Governo expande Fies para
pós-graduação e amplia lucro das empresas de educação |
Após a aprovação
do texto final do Plano Nacional de Educação (PNE), que incluiu o
repasse de recursos públicos para financiar programas como o de
acesso nacional ao ensino técnico e emprego (Pronatec), a renúncia
fiscal para faculdades privadas (Universidade para Todos – ProUni),
o de bolsas para estudo no exterior (Ciência sem Fronteiras) e o de
financiamento estudantil (Fies), na última quarta-feira (2) foi
publicada, no Diário Oficial da União, a portaria do Ministério da
Educação (MEC) que amplia o fundo de financiamento para todas as
formas de pós-graduação stricto sensu, que envolvem os cursos de
mestrado, mestrado profissional e doutorado, expandindo assim o
repasse de verbas públicas para a educação privada em todos os
níveis.
Dessa forma, o
Fies, que opera através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), rompe com a exclusividade de atendimento aos cursos
de graduação da educação superior de instituições não gratuitas. A
partir de agora, estudantes matriculados em cursos superiores que
tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo MEC poderão
recorrer ao financiamento quando desejarem ingressar nos cursos de
pós-graduação stricto sensu.
A portaria
complementa a meta 14 do PNE, que prevê objetivamente elevar
gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu,
de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil
doutores. Como forma de viabilizá-la, o texto aponta a expansão do
financiamento estudantil por meio do Fies. De acordo com Daniel de
Oliveira Franco, um dos coordenadores do Grupo de Trabalho de
Política Educacional (GTPE) do ANDES-SN, “essa é uma justificativa
que eles lançam mão para fazer o repasse de dinheiro público para as
empresas que comercializam serviços na área de ensino. É mais uma
porta para o setor privado, desviando e restringindo ainda mais os
parcos recursos públicos para o atendimento das demandas atuais
necessárias à educação pública brasileira”. Hoje, a titulação anual
no Brasil é de 42.878 mestres e 13.912 doutores, conforme a matéria
do G1 de final de junho.
Segundo o MEC,
atualmente o Fies conta com 1,6 milhões de contratos firmados com as
IES privadas em relação aos cursos de graduação, dessa forma há
grande expectativa também para os contratos referentes aos cursos de
pós-graduação. Segundo dados da Capes, do total de 203.717
matriculados em pós-graduação stricto sensu no ano de 2012, 31.691
(15,5%) eram em instituições privadas. Com base nesses dados, o
ministro da educação, José Henrique Paim, apontou, em matéria de O
Globo, que existe uma demanda importante de financiamento nessa
área, especialmente nos cursos de mestrado profissional.
De acordo com
Daniel Franco, “o ANDES-SN tem posição firme e histórica de garantir
que os recursos públicos sejam destinados exclusivamente para o
financiamento da educação pública, e é assim que entendo ser a
política correta. Aplicar os 10% do PIB na educação pública a partir
de agora seria o básico para corrigir as distorções que temos hoje,
buscando investir na formação, valorização dos professores e
servidores da educação, bem como estruturar e equipar devidamente as
instituições públicas que cuidam da educação. Dessa forma nos opomos
que os estudantes sejam financiados para pagar com recursos públicos
instituições privadas”. Dessa forma, a implementação das metas
previstas no Plano Nacional de Educação fortalecem a concepção da
educação brasileira não mais como um direito, e sim como serviço.
Neste contexto,
não é à toa que cresceram os grupos empresariais que atuam no ensino
superior. Recentemente, os acionistas dos grupos Kroton e Anhanguera
aprovaram uma fusão que criou a maior empresa brasileira na área do
ensino superior, com valor de mercado estimado em R$ 22 bilhões, e
quase um milhão de alunos matriculados. “Evidentemente, com a
garantia do financiamento pelo governo e com o devido credenciamento
das instituições desse nível de ensino, o montante dos lucros deve
crescer, uma vez que se ampliará, pois os possíveis estudantes da
pós-graduação, demandantes das particulares que tem limites
financeiros, certamente entrarão no mercado”, aponta Franco.
* Com
informações: O Globo e Portal G1
Fonte: ANDES-SN,
7/7/14.