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Novembro Negro: lutas e avanços a serem celebrados no Dia da Consciência Negra

No mês de novembro, a celebração do “novembro negro” é uma maneira de reivindicar as memórias, as lutas e resistências dos povos afrobrasileiros diante de séculos de exploração, escravidão e colonialismo no Brasil. O dia 20 de novembro, representado como o Dia da Consciência Negra, é uma data que marca a importância histórica e política das lideranças negras, como o principal homenageado na data, o líder quilombola assassinado pelos colonizadores, Zumbi dos Palmares.

Para debater sobre os simbolismos e ações do novembro negro, sobre a importância das resistências históricas do povo negro através de suas lutas, e sobre a necessidade de construção de políticas de redução das desigualdades raciais e sociais em um país que ainda é extremamente racista como o Brasil, a Imprensa ADUR-RJ entrevistou o professor da UFRRJ Ricardo Dias da Costa, que atualmente é pesquisador e coordenador do Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – LEAFRO-NEABI-UFRRJ. Leia a entrevista a seguir.

ADUR – Primeiro eu gostaria que o senhor falasse um pouco da sua trajetória acadêmica e política, sua atuação dentro do movimento negro, etc.

R – A minha trajetória acadêmica começa com a gradação em Turismo em 1982 na cidade de Belo Horizonte, onde nasci e cresci. Tenho um Mestrado em Turismo pela Universitat de Les Illes Balears(Palma de Mallorca) e outro em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário UNA também em Belo Horizonte e Doutorado em Educação pela UFRRJ. A minha atuação no movimento negro começou durante a graduação quando participei de um grupo de estudo voltado para estudantes negros chamado Grupo de Estudos José Bonifácio e logo depois tive contato com o MNU. As atividades profissionais me distanciaram do movimento negro, mas quando cheguei à UFRRJ em 2011 conheci o Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – LEAFRO -NEABI-UFRRJ, do qual hoje sou pesquisador e o atual coordenador. A minha participação junto ao movimento negro foi muito mais acadêmica do que militante e hoje sou membro pesquisador da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN, que é uma entidade que tem por finalidade o ensino, pesquisa e extensão acadêmico-científica sobre temas de interesse das populações negras do Brasil. E por fim estou como coordenador da Regional Sudeste do Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros – Conneab’s.

 

ADUR – Nós estamos no “novembro negro”, mês que abriga o dia da Consciência Negra e que tem sido utilizado em inúmeras instituições como um mês de debates e conscientização sobre a questão racial. Como o senhor avalia a importância do dia Consciência Negra e desse mês temático?

R – O dia da Consciência Negra não é um simples feriado, é a oportunidade de celebrar a luta, e a resistência do provo negro contra o racismo. Esta luta, que começou há muitos anos atrás, não é só contra a desigualdade social e racial, mas principalmente contra o racismo em todas as suas dimensões e aqui aproveito a oportunidade para reverenciar os nossos ancestrais e os mais velhos que tanto fizeram para estarmos onde estamos. Cabe destacar que esta luta não é exclusividade dos negros, mas sim de toda a sociedade brasileira, pois o termo “Consciência Negra” diz respeito à uma tomada de consciência histórica, cultural e social dos negros quanto a nossa participação e contribuição na formação da sociedade brasileira. A data de 20 de novembro não foi escolhida aleatoriamente, este dia foi escolhido por coincidir com a data em que Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, foi morto em 1695. É importante destacar que em dia 20 de novembro de 1995, em Brasília, cerca de 30 mil pessoas se reuniram na Marcha Zumbi dos Palmares. Neste ano, celebrava-se os 300 anos da morte do líder do maior Quilombo do período colonial. Na marcha as pessoas foram às ruas para, principalmente, protestar por políticas públicas de equidade social. Esta luta continua e deve ser intensificada a cada dia em todos os segmentos da sociedade, pois o que vivemos hoje com o encarceramento e morte da juventude negra no Brasil é revoltante e inaceitável.

 

ADUR – O atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo é conhecido por suas falas polêmicas, que relativizam a escravidão no Brasil, acusam intelectuais e artistas negros, e recentemente declarou o interesse e mudar o nome da Fundação Palmares para Fundação Princesa Izabel. No entanto, ele ocupa um cargo de poder institucional muito importante. Como você avalia a necessidade de ter pessoas negras comprometidas com a implantação políticas de redução das desigualdades raciais e sociais no Brasil nesses espaços de poder?

