Morto em 1876, filósofo russo é
citado como suspeito em inquérito no Rio de Janeiro |
|
|
|
Reportagem publicada (28/7) no jornal Folha de S. Paulo
trouxe uma revelação no mínimo curiosa: o inquérito de mais
de duas mil páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio de
Janeiro, que responsabiliza 23 pessoas pela organização de
ações violentas em manifestações de rua, aponta o filósofo
Mikhail Bakunin como um dos suspeitos. Morto em 1876, o
russo é considerado um dos pais do anarquismo.
De acordo com a matéria, Bakunin foi citado por um
manifestante em uma mensagem interceptada pela polícia. A
partir daí, passou a ser classificado como um “potencial
suspeito”. A professora Camila Jourdan, de 34 anos, uma das
investigadas, menciona esse episódio para demonstrar a
fragilidade do inquérito. “Do pouco que li, posso dizer que
esse processo é uma obra de literatura fantástica de má
qualidade”, descreve. |
|
|
Essa não é a primeira vez que intelectuais já falecidos figuram em
autos das autoridades brasileiras. Durante a ditadura militar,
Karl Marx era um dos fichados no Departamento de Ordem Política
e Social (Dops), um dos principais órgãos de repressão aos
movimentos políticos e sociais identificados como “subversivos”.
Jourdan ficou 13 dias presa no complexo penitenciário de Bangu, na
zona oeste do Rio. Conhecida pela excelência acadêmica na
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o
programa de pós-graduação em Filosofia, ela diz sido alvo de uma
invenção dos investigadores. “Existe uma necessidade de se fabricar
líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no
papel de mentora intelectual? A professora universitária. Caiu como
uma luva, entendeu?”, afirma.
Para contestar o “papel de liderança” que lhe foi atribuído pela
polícia, a professora se vale das teorias do filósofo francês
Michael Foucault. “Foucault diz que os intelectuais descobriram que
as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho
autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não
precisa de mim para este papel”, declara.
Fonte: Revista Fórum
|
|