Universidades estaduais do Rio resistem
Apesar da omissão do Governo do Estado, UEZO e UENF enfrentam a crise mobilizadas
Com salários de servidores atrasados e sem repasses para despesas básicas, as universidades estaduais agonizam em meio à crise financeira e política que vive o estado do Rio de Janeiro. No cenário de calamidade, há comoção pública em defesa da UERJ, evidente com a organização de um show beneficente e o debate sobre federalizar a instituição. Enquanto isso, o Centro Universitário da Zona Oeste (UEZO) e a Universidade Federal do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), além do abandono, sofrem com o esquecimento.
UENF
Localizada no município de Campos dos Goytacazes, no norte do estado, a UENF é fruto de uma mobilização da população local que, envolvendo entidades, associações e lideranças políticas, conseguiu incluir uma emenda popular na Constituição Estadual de 1989 para a criação da instituição. A UENF começou a ser implementada, de fato, em 1991 e foi o último grande projeto de universidade idealizado por Darcy Ribeiro.
Ao longo dos mais mais de 20 anos de história, a UENF se destacou no campo científico e tecnológico. Possui um número representativo de ex-alunos que cursaram mestrado e doutorado, e desenvolveu tecnologias inovadoras e importantes economicamente. A situação atual, no entanto, é bem diferente.
![](http://www.adur-rj.org.br/portal/wp-content/uploads/2017/02/2891b-sos2b9.jpg)
Em um ato simbólico, no dia 31 de agosto de 2016, a comunidade acadêmica da UENF abraçou a universidade.
De acordo com a professora Maria Angélica da Costa Pereira, presidenta da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Aduenf, a universidade não recebe repasses desde outubro de 2015. Com isso, a empresa que prestava o serviço de vigilância cancelou o contrato em novembro de 2016. Desde então, estudantes, professores e funcionários sofrem com assaltos frequentes, além de roubos ao patrimônio público. Também por falta e atrasos de pagamentos, a empresa de limpeza diminuiu a quantidade de funcionários para atender a instituição.
“Em menos de um mês nós pegamos 14 mil assinaturas e entregamos para o governo do estado para que ele se responsabilize e se sensibilize com a UENF. Porque o que eles estão fazendo é improbidade administrativa pura“, contou Maria Angélica.
UEZO
A situação do Centro Universitário da Zona Oeste (UEZO) parece ainda pior. Até hoje a instituição não possui sede própria e não conta com servidores técnicos administrativos concursados, já que o decreto de criação da UEZO não prevê um corpo de funcionários nesta categoria. A única exceção são técnicos de laboratório que, de acordo com a professora Luanda Moraes, atualmente vice-reitora da UEZO, têm os salários mais baixos da categoria em comparação com os funcionários das demais universidades.
Mais algumas complicações que a UEZO carrega desde a sua fundação estão relacionadas ao quadro docente. O salário dos professores está congelados há mais de seis anos e, mesmo com o vencimento base igual ao dos docentes da UERJ, os professores da UEZO, que são todos doutores, não possuem adicional de dedicação exclusiva, nem insalubridade. Na prática, eles recebem quase a metade que os colegas.
“A crise na UEZO não é recente, a gente sempre viveu em crise”, salienta Luanda.
Única universidade pública na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no início de 2016 a UEZO não abriu as portas porque o orçamento não permitia fazer licitação para limpeza. Depois da primeira greve de servidores da UEZO, que durou de março a agosto, em setembro as aulas retornaram após um mutirão de limpeza organizado por toda a comunidade acadêmica. Um mês depois, em outubro, foi a vez de a empresa de segurança rescindir o contrato, já que os vencimentos não estavam sendo repassados.
Assim como os demais servidores do estado, servidores da UEZO estão com salários atrasados e recebendo de forma parcelada.
Resistência e mobilização
Diante do cenário de descaso com a educação, as instituições buscam formas de enfrentar a crise. Na UENF, os professores decretaram estado de greve.
“A resistência é uma forma de luta diferente já que a greve não está fazendo efeito para esse governo. O que eles querem é isso mesmo, porque assim a universidade fica esvaziada e desmobilizada. Então a gente prefere ficar mobilizado, vindo a atos aqui no Rio, fazendo atos em Campos, reuniões, debates. Mobilizando a comunidade para que o campus não se esvazie”, contou Maria Angélica, presidenta da Aduenf.
Na UEZO, a professora Luanda Moraes conta que enquanto esteve à frente da Associação de Docentes do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste, Aduezo participou de uma frutífera aproximação entre a instituição e a sociedade civil organizada.
“Em abril de 2016 aconteceu a primeira audiência pública sobre a UEZO na Comissão de Educação da Alerj. Nós levamos representantes das associações de moradores da região e eles tiveram uma participação fundamental. Porque eles colocaram a importância da manutenção da única universidade pública na Zona Oeste”, destacou Luanda.
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