R – A Fundação Cultural Palmares (FCP), que é uma entidade vinculada ao Ministério da Cidadania, foi criada dentre outros objetivos, com o intuito de preservar a memória e fomentar a cultura afro-brasileira. A figura do atual presidente da entidade não tem o reconhecimento popular e a proposta de mudança do nome é estapafúrdia, além de não encontrar eco dentro dos Movimentos Negros. Não há como aceitar que o presidente de uma entidade como a FCP afirme ter sido a escravização benéfica aos seus descendentes. Entidades como esta têm que ter pessoas engajadas com a luta antirracista, o fim do racismo e pela equidade social. É uma pena que ainda hoje estejamos conversando sobre a necessidade de termos à frente de entidades como a FCP pessoas que sejam comprometidas com a causa dos negros, isto deveria ser condição sine qua non para a ocupação deste cargo. A demanda por políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades raciais e sociais está na ordem do dia. Existe hoje no Brasil um expressivo contingente de pesquisadores/as com conhecimento para contribuir com a discussão desta temática. O acesso ao ensino superior por intermédio de uma política pública demandada pela sociedade para ingresso em instituições de ensino federal, Lei 12/711/2012 mais conhecida como “Lei de Costas” é uma vitória parcial do movimento negro. Destaco, vitória parcial, porque o primeiro filtro desta lei é o recorte social, o racial está em terceiro lugar, pois vem depois do financeiro. A redução das desigualdades raciais e sociais no Brasil só acontecerá quando tivermos cada vez mais negros/as ocupando postos de poder nos diferentes segmentos profissionais.

 

ADUR – No ano passado, nos EUA, um policial assassinou George Floyd, e isto foi o estopim de manifestações e debates sobre o racismo em todo o mundo. No Brasil, a violência policial, a abordagem e atuação racistas fazem parte do cotidiano mas, nem por isso, parece causar comoção social para além de grupos politicamente atuantes na questão racial. Como o senhor interpreta essa comoção com o que acontece nos Estados Unidos e a quase apatia sobre o que acontece sob nossos olhos todos os dias?

R – O preconceito racial no Brasil é diferente dos Estados Unidos. O professor Oracy Nogueira nos ensina que o preconceito é considerado de marca quando é baseado na aparência do indivíduo (Brasil) e de origem quando é praticado contra um indivíduo que se supõe descender de algum grupo étnico(EUA). O assassinato de pessoas negras não é exclusividade americana ou brasileira, mas o caso George Floyd tomou dimensões inimagináveis no mundo todo, mas fatos semelhantes acontecem todos os dias e com repercussões diferentes em cada país. O racismo existe e é o mesmo de sempre, só que agora é mais divulgado. Na década de 1990 os diversos episódios de racismo nos EUA propiciaram que um número, cada vez maior de negros, tivesse acesso às informações a respeito e o que vemos hoje nada mais é do que a confirmação de que a violência contra os negos nunca parou. A luta pelos direitos civis nos EUA acarretou uma tomada consciência política nos norte-americanos que ainda é pouco disseminada no Brasil. A nossa realidade histórica é muto diferente e há um dado diferencial nesta diferença: a “ideologia da democracia racial”, que muitos ainda creem reger as relações raciais no Brasil construindo assim uma suposta e distorcida “identidade racial brasileira”. Isso não quer dizer que os negros no Brasil não lutem por seus direitos, mas a nossa forma é diferente, muito pelo fato do movimento negro brasileiro ter surgido no período da ditadura e por isso ter sido criminalizado. Temos uma tradição de resistência contra o racismo, mas as relações raciais no Brasil e nos EUA foram estabelecidas de formas historicamente diferentes. O fato de não termos confrontos raciais semelhantes aos que ocorrem nos EUA não quer dizer que não estamos lutando, estamos lutando sim, só que de forma diferente, bem ao nosso modo.

 

ADUR – O senhor coordena o Laboratório de Estudos Afro-Brasileiro e Indígenas – LEAFRO, na UFRRJ. Eu gostaria que o senhor apontasse as frentes de atuação do Laboratório e a importância do núcleo para a instituição e também para a sociedade como um todo, principalmente do entorno da Universidade.

R – O Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – LEAFRO – foi criado em 2006 no âmbito da UFRRJ no campus da cidade de Nova Iguaçu e é um ambiente, ou espaço de pesquisas acadêmicas que se define como Multi, ou Intercultural. Atualmente está inserido na Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa e é integrado por pesquisadores, pesquisadoras e grupos de pesquisas internos e externos à universidade, que são provenientes de diferentes áreas do conhecimento. No Leafro são desenvolvidas atividades de ensino, pesquisa e extensão voltadas para a intervenção e transformação de subjetividades e de atitudes racistas bem como das relações de dominação e de exclusão com base nas identidades étnico-raciais nas Instituições escolares e na sociedade mais ampla. A importância do Leafro vai para além das questões acadêmicas, pois a diversidade e pluralidade de pesquisas é uma das principais riquezas desse laboratório, que converge para um ponto em comum: a luta antirracista e contra as desigualdades étnico-raciais em todas as suas dimensões principalmente dentro da universidade. A participação do Leafro na Baixada Fluminense se consolida por intermédio dos diferentes projetos de extensão que são desenvolvidos nos três campi da UFRRJ.
Entre as ações de pesquisa e ou formação já propostas pelo LEAFRO ao longo dos anos de seu funcionamento, posso destacar o curso de aperfeiçoamento em Educação das Relações Étnico-raciais. Este curso fez parte do Programa Uniafro, uma iniciativa da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secadi/MEC). Oferecemos também cursos de Aperfeiçoamento e pós-graduação lato sensu aos professores, principalmente da Baixada Fluminense, muitas das vezes por intermédio de parcerias desenvolvidas com as secretarias de educação dos municípios.

 

* Esta entrevista foi publicado na edição 193 do ADUR Informa, o boletim impresso da ADUR. Confira a edição completa neste link: ADUR Informa 193


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