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Estudantes impulsionam luta para barrar Future-se e inspiram movimentos pela Educação

O movimento contra o Future-se, programa do governo que prevê a privatização das Universidades e que ficou popularmente conhecido como ‘Fature-se’, teve como uma das linhas de frente os estudantes universitários que resistem em defesa da Educação.

Imagem: CSP – Conlutas.

 

A luta contra o programa foi marcada nacionalmente por mobilizações, mas, impressionou e ganhou visibilidade especial, com a massiva greve dos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que já dura um mês. No dia 10 de setembro, a greve estudantil foi deflagrada, no dia 11 ganhou adesão do setor da pós graduação, e segue resistindo, mesmo com a intenção de movimentos, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) em parar a luta.

 

Imagem: CSP – Conlutas.

 

As estudantes da UFSC, que integram o movimento “UFSC Contra o Future-se”, Rita de Cássia Pereira, 22 anos, Mariah Madeira dos Reis, 24 anos, e Maria Luiza Moreira, 21 anos, participaram do 4° Congresso da CSP-Conlutas e contaram um pouco dessa mobilização, os desafios que ainda estão impostos e as conquistas que a greve já alcançou.

 

‘UFSC Contra o Future-se’

Uma assembleia massiva, realizada no início de setembro, com a participação de mais de 5 mil estudantes discutindo os ataques que o programa representava, ganhou atenção nas redes sociais. A imagem ilustrou a força do movimento estudantil na UFSC, para barrar mais um plano do governo Bolsonaro em acabar com as universidades.

Criado pela base, fora do campo das direções majoritárias, o movimento “UFSC Contra o Future-se” foi organizado no primeiro semestre letivo para fazer a discussão contra o programa e tirar estratégias para barrá-lo em sua totalidade.

Foi a forma encontrada para organizar os estudantes que estavam com vontade de lutar, e contra as direções que estavam limitando essa luta. “Os estudantes já estavam com o pé atrás com o governo Bolsonaro por causa dos cortes na Educação, o que poderia ocasionar o fechamento da universidade. Nas palavras do reitor, ‘iriam fechar a porta e apagar a luz’, isso antes do Future-se ser anunciado”, contou Rita. “A crise já estava imposta”, disse.

 

Cerco ao reitor

A estudante lembra-se de uma assembleia estudantil, considerada simbólica por ela, em que literalmente os estudantes cercaram o reitor para pedir explicações e impedir que o programa fosse para frente. “Os estudantes ocuparam o palco e o reitor ficou em um círculo rodeado por nós. Pessoas ficaram para fora do auditório, de tão lotado que estava”, relembra Rita.

Nesta assembleia, o reitor apresentou números que não faziam sentido para a luta que tinha começado a ser travada ali. “Os estudantes pautaram que não queriam só saber sobre números. A partir disso, saiu uma assembleia das três categorias, estudantes, técnicos e professores, com indicativo de levar para as bases a proposta que decidisse pela greve. O curso de psicologia foi o primeiro a parar no dia 2 de setembro”, complementou.

 

Fature-se

Mesmo com o programa podendo ter a adesão ou não pelas universidades, aquelas que optassem por negá-lo não receberiam o recurso, porque esse dinheiro viria do setor privado através de um fundo de investimento nacional do Ministério da Educação (MEC), o que foi entendido como uma manobra pelos estudantes.

“Apesar de o Future-se não ter ido para todas as universidades e a redução de investimento não estar acontecendo em todas, a UFSC foi muito afetada, porque o maior corte foi para essa instituição”, explicou Mariah.

“Não que não estivéssemos discutindo os cortes antes, mas o debate ganhou mais adesão após o Future-se, que foi lançado pelo governo nas férias. A crítica ao programa partiu da proposta de colocar as OS (Organizações Sociais) nas universidades e da perda da autonomia dentro da instituição, da gente poder criticar o Estado e criticar o próprio governo, porque entendemos que temos esse papel. Aos poucos fomos nos apropriando sobre o que representava o programa, que está relacionado com os cortes que a universidade vem sofrendo”, explicou Maria Luzia.

A redução de investimentos estava ocorrendo também em outras instituições como a Universidade de Brasília (UNB), que chegou a demitir 1 mil terceirizados.

“Tudo aquilo que já era nacional e vinha atingindo as outras instituições causou uma eclosão, porque nós percebemos que não tinha outro jeito, que apenas atos não estavam resolvendo e decidimos ir para a greve e radicalizar a luta”, conta a estudante Mariah. “Foi daí que surgiu o questionamento se daria para continuar estudando nessas condições”.

Outro fato importante que fez a greve acontecer foi o reitor anunciar que a Universidade iria fechar em 15 de outubro, pelos cortes na área da Educação.

“Pelo menos 95 terceirizados foram demitidos, o que acarretou que as aulas noturnas não poderiam acontecer em lugares distantes do campus, por falta de equipe de segurança. As mulheres que trabalham na limpeza ficaram sobrecarregadas, tivemos laboratórios assaltados pela falta de segurança”, elencou Maria Luiza. “Concluímos que o governo estava precarizando a universidade cada vez mais, sem condições para a permanência estudantil. Tudo querendo enfiar um projeto goela abaixo”, completou.

