Aécio provoca ação policial na
UFRJ |
Mônica Grin, coordenadora do Programa de Pós-graduação em
História Social (PPGHIS) da UFRJ, estava na rua quando
recebeu um telefonema, no início da tarde de 11 de junho,
para se dirigir às pressas ao seu local de trabalho, o
prédio da universidade no Largo de São Francisco de Paula,
no Centro do Rio. Quatro oficiais de justiça confiscavam
materiais da professora para averiguação de crime de
calúnia. A denúncia foi movida pelo comitê eleitoral do
senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) junto à
Justiça de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Com surpresa, a coordenadora se deparou com a seguinte cena:
um laptop da UFRJ, dois pendrives pessoais e um drive
externo vazio, separados pela diligência, sobre a principal
mesa do programa de pós-graduação, na sala 205 do IFCS/IH.
Prontamente, Mônica explicou que o endereço eletrônico (IP),
rastreado pela Justiça de São Paulo como possível foco de
ataques ao candidato, na verdade, correspondia a um roteador
wifi contratado pela professora para uso coletivo de
estudantes e de pesquisadores do programa. A Polícia Civil
chegou a sugerir que Mônica entregasse uma lista com nomes
de possíveis usuários do serviço. Mas ela negou. |
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Na operação, que levou cerca de duas horas, dois técnicos de
informática da Polícia Civil foram chamados para um parecer técnico.
De acordo com Mônica, ao constatar que a rede sem fio se estendia
inclusive à área externa da sala, alcançando o corredor, os
policiais desistiram de levar os aparelhos. “Houve ainda certa
confusão em relação ao meu computador, porque eles buscavam uma
torre que não encontraram”, contou, apontando para o PC de peça
única.
A professora observou que caso os policiais vissem a matriz
principal, “todos os arquivos do programa, livros, documentos, atas
de reuniões e coisas similares” poderiam ser confiscados para
investigação, prejudicando o trabalho acadêmico.
Arbitrariedade
Para Mônica, a arbitrariedade do episódio é o mais estarrecedor. Ela
frisa que até então não havia recebido qualquer notificação. “Em
momento algum fui procurada. Na verdade, até agora não fui
consultada para esclarecimentos”, explicou. E mais: no documento
apresentado pelos oficiais não encontrou descrição precisa sobre a
acusação: “Não tinha uma frase a mim atribuída. Estava escrito
apenas ‘calúnia’. Um oficial argumentou que a Lei de Mídia era assim
agora”, completou.
Chamou atenção de Mônica ainda a celeridade do processo. De acordo
com o mandado, entre o pedido junto à Justiça de São Paulo, o aval
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e a decisão final
do juiz Alberto Fraga pela diligência, correram apenas 10 dias (de
30 de maio a 9 de junho). “Esse juiz acatou tudo muito rapidamente.
E não houve movimento no sentido de esclarecer um pouco mais. Ou de
investigar, antes de abordar as pessoas. Seria necessário saber do
que se trata, mas não tiveram esse cuidado”, observou.
Sem filiação partidária, “no máximo simpatias políticas”, Mônica
afirma ser cautelosa com manifestações públicas: “Até pelo trabalho
junto aos alunos, sou muito discreta. Principalmente nessas redes
sociais”. Por outro lado, questiona se as críticas não “fazem parte
do jogo democrático”.
Internet paga foi pivô
O pomo da discórdia na intervenção policial foi o equipamento
adquirido pela professora para suprir um problema estrutural da
UFRJ, uma internet que não atende às atividades acadêmicas do prédio
no Centro do Rio. “Não fosse isso, nada teria acontecido”, sublinha
a coordenadora da pós em História Social. De acordo Mônica, no Largo
do São Francisco de Paula, a rede institucional é “precária” e
“intermitente”. E “para produzir, além de equipamentos, precisamos
de agilidade”, afirmou. “Queremos fazer melhor e nos prejudicamos”,
disse, em referência à contratação do serviço particular.
Intervenção expôs fragilidades
Mônica informou estar mais tranquila, mas na hora sentiu muita raiva
e ficou muito abalada. “Somos um projeto de pesquisa. Essa situação
com a polícia dentro da nossa sala pegou muito mal. Expôs todos
nós”. Ela conta que, durante o episódio, a direção da Unidade buscou
apoio (sem sucesso) da procuradoria da UFRJ: “O procurador chegou a
falar pelo telefone com o oficial, mas a conversa não surtiu efeito.
Na hora, ninguém pensou em argumentar sobre sermos território
federal”. Depois, a reitoria divulgou nota na qual informa que a
universidade entrou com medida cautelar para evitar a repetição do
episódio.
“Há uma preocupação em relação à autonomia universitária. É uma ação
importante na medida em que resguarda meu local de trabalho. Mas em
relação à acusação criminal tive de tomar minhas próprias
providências”. Assessorada por advogados criminais, Mônica está na
expectativa de arquivamento do caso. “A verdade é que estamos
vulneráveis. Absolutamente vulneráveis”, desabafou.
De acordo a professora, “o lado bom da coisa” foi contar com a
solidariedade. Além de amigos e colegas de profissão, entidades e
autoridades como a Associação Nacional de História (ANPUH) e o
presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e
ex-presidente da Ordem no Rio de Janeiro, Wadih Damous,
manifestaram-se contra o abuso. A Adufrj-SSind também divulgou moção
de apoio à docente, publicada na última edição do jornal da
entidade. A notícia, na página da Seção Sindical no Facebook,
alcançou quase 300 compartilhamentos até o fechamento desta matéria.
Fonte: ADUFRJ. Texto e foto de Elisa Monteiro.