Na
primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se
escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
(“No caminho, com Maiakovski”, Eduardo Alves da Costa)
A assembleia da ADUR, reunida no dia 16 de julho de 2015, fez um
balanço da conjuntura e resolveu apontar para a categoria de
professores, para os estudantes, técnico-administrativos e
terceirizados algumas reflexões.
O Brasil enfrenta no ano de 2015 a política de ajuste fiscal
articulada por uma frente pluripartidária que agrupa PT, PMDB, PSDB,
PCdoB e praticamente todos os partidos da oposição e da situação.
Essa política tem tido como foco estratégico o corte de gastos
sociais, e por isso os ataques contra a educação, preservando,
entretanto, os recursos para pagamento da dívida pública e para
investimento em obras de logística (interesse dos grandes
empresários nacionais e estrangeiros). O ajuste fiscal é também uma
articulação institucional que conta com o apoio de burocracias e
dirigentes de órgãos de governo em múltiplos níveis.
Em primeiro lugar, o ajuste fiscal é uma política. Não é uma decisão
“técnica”. A política do ajuste fiscal é de aumentar os ganhos do
grande capital, transferindo para a sociedade global as contas do
cassino financeiro com que eles tanto lucraram desde 2008. Essa
decisão de cortar recursos da educação somente explicita que o
investimento no “público” deve ser sacrificado para garantir os
ganhos da iniciativa privada.
Sendo uma política e não um dado da natureza, ela precisa ser
problematizada. Do ponto de vista do interesse coletivo, público, os
cortes dos investimentos e gastos com educação são criminosos. E
para esse crime colaboraram todos os reitores que apoiaram a
candidatura Dilma Roussef, abdicando da autonomia universitária e se
jogando na tutela mais vergonhosa. E mais, agora, depois que ficou
claro que não existia nenhuma política de apoio à educação pública,
esses mesmos reitores tentam minimizar os efeitos do ajuste fiscal
nas universidades. Ajudam então a terminar de precarizar e demolir
as condições de trabalho e estudo, em nome dos interesses mais
mesquinhos da frente pluripartidária, que apesar da guerra de
frases, compartilham os mesmos interesses de política econômica.
Agora, os reitores e a alta administração das universidades estão
auxiliando a aplicar as medidas de ajuste fiscal, ao minimizar os
efeitos dos cortes. Apelam para maior “eficiência” e “colaboração”,
como se o problema fosse esse. O governo já atrasou verbas diversas,
verbas de auxílios a estudantes, bolsas, recursos de pesquisa e mais
recentemente anunciou uma medida que atinge diretamente a
pós-graduação. Infelizmente, muitos só viram o problema quando esse
alcançou o seu jardim, como diz o poema, e quando já era tarde
demais.
A situação é grave e tende a piorar. As administrações
universitárias são todas elas cúmplices de uma política educacional
subserviente ao modelo neoliberal e ao sucateamento. Muitos setores
(professores, estudantes, técnicos) ainda ficam perdidos nas ilusões
de que alguém de cima irá intervir e salvar a situação. Isso não irá
acontecer. Outros são deliberadamente governistas e oportunistas e
estão de corpo e alma entregues ao modelo em crise e com ele irão
para a o lixo da história.
É por isso que chamamos todos os trabalhadores da universidade e
estudantes para a luta. Não há saída fácil para a crise que
enfrentamos. Mas o primeiro passo é romper com o imobilismo e as
ilusões. Somente a ação coletiva pode manter direitos e garantias
mínimas e a utopia de uma educação pública a serviço dos
trabalhadores, dos explorados e oprimidos. O próximo semestre deve
ser de acúmulo organizativo. Por isso conclamamos os docentes,
técnicos e estudantes a fortalecerem o Comitê de Mobilização,
intensificarem as ações locais e o debate político, para criar as
condições de realização de uma assembleia de mobilização comunitária
que possa traçar formas de luta dentro da UFRRJ e a contribuição da
Rural para a luta nacional das universidades.