Orçamento
previsto não reajusta salários, mas destina R$ 1 trilhão ao
superávit
Auditoria Cidadã
da Dívida revela, em atividade política da Campanha Salarial
Unificada de 2014, que servidores públicos federais vão ter perda
histórica se não lutarem
O Orçamento da
União para 2014 revela a continuidade da política do Estado mínimo
implantada no país desde a década de 1990. Essa é uma das conclusões
do Seminário sobre a Dívida Pública, realizado pela auditora fiscal
e coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia
Fattorelli, na manhã desta quinta-feira (6), no auditório Nereu
Ramos da Câmara dos Deputados.
Uma das
atividades do lançamento da Campanha Salarial Unificada de 2014 dos
servidores públicos federais, o seminário esclareceu a relação do
sistema da dívida, ou seja, das dívidas externas e interna e do
superávit primário, com as perdas salariais da categoria, com a
retirada do Estado da prestação de serviços públicos e da
privatização de direitos sociais, tais como a previdência, a saúde,
a educação e a habitação.
As investigações
da Auditoria Cidadã mostram que está prevista uma perda salarial
histórica para os servidores públicos federais em 2014. Um estudo da
Lei Orçamentária deste ano, realizado pela entidade, revela que a
lei definiu uma queda dos gastos com o pessoal em relação à receita
corrente líquida.
“No Anexo V da
Lei Orçamentária, que inclui os aumentos de gastos com o pessoal,
prevê para aumento com gasto com pessoal, R$ 15,4 bilhões, dos quais
R$ 12,5 bilhões cobrem os reajustes salariais e a alteração de
estrutura de carreira, que já estavam previstos nos acordos de 2012.
Esse recurso se refere exatamente ao reajuste de 5% que os
servidores federais estão recebendo e que não cobrem a inflação.
Desse valor total, menos de R$ 3 bilhões serão destinados a novos
cargos, diante dos concursos previstos para este ano. Não há
previsão para ganho salarial”, assegura a coordenadora da Auditoria.
Ela afirma que se
quiser reaver o valor real dos salários, o servidor público terá de
entabular uma luta muito forte para mudar o cenário. “Além disso,
para o Orçamento de 2014, R$ 1 trilhão serão destinados à dívida
pública. O superávit primário previsto é de 3,17% do Produto Interno
Bruto (PIB), o salário mínimo de apenas R$ 724 e uma inflação
prevista de 5,8%. Isso significa que, se o reajuste vai ser 5%, há
aí mais uma perda anunciada”, demonstra Fattorelli.
Com base nos
cálculos expostos em slides, Maria Lucia afirma que, “diante desse
cenário em que a dívida absorve a maior parte dos recursos, não
sobra dinheiro nem para reajuste salarial, nem para investimento nos
serviços públicos e nem para a estrutura de Estado. O resultado
disso é que esse modelo econômico aponta para o aprofundamento do
processo de privatização”.
POLITIZAÇÃO E
DIALÉTICA
O 2º secretário
do ANDES-SN, Paulo Rizzo, que representou o Sindicato Nacional no
seminário, destacou a frase “a emancipação os oprimidos será obra
deles mesmos”, de Karl Marx, que finaliza os slides da apresentação
de Maria Lucia Fattorelli. “Ao ter essa referência, gostaria de
ressaltar o método de Marx: o pensamento dialético e relacional, que
a exposição de Maria Lucia revela entre nossa campanha salarial e a
dívida pública. Governo e mídia insistem em escamotear que é a
dívida que corrói o Orçamento e buscam fazer crer que se gasta muito
com políticas públicas”, afirma Rizzo.
O dirigente do
Sindicato Nacional acredita que a campanha salarial de 2014 iniciou
no caminho certo a partir da percepção de que as entidades estão
tendo da conjuntura do país e de que este é um ano de politização
das lutas. “Este é o ano de trabalharmos na base a politização,
conseguindo relacionar as reivindicações mais imediatas com os
desafios políticos e esse é o momento para isso, pois estamos num
ano de efervescência política”, afirmou.
Fonte: ANDES-SN, 6/2/14.