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ADUR Online #74: A internacionalização universitária e a integração dos povos da América Latina

30 de maio de 2022

#ADUROnline

Por José Luis Luque

 

 

 

Vivemos dias complexos e de grande dificuldade para a educação no Brasil. Em particular para as instituições públicas de ensino superior. O legado do mestre Paulo Freire é ameaçado permanentemente por quem preconiza o negacionismo e a exclusão. No meio desta conjuntura, o processo de construção de espaços inclusivos na educação, qualquer que seja o seu nível, torna-se um enorme desafio e este não se dará por meio de padronização de procedimentos; mas a partir da experiência e do reconhecimento das diferenças, sendo que este processo vai além das fronteiras tornando-se um processo global.

Por outro lado, a internacionalização institucional no ensino superior brasileiro emerge como um processo por meio do qual é gerada uma troca permanente de conhecimentos e experiências que são adquiridos e compartilhados. Este processo é influenciado por vários fatores, inclusive geopolíticos, e deve ser direcionado pela criação do máximo de oportunidades para todos os membros da comunidade universitária.

A internacionalização pode e deve se tornar um processo inclusivo. Na frente interna institucional, há necessidade permanente de democratizar e continuar dando transparência aos processos de intercâmbio internacional nos três segmentos que compõem a comunidade universitária. Uma postura proativa institucional pode estar marcada pela alocação de recursos oriundos do orçamento institucional, oportunizando a participação de todos neste processo. O estabelecimento de quotas para o outorgamento de auxílios financeiros à mobilidade internacional de alunos de graduação é, sem dúvida, um exemplo neste sentido e, ainda, em meio às atuais dificuldades enfrentadas pelas Universidades públicas, pode ser considerada um ato de resistência. Outra oportunidade de perfil inclusivo é o oferecimento de cursos gratuitos de idiomas, ferramenta fundamental da internacionalização e que mostra as portas que podem ser abertas em termos de conhecimento científico-tecnológico no mundo.

No contexto internacional, devido à qualidade e organização do seu ensino superior, o Brasil é uma liderança incontestável na América Latina. A relação acadêmica entre as universidades do Brasil e os países hispano falantes do hemisfério sul é histórica. A UFRRJ não está fora desta realidade, e sua história centenária registra vários exemplos de intercâmbios e relações frutíferas. Na maioria destes países o ensino superior e a pesquisa não têm gratuidade e, portanto, projeta-se a dificuldade de acesso para uma parcela importante da população aos níveis de conhecimento como os ostentados no Brasil; que exibe uma rede de ensino superior pública, gratuita e de qualidade. Situação semelhante acontece com países luso falantes de outros continentes. A vinda de estudantes e pesquisadores destas latitudes certamente enriquece e fortalece a relação com os povos destes países, toda vez que os intercâmbios não se restringem apenas aos aspectos relativos à pesquisa e ao ensino, mas também considera as atividades de extensão, gerando laços duradouros entre os povos. Existem programas de apoio federais, para este tipo de mobilidade internacional. No entanto, estes perderam sua vitalidade nos últimos anos. Cabe, portanto, uma preocupação especial das Universidades Brasileiras, para, em meio a tantas dificuldades, manter a chama acessa da união dos povos da América Latina garantida por pesquisa, ensino e extensão. É motivo de otimismo, que a UFRRJ tenha incentivado nestes últimos anos o intercâmbio de estudantes, docentes e a criação de redes de pesquisa com diversos países do continente.

Vale lembrar, que a solidariedade internacional e a integração dos povos da América Latina têm raízes nos movimentos universitários, como nas jornadas heroicas da Reforma Universitária de 1918 acontecidas na Universidade de Córdoba na Argentina, em que um grupo de estudantes e jovens docentes se insurgiram contra um modelo de universidade sem vínculos institucionais com a sociedade, notoriamente elitista, autocrática e sem conexão com a realidade continental; em resumo, um modelo arcaico e elitista de universidade. Esse movimento se irradiou para vários países de América Latina, trazendo um alento modernizante e socialmente avançado à educação superior no continente, postulando uma universidade democrática e com vocação latino-americana. Dessa forma, ficaram firmados os princípios da autonomia universitária, a gratuidade do ensino superior, a liberdade acadêmica, a participação de todos os setores da comunidade universitária na gestão, o estabelecimento da extensão universitária e a solidariedade internacional nas instituições de Ensino Superior.

Honrando de forma indeclinável esses laços históricos, vigentes e principistas, devemos persistir no processo de internacionalização institucional com ações que continuem fortalecendo, com vocação democrática e de solidariedade, os nossos vínculos com os povos irmãos da América Latina.

 

José Luis Luque é professor titular do Departamento de Parasitologia Animal da UFRRJ e coordenador de Relações Internacionais e Interinstitucionais da UFRRJ.

*ADUR ONLINE é um espaço aberto aos docentes e pesquisadores da UFRRJ e de outras Universidades também. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.


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