Mobilização no IB
Por conta da precarização das
condições de trabalho, professores do Departamento de Botânica
paralisam aulas práticas.
Estudantes assinam manifesto por melhorias |
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Acima, cartaz comunica suspensão das aulas práticas aos
discentes |
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Na manhã do dia 6 de outubro, os professores do Departamento de
Botânica/ Instituto de Biologia reuniram-se, comunicando aos
estudantes uma decisão difícil: desde o início deste mês, as aulas
práticas estão canceladas, por falta de condição adequada de
trabalho. Eles expuseram os inúmeros motivos que os levaram a tal
decisão e conclamaram os discentes para que, junto aos docentes e
aos técnico-administrativos, assinassem manifesto que reivindica, em
caráter de urgência, solução para problemas denunciados há bastante
tempo pelo referido Departamento, mas que não contam com a devida
atenção da Reitoria. O documento data do dia 9 de setembro e foi
enviado para a Administração Central e remetido para o Conselho
Universitário.
De acordo com o manifesto, os dezesseis professores do Departamento
de Botânica atendem a mais de 900 alunos de diferentes cursos de
graduação da UFRRJ, em 49 turmas de aulas práticas e 14 teóricas.
Para garantir boa condução das aulas práticas, sem prejuízos à
didática, são necessários vinte microscópios e 20
estereomicroscópios por turma. No entanto, os professores denunciam
que muitos desses aparelhos não estão funcionando. Do mesmo modo, a
UFRRJ já adquiriu equipamentos de péssima qualidade; alguns com mais
de trinta anos de uso – o que tem acarretado quebras constantes.
Além disso, os docentes levam seus computadores de uso pessoal/
particular quando vão ministrar aulas que necessitam de data-show.
Dois projetores estão com lâmpadas queimadas e, apesar das
solicitações, as sobressalentes nunca chegaram.
Os problemas não se restringem à falta de equipamentos, mas também
ao fato de o prédio do IB ser muito antigo, carecendo de reparos
imediatos em suas instalações hidráulicas e elétricas. “O prédio não
sustenta o uso de ar condicionado e computadores; não foi projetado
para abrigar tanta gente. Precisamos de uma reforma”, diz a docente
Genise V. Freire, lembrando que o telhado precisa ser consertado,
pois, há várias infiltrações. Segundo a Profa. Maria Mercedes T. da
Rosa, há goteiras em sala de aulas, em cima das carteiras. E o
reboco do teto está caindo. “Há várias bancadas para ligar os
aparelhos queimadas”, alerta, fazendo coro à necessidade de reforma
da parte hidráulica e elétrica.
Pelo mesmo memorando encaminhado à Administração Central, os
professores e técnicos se queixam de já ter avisado a Reitoria,
inúmeras vezes, de algumas dificuldades enfrentadas pelo coletivo.
Uma delas diz respeito, por exemplo, às duas pias entupidas no
laboratório, acumulando água suja e parada, há mais de seis meses.
Somente agora, depois de vários pedidos de reparo, será feita uma
pequena reforma. As salas de aula permanecem sem ar condicionado,
apesar das inúmeras solicitações. Na semana passada, correndo risco
de levar um choque, um professor precisou segurar a tomada para que
a eletricidade fosse conduzida até a bancada que os alunos plugam o
microscópio.
As escadarias que dão acesso às salas de aula e à secretaria do
Departamento estão, de acordo com a comunidade, constantemente sujas
de fezes e urina de morcegos, exalando odor desagradável, embora os
profissionais da limpeza cumpram com suas funções diariamente.
Outra questão alarmante é a falta de espaço para abrigar os
pesquisadores. Cerca de quatro docentes, em média, dividem o
gabinete com todos os seus orientandos, estagiários, bolsistas e
monitores. Espaço e climatização adequada também são
necessidades do Herbário, referência para pesquisadores. A falta de
ar condicionado potente, que permita manter a temperatura em torno
de 17 graus, ameaça a conservação de espécies admiráveis. Como dito
pelo documento em questão, os docentes do Departamento sentem-se
constrangidos em receber profissionais da área, que desejam
consultar coleções tão raras e importantes, em condições tão
precárias de funcionamento. Importante mencionar que, devido a falta
de espaço, parte do material catalogado está organizado no corredor
do Instituto, próximo a entrada. “O Herbário é a biblioteca básica
do Botânico! Temos um herbário consolidado, tradicional. E todos
sabem da importância dele, mas isso não é suficiente”, diz a
professora Denise M. Braz.
De acordo com o Professor Joecildo Francisco Rocha, é preciso
lembrar que a greve de 2012 tinha dois pontos de pauta bastante
específicos: carreira docente e melhores condições de trabalho. Ele
afirma que o segundo item de reivindicações foi o menos contemplado
durante a paralisação e que outros institutos da Universidade Rural
já apontaram as péssimas condições as quais estão submetidos,
realizando manifestações e paralisações. Lembrou que há processos
protocolados em 2011, junto à Administração Central, que ainda não
foram atendidos.
