Caso Marielle: delação não aponta mandante, mas apresenta novas pistas
25 de julho de 2023
Comunicação da ADUR
A investigação do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (24), após as revelações do ex-policial militar Élcio Queiroz à Polícia Federal. Ele afirmou em delação premiada ter recebido uma mesada de R$ 5 mil de Suel, ex-bombeiro ligado à milícia, após levar o matador de aluguel Ronnie Lessa até a cena do crime, que ocorreu em 14 de março de 2018.
Ronnie Lessa assassinou a ex-vereadora Marielle Franco, segundo a investigação da Polícia Federal, em troca de dinheiro, uma vez que ele e seu comparsa, Élcio Queiroz, eram notórios milicianos e assassinos de aluguel. Conforme apontou o ministro da Justiça, Flávio Dino, “a delação [de Élcio] é a conclusão das provas já colhidas anteriormente e é o início de uma nova produção probatória que foi deflagrada hoje.
A delação premiada de Queiroz gerou uma nova operação de busca e apreensão entre os envolvidos, de onde devem surgir as chamadas “provas de corroboração”, uma exigência legal, pois a delação sozinha não serve como prova, e é preciso outros elementos. Segundo Dino, os resultados das buscas e apreensões “indicarão os próximos passos a serem seguidos pela investigação”. Élcio Queiroz, que confessou participação no assassinato, disse em sua delação que não sabe quem encomendou o crime.
Essa questão, certamente a mais importante envolvendo o crime, também está para ser resolvida. A avaliação da PF é de que a delação premiada de Élcio tem o potencial de gerar um efeito cascata sobre outros nomes investigados, que podem aderir a acordos de delação premiada para se blindarem de eventuais novas acusações. É em uma delas que pode surgir o nome daquele que pagava pelo silêncio de Élcio Queiroz e Ronnie Lessa, ou, ainda, quem eram os patrocinadores dos assassinos de aluguel que aterrorizam o Rio de Janeiro.
Quem, afinal, mandou matar Marielle Franco? Essa é a pergunta que o Brasil faz desde 2018, quando a Polícia Civil do Rio começou suas investigações, enfrentando tentativas de obstrução, pistas falsas e frequentes trocas no comando do inquérito, observadas com preocupação pela família e instituições de defesa dos direitos humanos. Em cinco anos e quatro meses, sempre com o Ministério Público do Rio (MPRJ) também à frente, houve cinco delegados da Polícia Civil responsáveis pelo caso.
Embora com Flávio Dino e o inquérito na PF os resultados sejam latentes, e o fim do caso, cada vez mais próximo, ainda há muitas perguntas sem resposta. Quem controla os assassinos de aluguel da milícia? Quem matou o miliciano Adriano da Nóbrega, apontado como chefe da organização criminosa Escritório do Crime? Por que o MPRJ não conseguiu chegar às conclusões da PF? E, mais importante, qual é a relação entre a família Bolsonaro e o assassinato de Marielle Franco, dado que o ex-presidente e seus filhos eram vizinhos de Ronnie Lessa, frequentavam sua casa, fizeram homenagens na ALERJ para os comparsas do ex-policial, e há até mesmo um extenso histórico de ligações entre eles?
A ADUR-RJ reforça a importância de uma investigação ampla e independente para que os responsáveis pelo assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes sejam punidos. O legado de Marielle Franco, uma vereadora negra, mãe, LGBTQIA+, e ativista pelos direitos humanos, jamais será esquecido, e sua luta por igualdade racial e social para sempre será lembrada. Marielle Franco, presente!
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