Justiça suspende privatização de Hospital da
Universidade Federal de Juiz de Fora |
O juiz Guilherme Fabiano Julien de Rezende, da 2ª Vara de Juiz de
Fora, concedeu liminar ao Ministério Público Federal (MPF)
suspendendo o processo de privatização do Hospital Universitário
(HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por meio da
adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Segundo o juiz, a Ebserh é inconstitucional porque afronta a
autonomia didático-científica das universidades e o princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
A liminar, divulgada no site do MPF, no dia 3/9, aponta que essa
autonomia didático-científica serve para evitar a interferência
direta de elementos políticos exteriores no domínio do conhecimento
- o que impede o rompimento das atividades de desenvolvimento
científico e acadêmico dos estudantes brasileiros, não podendo,
assim, transferir essa atribuição para pessoa jurídica estranha à
entidade educacional, como a Ebserh. Segundo a decisão, os HUs, para
além de prestarem serviço de saúde à população, têm por finalidade a
concretização do aspecto prático do ensino das carreiras conectadas
à saúde, cumprindo, dessa forma, o princípio de indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão.
De acordo com Raquel Perrota, advogada da Assessoria Jurídica
Nacional (AJN) do ANDES-SN, a decisão proferida é muito importante
porque “pela primeira vez se adentra o mérito da questão,
afastando-se qualquer traço de constitucionalidade a embasar os
convênios realizados entre as Universidades Públicas, no caso a
UFJF, e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares”. Raquel
afirma que a liminar toca o mérito da questão de forma precursora e
cria precedente da mais alta relevância.
Claudia March, secretária geral do ANDES-SN, também destaca a
importância da liminar concedida pelo juiz Guilherme Fabiano Julien
de Rezende pela conexão imediata que traz entre o campo jurídico e
os argumentos políticos utilizados pelos movimentos de luta contra a
Ebserh.
“A decisão deve ser ressaltada tanto pelo fato de ser a primeira do
tipo que se baseia no mérito da questão, ou seja, do que representa
a Ebserh em termos de ataque à autonomia universitária, quanto pelo
fato de que confirma, no campo jurídico, os argumentos políticos que
tomamos como base para o embate com o projeto privatista dos HUs em
curso e seus impactos negativos para o ensino, a pesquisa, a
extensão e a assistência à saúde aos usuários do Sistema Único de
Saúde”, afirma
Claudia ressalta ainda que “prosseguir em nossas ações políticas de
enfrentamento e resistência à contratualização da Ebserh nas
universidades onde não houve assinatura de contrato e nas que já
aderiram, com o objetivo de reverter a adesão, passa pela ampla
divulgação da liminar concedida, importante elemento em nossa luta.
Reitero , entretanto , que nosso enfrentamento à Ebserh, que inclui
a luta no campo jurídico, não pode prescindir dos argumentos e
embates políticos que temos implementado”.
Entenda a Ebserh
Desde 31 de dezembro de 2010, último dia de Luiz Inácio Lula da
Silva como presidente da república, a saúde e a educação públicas se
veem em meio a um debate sobre como devem ser geridos os Hospitais
Universitários Federais (HUs). Naquele dia, Lula assinou a Medida
Provisória (MP) 520/2010, que criava a Ebserh, uma empresa
público-privada que serviria para gerir todos os HUs, sob a desculpa
de que os problemas dos hospitais eram apenas de gestão.
A Ebserh, porém, evidencia o que cada vez mais se confirma: um
caráter privatista. Seu projeto não garante a manutenção dos HUs
como hospitais universitários, onde se ensina, se pesquisa e se
pratica extensão. A Ebserh também contrata funcionários regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e não servidores públicos,
o que, em prática, precariza as relações de trabalho.
Após a aprovação do projeto de Lei que instituiu a Ebserh, o governo
federal passou a incitar os reitores a defenderem a adesão de seus
hospitais à Ebserh, muitas vezes de maneira rápida e sem debate,
outras sem nem aprovar a adesão nos conselhos superiores. Em algumas
situações, como no caso recente da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), o reitor fez uso de forte aparato policial para reprimir de
forma violenta as manifestações e conduzir a votação por telefone e
videoconferência.
Fonte: ANDES-SN.