Ocupação em Duque de Caxias sofre tentativa de despejo pela PM
     

Cerca de 50 famílias que integram a Ocupação Solano Trindade (Duque de Caxias, na Baixada Fluminense) sofreram uma tentativa de despejo pela polícia militar na tarde do dia 21.  Elas ocupam desde o dia 8 de agosto parte do terreno do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa, de responsabilidade do Incra, há cerca de 12 anos sem uso. A Ocupação foi organizada pelo do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) do Rio, que selecionou famílias do município, atingidas por enchentes ou que aguardam no cadastro do programa habitacional do governo federal para populações de baixa renda.

A operação policial ocorreu sem a apresentação de nenhum documento judicial e sem identificação do mandante. Por se tratar de propriedade da União, uma desocupação só poderia acontecer legalmente se fosse feita pela polícia federal e com a presença de um oficial de justiça.

 

Localizado em uma área urbana a 20 minutos do centro da cidade, o terreno da Ocupação Solano Trindade é vizinho a uma Escola Municipal e próximo à FEUDUC (Fundação Educacional de Duque de Caxias). A Secretaria de Patrimônio da União (SPU) até o momento vinha negociando com as famílias organizadas pelo Movimento Nacional de Luta Por Moradia (MNLM), o que faz com que se desconfie de que a tentativa de despejo atual se originou da pressão dos poderes locais.

No dia 11, em reunião entre representantes do MNLM e a superintendência da SPU e INCRA, ficou acordado o repasse imediato do imóvel a SPU para Regularização das famílias num prazo máximo de duas semanas. Porém, no último dia 13, um procurador do município foi até o local afirmando a posse de uma liminar para saída imediata das famílias do imóvel, segundo ele, resultado de um pedido de “interdito proibitório” da prefeitura à Justiça Federal, ameaçando o uso da Polícia Federal para realização de despejo mesmo sem apresentação de número do processo judicial ou qualquer documento. Além disso, frequentemente policiais têm ido ocupação, na tentativa de intimidar as famílias, em uma região que é dominada por milícias.

O município de Duque de Caxias conta com um déficit habitacional de 19 mil moradias sendo que o número de domicílios vagos ultrapassa 35 mil unidades (dados da Fundação João Pinheiro, 2000). Cidade da periferia do Rio de Janeiro, cujos moradores compõem a massa de trabalhadores da metrópole, é vizinho ao metro quadrado mais caro do Brasil. As famílias que se encontram na Ocupação Solano Trindade lutam para que se cumpra a Função Social da propriedade, conforme prevê o artigo 182 da Constituição Federal.

De acordo com um dos líderes do MNLM, Gelson Almeida, o que garantiu a continuidade da Ocupação Solano Trindade foi o fato de a Polícia Militar (PM) ter constatado que as famílias tinham permissão para permanência temporária na área, dada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que também tem autorização provisória para ocupar o terreno da União.

“Tivemos um processo de negociação com os órgãos federais envolvidos [Incra e Secretaria de Patrimônio da União]. Os órgãos, em conjunto, fizeram um ofício e enviaram para a PM, que fez uma operação interna liberando o local”, explicou Almeida. “Temos que pressionar os órgãos e a prefeitura de Caxias para que nesse terreno sejam feitas as unidades habitacionais que apresentamos e que fariam parte do Programa Minha Casa, Minha Vida, mas a nossa permanência aqui está garantida”, disse.

 

No dia 21/8, o Incra havia informado, em nota, que em dezembro de 2013 deu à prefeitura de Caxias uma autorização provisória para ocupar a área. A autorização tem duração de dois anos, está em vigor, e no local a prefeitura pretende implantar um polo de desenvolvimento de moda, arte e cultura.

 

 

 

 

 

Fonte: EBC/ Agência Brasil e Informes da CSP Conlutas,
com informações de Bruno Marinoni/Intervozes, e foto de Mídia Ninja

 

 

 

 


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