a partir da epistemologia feminista. O tema tem ganho relevância pública, a partir do descortinamento das demandas do trabalho doméstico não-remunerado diante do confinamento pandêmico, levando inúmeros pesquisadores a documentarem: a redução das publicações autorais femininas; a mensuração das interrupções dos filhos ao trabalho remoto feminino versus o masculino; o aumento de horas de trabalho doméstico não-remunerado, diante do incremento das atividades de cuidado – desempenhadas majoritariamente pelas mulheres. Nas universidades, não tem sido diferente. Através das lutas histórica dos movimentos organizados, das inúmeras denúncias de estupro, violência e assédio, e de pesquisas científicas, as IES e agências de fomento tem sido desafiadas a enfrentar tais questões. São comuns os pleitos pelo ajustamento das medidas meritocráticas para mulheres parturientes, em editais de pesquisa e bolsas; pela construção de políticas institucionais sobre o tema, incluindo paridade de gêneros na esfera político-institucional – para dar alguns exemplos.
Para apontar apenas alguns dados empíricos, é sabido que os homens brancos ocupam o topo da lista na renda média salarial, seguidos das as mulheres brancas, homens negros e na base da pirâmide, mulheres negras. Também é conhecida a informação de que a população de doutores negros na universidade é reduzida: figuravam apenas 16% da população em 2017. Atentando à distribuição por gênero de cargos hierarquicamente superiores da carreira acadêmica, é digno de nota, que elas ocupam muito menos tais cargos, do que os homens. E mais, o que os dados quantitativos não mostram é que parte daquelas que alçam tal lugar, são mulheres sem filhos. O mesmo ocorre entre os Bolsistas PQ do CNPq: apenas em torno de 25% das mulheres são bolsistas 1A (2017). No mesmo sentido, vale notar que são as mulheres que se destacam nos cenários com menos prestígio acadêmico: são elas que mais atuam e ocupam cargos burocrático-administrativos. Ou seja, as mulheres seguem ocupando espaços de mitigação de conflitos, relacionados à perspectiva do cuidado e de trabalho emocional.
Outra dimensão empírica emerge ao observarmos nossas práticas de interação institucional, sob este prisma. O quanto docentes mulheres enfrentam posturas mais agressivas dos alunos em sala de aula (de quaisquer gêneros)? Os ataques – de cunho político ou não – aos dirigentes é mais ou menos grosseiro, observando elementos de gênero e raça? Em que medida, alude-se à perspectivas misóginas e machistas em manifestações políticas, ainda que se defenda tais pautas? As mulheres enfrentam uma quantidade superior de interrupções masculinas em suas falas, em reuniões político-institucionais? Estas são perguntas centrais para esta dimensão microssociológica do debate que incidem sobre a ocupação de postos de poder por outras identidades humanas que não a masculina branca.
No entanto, é preciso enfrentar o debate com responsabilidade pública e também científica. Ainda que o lugar de fala ancorado nas experiências esteja reservado majoritariamente às mulheres, é preciso distinguir entre conhecimento da experiência e acadêmico-científico. Políticas públicas – e o mesmo se aplica às instituições – precisam ser elaboradas não apenas por aqueles que encampam suas bandeiras, mas também por estudiosos do tema, capazes de auxiliar no desenho de atuações institucionais eficientes na redução de tais desigualdades. Afinal, somos cientistas e é preciso, mais do que nunca, valorizar o conhecimento por nós produzido.
Marina Cordeiro é professora do Departamento de Ciências Sociais da UFRRJ e 1ª Secretária da ADUR-RJ.
ADUR ONLINE é um espaço da base do Sindicato. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.
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