Texto aprovado do PNE ratifica política de
privatização da educação |
Os últimos destaques do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê
metas para todos os níveis da educação no país a serem implementadas
no decênio 2011-2020, foram aprovados no início de junho, no
plenário da Câmara dos Deputados. Em seu texto final, o plano prevê,
de forma contraditória, uma política de destinação do dinheiro
público para as empresas privadas, que comercializam serviços na
área do ensino. Nesse sentido, os 10% do PIB aprovados para o
financiamento na educação não serão exclusivamente destinados para a
rede de ensino pública, indo na contramão da garantia da educação
gratuita, pública, laica, de qualidade socialmente referenciada para
toda a população, em todos os níveis – como defende o ANDES-SN.
De acordo com o PNE aprovado, o investimento na educação será
ampliado progressivamente: um mínimo de 7% do PIB no quinto ano de
vigência da lei, e 10% do PIB ao fim do período de dez anos. Ou
seja, a aplicação, além de não ser exclusiva para a educação
pública, será gradual. De acordo com Elizabeth Barbosa, uma das
coordenadoras do Grupo de Trabalho Política Educacional (GTPE) do
ANDES-SN e 2ª vice-presidente da Regional do Rio de Janeiro, esse
investimento, da forma como é apresentado, não funciona, pois o
financiamento precisaria ser imediato para começar a resolver os
problemas da educação pública, afinal as demandas de 2024 serão
maiores. Da mesma forma, Rubens Luiz Rodrigues, também coordenador
do GTPE e 1º Vice-Presidente da Regional Leste, avalia que os 10%,
que serão aplicados escalonadamente até 2024, não atendem às
exigências e às necessidades da educação pública brasileira de
imediato. "O Brasil continua com índices de analfabetismo em torno
de 10% e a qualidade de ensino continua precarizada, com crianças,
jovens e adultos não se apropriando do conhecimento. Então, os
problemas são para agora, não para daqui dez anos", ressalta
Rodrigues.
Além disso, o texto final aponta que os recursos também serão
utilizados para financiar a educação infantil em creches
conveniadas; a educação especial; e programas como o de acesso
nacional ao ensino técnico e emprego (Pronatec), o de bolsas em
faculdades privadas (Universidade para Todos – ProUni), o de
financiamento estudantil (Fies) e o de bolsas para estudo no
exterior (Ciência sem Fronteiras). “Essa proposta de financiamento
para a ‘educação’, de forma generalizada, permite um esquema de
privatização, fazendo com que o empresariado possa gerenciar, por
dentro, as verbas públicas da educação, por meio da concepção do
público não-estatal, que é o que o governo reforça com as parcerias
público-privadas e com os contratos de gestão. Então, desse ponto de
vista, a expectativa é que a formação da escola já se desenvolva de
acordo com as exigências do empresariado, visando formar o sujeito
sob a ótica do mercado, e não a partir do interesse dos
trabalhadores”, aponta Rubens Luiz Rodrigues.
Ana Maria Ramos Estevão, integrante do GTPE e da Regional São Paulo,
esclarece que o governo já havia aprovado cinco bilhões de reais
para o Fundo de Financiamento Estudantil, através de medida
provisória, e também definido o perdão da dívida trabalhista das
particulares em troca de bolsas. “O que o governo está fazendo é a
privatização fatiada, o PNE vem para ratificar essa política”,
afirma. A destinação de quase 5 bilhões de reais para educação
privada, que abre crédito extraordinário de R$ 4,9 bilhões para o
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), foi aprovada pela Comissão
Mista de Orçamento, no mês de maio, através da Medida Provisória
(MP) 642/14.
Elizabeth Barbosa também destaca que, no texto do PNE, foram
incluídos alguns jogos de palavras que geram dúvidas a respeito de
para onde efetivamente irá o financiamento, como, por exemplo,
quando passa da perspectiva de ensino público à perspectiva de
ensino gratuito – estratégia de investimento do setor privado, como
o Sistema S, formado por entidades que oferecem cursos gratuitos em
áreas da indústria e comércio, como uma forma de complementação de
conhecimento, preparatório para o mercado de trabalho. “Quando o PNE
trata de financiamento, ele diz que é para educação pública e para o
ensino gratuito, que são os programas Prouni, Pronatec, entre
outros. Porque o público, para eles, necessariamente não é o
estatal. O PNE reforça também toda a política do REUNI, é uma
reafirmação da precarização do ensino universitário e o ensino
geral, ou seja, a educação como um todo”.
Além da questão do financiamento, que já se mostra insuficiente,
haja vista a repartição com o setor privado, outro ponto negativo a
ser destacado é a forma como se deu a construção do Plano Nacional
de Educação. Ana Estevão afirma que “o governo aprovou o PNE sem ter
passado sequer pela Conferência Nacional de Educação (Conae),
organizada pelo próprio governo. É um plano que não foi construído
com a sociedade, e sim com o reforço da iniciativa privada, da
bancada das particulares, sob a pressão desses grupos”.
O ANDES-SN se contrapõe ao uso do dinheiro público para a rede
privada de ensino, que cada vez mais concentra sua prioridade no
lucro, concebendo a educação como mercadoria. De acordo com
Marinalva Oliveira, presidente do Sindicato Nacional, “o texto
aprovado não atende às reivindicações da sociedade e dos movimentos
sociais e apenas ratifica as ações que já estão sendo implementadas
pelo governo federal. Todo o sistema educacional do país precisa de
mais investimentos, mas é a aplicação imediata dos 10% do PIB para a
educação pública que aponta para a solução do problema da
precarização da educação como um todo”.
* Com informações do Último Segundo e Carta Capital.
Fonte: ANDES-SN, com edição da ADUR-RJ.