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As Humanidades e a Civilização

ADUR On-line
04/05/2020

Por: Claudio Maia Porto, Vice-Presidente da ADUR-RJ]

Nessa semana que passou, a comunidade acadêmica recebeu a notícia da suspensão por parte do CNPq de financiamentos de inicação científica para as áreas de conhecimento das Ciências Humanas e Sociais e das Artes. Essa decisão segue, de forma mais ainda mais drástica, ao nível da graduação, as medidas implementadas pela CAPES ao nível da pós-graduação. Trata-se, sem sombra de dúvida, de mais um lance na guerra política que se observa no país hoje, em que se confrontam projetos de sociedade muito distintos.

O princípio democrático, em que pese sua aparição episódica na antiguidade, somente em tempos recentes se consolidou. A ideia de que os cidadãos desfrutam de uma condição humana comum, que os iguala em termos de obrigações e direitos, só no século XX adquiriu a hegemonia quase inconteste que muitos lhe atribuem hoje. Assim também, a ideia de que um sistema de valores éticos, baseado em conceitos como justiça e dignidade humana, deve substituir as meras relações de força como elementos normativos da ordem social é igualmente recente.

No Brasil, essas relações de força constituíram os alicerces fundamentais de nossa formação histórica, superlativadas pela monstruosidade da escravidão. Não surpreende, pois, que mesmo um pensador politicamente conservador como Gilberto Freyre tenha definido nossa sociedade como uma formação construída “em benefício de uma só classe, de uma só raça e de um só sexo”. Essas relações de força perduraram intocadas durante séculos e, como tal, foram amplamente internalizadas em nosso meio. Por conseguinte, sua desconstrução, ainda que gradativa, desperta reações intensas e extremas, não somente por parte dos segmentos beneficiários desse sistema social distorcido, mas também – obra perversa da internalização – por muitas das vítimas das relações de opressão.

No entanto, a lenta, porém permanente, difusão dos valores humanitários, sobretudo a partir de meados do século passado, tornou mais difíceis a manutenção da ordem social vigente, com seus elementos perversos, e a oposição aos avanços civilizatórios. O enfrentamento regressista precisa se apoiar em um discurso de naturalização das distorções que permeiam nosso meio social e rejeitar a denúncia de que sejam verdadeiramente inaceitáveis. A efetividade dessa estratégia só pode se dar através da negação radical de um modelo humanista de sociedade que vem sendo paulatinamente construído nas últimas décadas. Essa é a verdadeira guerra cultural empreendida pelas forças do regresso, embora os títulos que lhe são dados pelos seus agentes – contra um suposto “marxismo cultural” – cumpram essencialmente o objetivo de turvar seus verdadeiros alvos e seu verdadeiro significado.

Ora, a análise e a problematização das relações sociais, é, certamente, objeto das Ciências Humanas e Sociais, bem como das manifestações artísticas. Seu papel na identificação e na denúncia das contradições e distorções de nossa sociedade, bem como da proposição de novos modelos e alternativas de organização social, é indiscutível. Portanto, para aqueles que almejam o resgate das formações sociais ultrapassadas – se preciso, com o emprego da violência – esses conhecimentos são o inimigo a ser silenciado. O corte dos suportes financeiros para a área faz parte dessa luta aberta. Nem sequer se opera o extermínio sob o disfarce do utilitarismo simplista, alegando-se que os recursos são escassos e as conquistas tecnológicas  mais urgentes. Esse argumento já seria, por si, falacioso, dado que não  pensar em avanços tecnológicos e científicos desvinculados de reflexões humanitárias e preocupações éticas e sociais. A ofensiva, no entanto, não lança mão do subterfúgio; é explícita. É preciso destruir o pensamento, naquilo que tem de mais evidentemente subversivo: a exposição dos fatos sociais como construções históricas, criticáveis e superáveis. Salvo por algumas anomalias intelectuais como o terraplanismo, o conhecimento tecnológico e dos processos naturais, sobretudo descolado de sua base humanística, pode ser tolerado, na pesagem dos riscos e benefícios. As Ciências humanas e Sociais, bem como as Artes, são ameaçadoras em sua essência. O regresso ao passado exige esse embate mortal e lança sua ofensiva. A marcha da civilização é seu alvo.

 

 


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