Nota de repúdio da diretoria da ADUR-RJ à postagem “Programa de
Voluntários”
A diretoria da ADUR-RJ vem a público repudiar a postagem intitulada
“Programa de volutários”, divulgada na página da UFRRJ em
13/03/2014. A nota visa incentivar nossos estudantes a se somarem
nos programas de trabalho voluntário para a realização da Copa e
Olimpíadas, destacando uma suposta significação positiva destes
programa para vida profissional dos discentes.
Os megaeventos são responsáveis por remoções, transferência de verba
pública para grandes empresas e especuladores, violência contra a
classe trabalhadora, repressão e prisão arbitrária de manifestantes.
A universidade não pode ser, de modo algum, cúmplice desse processo,
marcado pela segregação e violência. Por isso dizemos: NÃO À COPA
e toda e qualquer apologia a ela. Não existe cidadania na Copa,
existe restrição e negação de direitos, razão pela qual não pode
haver formação cidadã no trabalho voluntário dos megaeventos.
Desapropriações, violência policial e criminalização dos movimentos
sociais são diferentes faces de um mesmo processo: um megaevento que
proporciona bilhões de dinheiro público para as empreiteiras e, ao
mesmo tempo, impõe a segregação e a violência aos trabalhadores. A
prioridade são as grandes obras com retorno zero para a maioria da
população, que sofre com o caos urbano, a higienização social nas
cidades-sede e a repressão policial. É a verba que deveria ser
investida em saúde e educação que está financiando os empreiteiros e
a indústria de armamentos. Por tudo isso, nos colocamos frontalmente
contra essa política que garante os megaeventos custeados pela
miséria e violência de Estado.
Entendemos que o mínimo que a FIFA e seus apoiadores deveriam
ofertar à população é a possibilidade de trabalho remunerado no
decorrer do evento. A grande massa da população está excluída de
todos os supostos benefícios do megaevento. Ela se depara com um
vertiginoso aumento do custo de vida e é expropriada do seu direito
à cidade. Impedida de ter acesso ao espetáculo do qual participa
apenas pagando a conta, tem seu cotidiano de exploração aprofundado
pelo aumento abusivo dos aluguéis e pela precarização máxima do
transporte público de má qualidade, caro e superlotado.
Trabalhadoras e trabalhadores são, todos os dias, submetidos a
ônibus e trens lotados, sem o mínino de dignidade ou segurança. Um
exemplo disso é a Supervia, que rotineiramente deixa no meio do
caminho entre a casa e o trabalho milhares de pessoas.
Não cabe à universidade pública incentivar essa estratégia de
subordinar a força de trabalho dos seus estudantes sem a devida
remuneração, com o objetivo de garantir um evento cujas marcas são a
injustiça social e a violência. Isso significa apoiar o investimento
dos escassos recursos destinados pelo governo federal à educação no
fomento da precariedade e da exploração do trabalho e não na
pesquisa, ensino e extensão, tarefa da universidade. Assim, a
administração central da UFRRJ, ao publicar a nota citada, assume
postura oposta ao papel crítico e reflexivo que uma universidade
pública, comprometida com a sociedade, deve assumir. Da mesma forma,
estimula a falsa ideia de que todo e qualquer trabalho voluntário
contribui para a formação acadêmica e cidadã dos nossos estudantes.
Silenciar-se sobre a perversa realidade decorrente das
arbitrariedades da FIFA e dos Governos Dilma/Cabral e, mais do que
isso, chamar nossos estudantes a contribuir com um projeto marcado
pela exclusão social e violência policial é, mais do que romper com
nosso compromisso com a formação crítica dos nossos alunos, apontar
a eles o caminho equivocado de uma formação não comprometida com a
realidade que nos cerca. Por tudo isso, como professores e
professoras da UFRRJ, temos o dever de proclamar: não aos
megaeventos! Não ao trabalho voluntário na Copa! Universidade é para
formar cidadãos críticos e atuantes e não para fornecer mão-de-obra
barata para a FIFA, banqueiros e empreiteiros!
Verba pública para saúde e educação!
Se não tem direitos, não vai ter copa!