Prédio abandonado
Há mais de seis anos, o Instituto de Biologia teria um novo prédio,
próximo a Piscicultura, para atender ao Departamento de Botânica e
de Entomologia. As obras foram financiadas pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia, por meio de um Edital do CTInfra, que contou
com a participação do Departamento de Botânica em sua concepção. As
obras não foram concluídas.
De acordo com o Professor Joecildo Francisco Rocha, ainda durante a
gestão do Reitor Ricardo Miranda, o Departamento formou comissões
para discutir o destino daquela construção. As promessas da
Administração Central eram de retomar as obras, paralisadas por um
erro de cálculo da engenharia. “À época, o Reitor e a Pró-Reitora de
Pós-Graduação nos disseram que não poderíamos pedir mais dinheiro ao
CTInfra para finalizar as obras porque, para o CTInfra, a obra havia
sido concluída; o que nos causou bastante estranheza. Diante de um
momento que ocorre a chegada de recursos na Universidade por outras
vias, imaginamos que talvez pudesse ser usada uma verba
diferenciada, como a do Reuni, para evitar que o prédio fosse
abandonado. Desde agosto do ano passado esperávamos uma resposta.
Somente na semana passada houve um aceno de que entraríamos em uma
licitação para tentar a finalização do prédio”, conta o professor
Joecildo.
De acordo com a professora Genise Freire, houve dinheiro apenas para
levantar a construção, colocar uma laje e impermeabilizá-la. “Temos
um elefante branco. E temos medo que este prédio seja condenado. Se
ele não sai, não sei quais serão nossas perspectivas”, lamenta.
Para eles, a conclusão dessa obra seria importante para a
transferência da coleção científica do Herbário, permitindo abrir
espaço para uma reforma de laboratório e gabinete de professores,
resolvendo, parcialmente, o problema da falta de espaço.
Crítica aos Departamentos que não têm pós-graduação
Os professores Joecildo Rocha e Denise M. Braz afirmam que, durante
as reuniões dos órgãos colegiados da UFRRJ, percebem certa crítica
aos Departamentos que não possuem programas de pós-graduação.
“Fizemos uma proposta há dois anos, em outubro de 2012, e ela foi
negada pela Capes, sobretudo pela falta de compromisso da
Universidade em relação ao prédio mencionado, cuja obra não foi
finalizada. A reprovação da nossa proposta não aconteceu em função
do projeto apresentado ou ainda por causa do currículo dos
professores, mas sim porque eles queriam uma contrapartida da UFRRJ
em relação à estrutura”, conta Joecildo.
A professora Denise M. Braz lembra que o envio da proposta do
programa de pós-graduação do Departamento de Botânica esteve
condicionado à confirmação, por parte da Reitoria, de que haveria o
novo prédio.
Eles lembram que nos últimos dez anos, vários professores do
Departamento têm participado de diversos editais de pesquisa do CNPq
e da Faperj, conseguindo equipamentos para a instituição.
Entretanto, eles não são instalados pela Universidade, muitas vezes
sob a alegação de que a rede elétrica não suporta mais ar
condicionado, computadores, impressoras e afins. “Isso tem causado
muita resistência aos professores, que não querem mais concorrer
para esses editais. Eu sou um deles”, afirma Joecildo.
Direção da ADUR-RJ é solidária às reivindicações da comunidade do
IB
Os professores Alexandre Mendes, Grasiela Baruco e Luciano Alonso,
representaram a diretoria da ADUR-RJ durante o ato. De acordo com
eles, há anos, o mesmo grupo de docentes têm reivindicado o fim da
precarização do trabalho na UFRRJ, buscando fazê-lo pelos meios
formais. Para os diretores da Seção Sindical, paralisar as
atividades teóricas foi um ato extremo, de um grupo que está cansado
de implorar melhorias.
“Não existe um compromisso institucional com as condições de
trabalho; por isso, essas solicitações não são atendidas. Houve uma
redução significativa nas verbas da Universidade para investimento
e, vemos a ineficiência dos gestores para aplicarem os valores
recebidos”, disse Alexandre Mendes, presidente da Seção Sindical.
Para ele, o descaso da Administração Superior com as reivindicações
somente será transformado em ação concreta quando ocorrer a união
dos técnicos, estudantes e docentes. “As atitudes da Reitoria não
podem se limitar a apagar incêndios! Em abril, a Administração
Central se comprometeu com uma série de prazos, perante a toda a
Universidade, durante uma reunião do Conselho Universitário. O que
temos visto é o cumprimento de muitos desses prazos ficam presos em
burocracia e em procedimentos administrativos que a nossa
Universidade não tem tido a capacidade de encaminhar da maneira mais
eficiente para resolver seus problemas”, avalia Alexandre.
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Estudantes assinam manifesto por melhores
condições de ensino e trabalho. |
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Há mais de seis meses, pia entupida
acumula água suja. |
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Teto com infiltrações em um dos
laboratórios de aula prática. |
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