Estudantes de Medicina da Unemat
estão em greve há mais de 10 dias |
Os estudantes de
Medicina da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em greve
há 13 dias, devem realizar uma Assembleia Geral na tarde desta
segunda-feira (25) para decidir os rumos do movimento. De acordo com
os alunos, a paralisação é uma medida enérgica, mas necessária,
devido à situação precária do curso. As melhorias foram solicitadas
diversas vezes pelos alunos desde 2012 à gestão da universidade, e
os estudantes alegam que não há condições de prosseguir com as
aulas.
Novos atos estão
programados para os próximos dias. Os acadêmicos afirmam que a greve
só acaba quando todas as reivindicações forem atendidas. Na última
semana, os alunos fizeram protestos em Cuiabá e em Cáceres, e
reuniram-se com o governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, com
secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, com o reitor da Unemat,
Dionei Silva, com o secretário de Saúde de Cáceres, Wilson Kishi, e
com o procurador geral do município, Renato Cunha. Até agora, não
houve acordos.
De acordo com o
procurador, o prefeito de Cáceres, Francis Maris, demonstrou
interesse em se reunir com os acadêmicos de Medicina da Unemat para
dialogar sobre as questões que envolvem a Prefeitura. Uma nova
reunião deve ser marcada entre a gestão municipal e os estudantes
nos próximos dias.
Reivindicações
De acordo com os
estudantes de Medicina, desde 2012 a Reitoria da Unemat promete, mas
não cumpre. Uma das promessas é a entrega dos blocos de
laboratórios, garantida para três datas, todas adiadas. Foram
adquiridas apenas algumas peças artificiais de laboratório, e as
anatômicas humanas, indispensáveis ao aprendizado médico, continuam
inexistentes. Além disso, faltam biotério e espaço físico para
aulas, e as salas são disputadas entre professores.
Sobre os
docentes, mesmo com o concurso público feito este ano, a demanda não
foi suprida, e ainda existem disciplinas sem aula. Além disso, parte
dos profissionais não recebeu treinamento para a metodologia PBL, o
que dificulta o aprendizado. Para os estudantes, este é um exemplo
de descaso com o compromisso firmado pela gestão da universidade.
A biblioteca
também está defasada, com livros antigos e muitos títulos
indisponíveis para atender à demanda do curso, que já conta com
cinco turmas. Os alunos também reclamam que o projeto pedagógico é
defasado e incompleto, e a entrega dos planos de ensino muitas vezes
não ocorre. Falta planejamento e infraestrutura, como, por exemplo,
internet wi-fi no campus.
Outra demanda são
os convênios regularizados. Sem hospital-ensino, os estudantes
chegaram a ser barrados em atividades nas instituições de saúde, o
que gera constrangimento e defasagem no aprendizado.
Além dessas
urgências, os alunos reivindicam, em médio prazo, restaurante
universitário e transporte coletivo entre os campi, soluções que
beneficiarão também outros acadêmicos da universidade.
Apoio
Os estudantes de
Medicina da Unemat receberam notas de apoio de acadêmicos de 17
universidades médicas. Alunos do Distrito Federal, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito
Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí mostraram
solidariedade à luta por melhores condições de ensino. Dois
Diretórios Centrais de Estudantes, da Unemat Alto Araguaia e da
UFTPR também se manifestaram a favor da greve.
Inquérito
O Ministério
Público Estadual (MPE) instaurou inquérito civil para apurar a atual
estrutura oferecida pela Unemat aos estudantes do curso de Medicina,
que passou a ser ofertado pela instituição no segundo semestre de
2012. Alvo de reclamações constantes por parte dos discentes, o
curso apresenta irregularidades, como déficit de professores, falta
de salas de aulas e laboratórios específicos para o curso.
Em maio de 2013,
pouco antes da situação precária do curso virar assunto da imprensa
nacional, o promotor de Justiça do Município, Kledson Dionysio de
Oliveira, instaurou um procedimento preliminar para apurar as
denúncias feitas pelos estudantes. A fase atual do inquérito é
destinada à análise das provas colhidas para saber se as
investigações irão culminar no oferecimento de denúncia à Justiça.
Curso de Medicina
da Unemat
Há dois anos, foi
divulgado que o Governo do estado queria implantar o curso de
Medicina para o campus de Cáceres da Unemat, com gasto de R$ 9
milhões no primeiro ano, com infraestrutura completa.
Em agosto de
2012, ocorreu a aula inaugural do Curso de Medicina da Unemat. À
época, o governador Silval Barbosa fez uma declaração marcante ao
jornal Diário de Cáceres e disse que “os novos acadêmicos não
precisam temer falta de estrutura. Foi tudo muito bem pensado e
organizado”. O governador garantira que o curso nasceria
estruturado, com hospitais para estágio, convênios com o estado e o
município.
Tais promessas
não foram cumpridas, e deficiências e irregularidades começaram a
aparecer já no primeiro semestre. Os alunos fizeram denúncia, fato
que repercutiu nacionalmente. À época, a Reitoria prometeu
professores, equipamentos e laboratórios, mas a demanda, no entanto,
persistiu.
Em 2013, ocorreu
nova onda de protestos. Em fevereiro, a imprensa noticiou que 20%
dos estudantes desistiram do Curso por falta de estrutura. À época,
a gestão da Unemat alegou que equipamentos de laboratório
suficientes foram adquiridos e que os laboratórios eram apropriados,
fato que não corresponde à realidade.
Em junho daquele
ano, depois de quatro meses sem soluções, os estudantes novamente
protestaram. A resposta da gestão da Unemat foi a de que aqueles que
não estivessem satisfeitos, que se retirassem.
Após a crise,
foram feitas novas reuniões com os reitores Adriano Silva, em 12 de
junho de 2013, e seu sucessor Dionei Silva, em 26 de março de 2014.
Nas duas ocasiões, os reitores prontificaram-se em ouvir as
angústias dos alunos e garantiram que as irregularidades seriam
definitivamente sanadas.
Passados cinco
meses após a última reunião, as deficiências persistem. Após dois
anos de reivindicações e promessas não cumpridas, os estudantes
revoltaram-se e declararam greve por tempo indeterminado no dia 13
de agosto. Eles afirmam que só voltam às atividades quando todos os
problemas forem, finalmente, solucionados.
* Com edição do
ANDES-SN, 26/8/14.
* Fotos extraídas
da página do Facebook SOS Medicina Unemat
Fonte: Blog SOS
Medicina Unemat