 

Unidade com outras categorias

Na avaliação de Mariah, houve um esforço para que outras categorias também integrassem o movimento, no entanto, as dificuldades de adesão dos trabalhadores, devido à crise, somada com algumas entidades que dirigem essas categorias dificultaram as coisas.

“A gente fala da UNE e das outras Centrais Sindicais. Essas entidades não somaram esforços para nacionalizar a greve. Hoje, nós temos um diretório nacional na universidade que é da UNE, travando a luta o tempo todo, então, nós tivemos que atropelar essas entidades e tocar a luta”, explicou.

“Com o tempo é muito difícil manter uma greve só estudantil, devido a toda essa burocratização. Ainda assim, tivemos apoios importantes, os técnicos-administrativos estiveram do nosso lado, organizados pela Fasubra”, reconheceu Mariah.

Os estudantes tinham o entendimento de que a greve na UFSC sozinha não era o suficiente para enfrentar o governo, a correlação de forças seria mais difícil, a partir daqui começou-se a tirar frentes de ação dentro do movimento “UFSC Contra o Future-se”.

O movimento grevista avaliou que a Greve Nacional por tempo indeterminado era a única forma de barrar o programa, e começou a fazer essa articulação, com os trabalhadores de outras universidades. O trabalho foi iniciado nas instituições do Sul do país, pela proximidade, e o efeito tem sido muito positivo.

“A gente fez comitivas para a UFPR [Universidade Federal do Paraná] e para a UFS [Universidade Federal da Fronteira do Sul], entre outras. A Universidade Federal de Santa Maria já está em greve por tempo indeterminado, também iniciada pela base, assim como outras”, explicou Maria Luiza.

“De qualquer maneira, o que tínhamos pensando está se concretizando, que são as universidades do Sul começarem essa mobilização, e depois que a gente consiga avançar para os outros estados”, disse.

 

Os desafios da greve que já dura um mês

Manter essa luta tem sido um desafio, explica a estudante Mariah que reconhece as dificuldades que foram colocadas, com entidades que não estão construindo a luta e dirigem o movimento. “Tem esse plano de sangrar o Bolsonaro para a eleição 2022 e não irem para a luta, e inclusive quererem acabar com a greve”, avaliou.

“Antes de virmos para o Congresso da CSP-Conlutas, eles negociaram com o Diretório Central, junto com a direção nacional da UNE, o fim da greve, para que não nos prejudiquem academicamente, coisa que tínhamos que ganhar pela luta do movimento. Hoje, enquanto estamos aqui, acompanhamos a assembleia (online), cuja pauta era o fim da greve, que perdeu para uma proposta que dizia que isso deveria ser discutido em uma assembleia que seja para pautar o fim da greve”, explicou.

 

Imagem: CSP – Conlutas.

 

Mariah reforçou que a paralisação tem enfrentado problemas, mas não no interior do movimento ou porque os estudantes não querem lutar, “mas porque tem entidades e direções que são traidoras”.

 

Future-se pode virar projeto de lei

O Future-se foi recusado em sua totalidade pelo Conselho Universitário, após muita luta dos estudantes, porque havia a intenção de aceitar itens do projeto.

No entanto, o Future-se ainda é apenas um programa do governo e pode ser recusado pelas universidades. Por isso, a luta também é para que ele não vire um projeto de lei o que poderia fazer com que fosse imposto às instituições de ensino.

“Ainda assim, é uma vitória a gente conseguir barrar o Future-se como programa na maioria das universidades”, apontou Mariah.

A estudante Maria Luzia pondera, contudo, “não poder comemorar a vitória antes da hora”. “O governo não está recuando em nenhum momento, continua com processo para que vire um projeto de lei. O ministro da Educação fez uma nota dizendo que está se criando uma comissão de juristas, para entrar em contato com as universidades, em 15 dias, para que se implemente um PL e comece a tramitar”, explicou Maria Luiza.

 

‘Sem tempo, irmão’: É preciso radicalizar

Mariah reforça a necessidade de mobilizar todas as universidades, ganhar os docentes, os técnicos administrativos, fazer girar a greve Nacional da Educação, e que isso se amplie para todas as escolas. “Bolsonaro quer militarizar as escolas básicas, o que significa um projeto de repressão. Por isso, o movimento precisa caminhar para a construção de uma Greve Geral no país”.

 

Além disso, a unidade com outras categorias é o trunfo para que todos consigam barrar esse desgoverno de Bolsonaro e seu projeto de tornar o Brasil ‘terra arrasada’, acabando com direitos básicos. “Esses ataques à Educação, são os mesmos que estão privatizando Correios, a Petrobras, empresas públicas. Há uma necessidade de unidade entre a juventude e os trabalhadores, porque é assim que vamos derrotar esses ataques todos, uma saída mais radical, não podemos esperar mais três anos, estamos ‘sem tempo, irmão’, concluiu.

 

Fonte: CSP – Conlutas.


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