Pezão rasga a Constituição e
tenta demitir mais de 500 profissionais de educação em greve |
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Enquanto a bola rola em estádios luxuosos, mais educadores
ficam sem salários e podem perder o seu emprego público.
Embora esta pareça uma frase contraditória já que uma das
condições de ser funcionário público é a estabilidade,
garantida pela constituição brasileira, os servidores
públicos só podem ser demitidos se cometerem faltas graves
ou abandonarem o emprego. Ao abrir mais de quinhentos
inquéritos administrativos com o objetivo de demitir
profissionais da educação que aderiram à greve, é cometida
uma das maiores aberrações trabalhistas que se tem notícia.
Professoras aposentadas, militantes experientes, afirmam
nunca ter visto nada parecido. Este governo não respeita
quem educa e nem muito menos quem aprende.
Como compreender os tempos atuais? Talvez enquanto o ano de
2013 é conhecido como o ano que o monstro acordou, o de 2014
será o ano que governos tentaram destruir o monstro,
produziram leis específicas pra isso e rasgaram a Carta
Magna. Interpretar greve como falta sem justificativa é uma
ação autoritária que fere diretamente o Estado Democrático
de Direito. Não estamos passando por um golpe? |
Como então descrever os tempos atuais, onde manifestantes são
presos, uma lei de segurança nacional é criada para a Copa do Mundo
e todas as greves são julgadas ilegais, sindicatos multados e
profissionais demitidos, mesmos os funcionários públicos.
Até o agora o autoritarismo se justificava transformando
manifestações legítimas em atos de vandalismo. Mesmo o Governador
Geraldo Alckmin, representante da direita conservadora de São Paulo,
diante da grande mídia tentou disfarçar que sua atitude de demitir
os metroviários, fosse pela greve. Não há dúvidas que foram ações de
retaliação. O governador Pezão e seu Secretário Wilson Risolia não
esconderam que seu ataque é diretamente aos profissionais da
educação em greve. Sendo o direito de greve garantido pelo artigo 9º
da Constituição Federal do Brasil, devendo ser exercida em sua
plenitude, sem punições ou restrições quando exercida, tal atitude
revela um desrespeito com as leis que garantem a democracia
brasileira.
Talvez o atual governador do Rio de Janeiro já em campanha pelo
Estado, inaugurando Centros Vocacionais Tecnológicos, UPAs, antes de
estarem prontos, queira deixar claro qual o seu compromisso com a
Constituição Brasileira, com as leis trabalhistas e com a educação
da Rede Estadual. Sua intransigência, autoritarismo e inabilidade
ficam expostos quando ao se deparar com sua primeira greve na
educação, não abrir nenhum canal de negociação.
A greve da educação entre as reivindicações mais corporativas como o
reajuste salarial de 20% e condições melhores de trabalho, traz um
grande debate sobre o projeto político pedagógico que se quer para
as crianças e jovens do país. A educação não é neutra, ao optarem
por uma educação voltada para metas, e avaliações externas, em
detrimento de uma pedagogia que pense na formação crítica, criativa
e que respeite as variadas realidades, está se desenhando um modelo
de sociedade.
A Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro na gestão do
Secretário Risolia é marcada pelo fechamento de escolas, onde muitas
serviam a bairros inteiros, com trabalhos comunitários valorosos,
como o C.E Professora Luiza Vieira em Magé. Também terá seu período
registrado pelas inúmeras turmas fechadas durante o ano letivo,
turmas com 20,25 ou mais alunos assíduos. Em um momento que os
professores lutam pelo quantitativo máximo de 25 alunos por turma.
Alunos sendo vistos como números e metros, pois salas são medidas
para avaliarem quantas cadeiras cabem. Para a metragem estar certa
as cadeiras devem estar perfiladas, mas se o professor preferir dar
aula em roda, talvez não caibam todos na sala. Marcado também pelo
medo e ameaças. Diretores falam que são ameaçados e por isso
ameaçam, o assédio moral tornou-se rotina. Professores perdem sua
autonomia, submetidos a utilizarem notas de provas externas,
currículo mínimo e projetos interdisciplinares propostos pela SEEDUC
e suas coordenadorias. O que era para envolver toda a escola, e ser
um momento prazeroso para o aluno, passa a ser espaço para ganhar
ponto e muitas fotos para mostrarmos para a GIDE. Quase uma “Dona
Gide”, sempre presente com seus supervisores. Qual o profissional do
Estado nunca ouviu: ”Hoje não dá, pois tem supervisão da GIDE”, como
se os profissionais fizessem algo errado.
A falta de democracia é a principal característica desses tempos,
dentro e fora das escolas. Além da ausência de eleição para Direção
das escolas, do ataque a organização política dos estudantes, os
quais não podem participar de um grêmio livre e da ausência de
instâncias de debate real, a gora os profissionais estão sendo
proibidos de exercerem seu direito constitucional de greve.
O Sr. Luiz Fernando Pezão rasga a Carta Magna e expõe seu
compromisso com os direitos dos trabalhadores do Estado do Rio de
Janeiro.
Fonte: (*) DANIELA ABREU | Tribuna da Imprensa | on line de 24 de
junho de 2014.
Publicado também pela CSP-Conlutas