Indígenas lutam contra construção
de complexo turístico em seu território |
Em luta por anos
aos ataques de especuladores imobiliários espanhóis contra suas
quatro aldeias, o povo indígena Tremembé, do município brasileiro de
Itapipoca, no Ceará, viu incendiada algumas das próprias casas no
último dia 10 de agosto. Para barrar as reiteradas tentativas de
apropriação do território Tremembé pelos espanhóis para construir um
complexo turístico, a comunidade resiste em acampamento e relata
ausência por parte do poder público.
Em encontro
agendado para o último dia 25 de agosto entre representantes das
quatro aldeias Tremembé e membros do Ministério Público Federal
(MPF), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), na sede do Instituto, na cidade de Fortaleza (capital do
Ceará), somente esta última instituição esteve presente. Para a
ocasião, era esperada a discussão de maneiras de pressionar pela
fiscalização no perímetro das terras indígenas no intuito de coibir
atentados e violências contra a comunidade e em favor da demarcação
de suas terras.
Em entrevista à
Adital, Adriana Carneiro de Castro, uma das lideranças da etnia,
conta que o incêndio destruiu cinco casas utilizadas pela comunidade
para reuniões e eventos culturais, além da destruição do material
guardado nos imóveis e de coqueiros plantados ao redor. "A gente não
viu nem sabe quem fez. Mas sabe dos interesses do projeto”, afirma.
Segundo ela, logo
após o incêndio, ocorrido há pouco mais de duas semanas, os
indígenas teriam acionado a Polícia Militar do Ceará, que teria
afirmado não se envolver no caso por tratar-se de território
indígena. "A gente ficou, nesses 15 dias, sem apoio algum dos órgãos
públicos”, apontou Adriana.
Adriana afirma
que a luta dos indígenas não se restringe à demarcação de terras ou
à sobrevivência das etnias Tremembé, mas faz parte da construção de
uma vida melhor para todos. "Estamos pedindo o apoio dos órgãos e,
principalmente, dos movimentos que lutam em defesa dos povos
indígenas e de um mundo mais verde, sem devastações”, disse.
Apesar de serem
reconhecidas pela Funai, as aldeias aguardam demarcação oficial de
seu território desde o ano de 2002. Para impedir a concretização do
empreendimento, é preciso que a Fundação demarque a área.
Entenda o caso
O projeto Nova
Atlântida, da empresa espanhola Afirma Housing Group, tem planejada,
desde 2008, a instalação de um complexo de 3.100 hectares no
município de Itapipoca. Informações do site EcoDebate – Cidadania &
Meio Ambiente apontam que o projeto envolve um consórcio entre 17
empresas e inclui 27 hotéis de luxo e sete campos de golfe, orçados
em R$ 15 bilhões (equivalente hoje a 6,58 bilhões de dólares). A
região é habitada por mais de 205 famílias, que estão ameaçadas de
perderem sua terra e sua cultura ancestral caso o projeto não seja
contido.
O EcoDebate
aponta que, desde 1981, a empresa espanhola negocia terras com
posseiros da região. Há mais de três anos, distribui mudas nas
escolas da região com o argumento de proteger o meio ambiente local
e tem aberto viveiros de plantas. No entanto, moradores locais
desconfiam dessas ações, apontando que as plantas não fazem parte do
ecossistema local, além de retirar o acesso da população aos
manguezais, fonte de sobrevivência da comunidade.
Os indígenas têm
recebido várias ameaças. Em 2005, a Polícia Militar de Itapipoca
chegou a agredir tremembés que protestavam contra a derrubada de um
coqueiral pela empresa, fonte de subsistência dos indígenas da
região. Na ocasião, a Funai apoiou os indígenas e a Polícia Federal
emitiu ordem judicial proibindo a entrada da empresa nas terras dos
Tremembé.
* Com edição do
ANDES-SN, 28/8/14.
Fonte: Adital