Opinião da Semana #6: “Impeachment de Bolsonaro? CPI da Covid ganha força e quer pensar grande”
Opinião da Semana #6
22 de setembro de 2021
Imprensa ADUR-RJ
Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o senador Renan Calheiros afirmou nesta semana que vai propor, em seu relatório final, mudanças na lei que trata do impeachment de um presidente da República. O parlamentar pretende entregar o parecer em 23 ou 24 de setembro, e o relatório será votado pelos integrantes da CPI no dia 30 do mesmo mês. A ideia de Calheiros é instituir um prazo para análise de pedidos de impeachment. A mudança, que depende de aprovação no Congresso Nacional, parte também dos anseios da população brasileira, que exige resultados tateáveis após os desdobramentos da CPI mais importante da história do país.
São quase 600 mil mortos e uma certeza: o governo federal é responsável direto pelo caos social, político e econômico no país. É natural, portanto, que uma parcela considerável da sociedade exija punição por tamanho descaso. Segundo o DataFolha, 54% da população reprova o desempenho de Bolsonaro durante a pandemia. Em outra pesquisa, o IBOPE apontou que 71% dos brasileiros entendem que o país sofreu mais que o esperado em razão da Covid-19. Em abril deste ano, a revista Science publicou um estudo que aponta o governo de Bolsonaro como o maior responsável pela crise no Brasil. O próprio presidente da República assinou uma espécie de confissão de culpa ao travar uma batalha pessoal contra a instalação da CPI.
Antes do inquérito no Senado, Bolsonaro intensificou seus ataques contra parlamentares, imprensa, médicos, cientistas, os “globalistas comunistas”, e reiteradas vezes contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou, no início do ano, a abertura das investigações. Não sem razão, a aproximação do presidente com os principais partidos do centrão, episódio que inclui voluptuosas verbas aos parlamentares em troca de apoio político, aconteceu justamente quando o país enfrentava a iminência de uma CPI contra o seu governo. Com medo, Bolsonaro sabia que as revelações ao longo do inquérito, de algum modo, confirmariam o sentimento da maioria dos brasileiros e fariam mais pressão sobre o seu governo. Por esta razão, ele se blindou no Congresso Nacional, atraindo deputados e senadores com cargos e dinheiro para emendas parlamentares.
Ainda assim, a corrupção, a negligência e o negacionismo de seu governo, que foram amplamente noticiados pela imprensa nacional nos últimos dois anos, são o retrato do segundo país com mais mortes por Covid no mundo, agora exposto pela CPI. Da tragédia em Manaus, quando a “logística” de Eduardo Pazuello falhou e não havia oxigênio para os internados, passando pelo gabinete paralelo de Carlos Bolsonaro no Ministério da Saúde, as seis recusas nas ofertas da vacina Pfizer, o delírio coletivo do governo em defesa da cloroquina, e a demissão de quatro ministros da Saúde, desde sempre, sabíamos, a culpa de Bolsonaro era latente.
Mas nem por isso ele mudou. Na última semana, o Ministério da Saúde, em comunicado de seu ministro, Marcelo Queiroga, afirmou que não é recomendada a vacinação contra a Covid-19 para adolescentes entre 12 e 17 anos. A determinação, contrária às orientações da OMS, pegou de surpresa até mesmo os médicos que fazem parte da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização, grupo instituído por Queiroga. Eles cogitaram deixar a comissão e exigiram que o ministério publicasse uma nota esclarecendo que a equipe não foi ouvida, e que discorda da decisão.
Mais recentemente, em discurso na ONU, ao lado dos maiores líderes do planeta, o presidente Bolsonaro voltou a defender tratamento precoce contra a Covid-19, como se essa não fosse uma das descobertas mais graves da CPI e sua promíscua relação com a Prevent Sênior. Dias antes, ainda em Nova York, em encontro com Boris Johnson, do Reino Unido, o brasileiro debochou quando o britânico comentou que havia tomado duas doses de AstraZeneca. A reunião entre dois, em verdade, armada pela equipe de Boris Johnson como uma peça de publicidade, tinha como único objetivo apresentar um primeiro-ministro dissonante da figura caricata do líder brasileiro, um exemplo evidente da diferença entre a direita e a extrema-direita; entre o conservadorismo e o fanatismo totalitário.
Para alguns jornais da imprensa internacional, como o NY Times, o The Guardian, a revista Economist, a permanência do presidente brasileiro no poder é um “mistério”. Embora seja dito com alguma frequência que faz parte do cálculo político da oposição a espera pelo “derretimento” do governo de Jair Bolsonaro até 2022, é também fato que o presidente, até o momento, soma 137 pedidos de impeachment na Câmara, e a esmagadora maioria deles foi protocolado por parlamentares contrários ao governo. O andamento do impeachment, como se vê, depende exclusivamente das ambições de Arthur Lira, presidente da Câmara, que parece satisfeito em apenas tocar a agenda privatista de Paulo Guedes e se aproveitar da fama no noticiário.
Mas vem aí uma proposta que poder mudar os rumos do país. Renan Calheiros, velho conhecido pelos corredores do Congresso Nacional, é capaz de articular e aprovar um projeto de mudanças na Lei do Impeachment, sobretudo no esteio dos desdobramentos de uma CPI que investiga o que vem sendo chamado de genocídio. Caso isso ocorra, torna-se bastante provável a possibilidade de Jair Bolsonaro não chegar até 2022 como presidente do Brasil.
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