O centenário de
Vinicius
Amigos revelam o
lado companheiro do Poetinha, que completaria aniversário no último
sábado (19)
Na comemoração do
centenário de seu nascimento, celebrado nesse sábado (19), como
lembrar de Vinicius de Moraes? Poeta, músico, crítico de cinema,
compositor, produtor, diplomático? O certo é que ele está cada vez
mais vivo.
Dentre todas as
facetas de um dos maiores nomes da cultura brasileira, amigos mais
íntimos destacam uma característica: o Poetinha era, sobretudo, um
companheiro, um amigo.
“Vinicius era
ainda muito melhor como companheiro do que como poeta, do que como
músico. Era um homem muito especial, um marido atencioso, gentil. Um
amigo maravilhoso” revela a jornalista Gilda Mattoso, sua nona e
última esposa, que viveu com ele seus anos finais de vida.
A opinião de
Maria Lúcia Rangel – filha de Lúcio Rangel, jornalista que, em 1956,
apresentou Vinicius ao seu principal parceiro, Antonio Carlos Jobim
–, é semelhante.
“Eu destaco o
poeta, o músico e o amigo. Essa trindade maravilhosa. Ele dava muito
da poesia e da música para os jovens. Quando ia fazer 50 anos, disse
que estava muito deprimido porque já tinha chegado aos dois terços
da vida, ele já estava se achando velhíssimo. E foi ali que ele
conheceuEdu Lobo, Francis Hime, vários outros jovens e ele adorava.”
Vinicius deixou o
terno e a gravata pela arte
Nascido no Rio de
Janeiro, o botafoguense começou a criar suas primeiras poesias e
músicas ainda na adolescência. Formado em Direito, tornou-se
diplomata e trabalhou para o Itamaraty.
Porém, Carlos
Lyra, um dos percussores da Bossa Nova e seu amigo pessoal, revela
que ele não gostava da profissão.
“Ele era
advogado, mas não gostava de ser diplomata, de ser embaixador. Não
gostava de estar de terno e gravata. Gostava mesmo era de ser poeta.
Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade dizia que Vinicius era o
único poeta que vivia como poeta” disse.
Lyra, hoje com 77
anos, também enaltece as várias potencialidades do Poetinha.
“Primeiro, era o meu parceiro, o compositor mais importante da minha
carreira.
Depois, vinha o
Vinicius amigo. Em terceiro, o mentor, o educador. Aprendemos muito
com ele. Em uma conversa mais sincera, podia se perceber como ele
era um homem incrível, rico de cultura, mas muito simples. Suas
afirmações e ideias tinham muita profundidade” conta.
O trabalho com a
diplomacia permitiu a Vinicius conhecer vários países. Apaixonado
por cinema, em sua temporada em Hollywood, conheceu Orson Welles,
que o teria aconselhado a não estudar cinema.
Porém, isso não o
afastou de ser tornar um importante crítico da indústria
cinematográfica, muito influenciado por sua segunda esposa, Lila
Bôscoli.
De volta ao
Brasil, Vinicius parte para uma temporada na Bahia. Suas tardes de
contemplaçãoficariam eternizadas em mais uma composição, dessa vez
com Toquinho.
O poeta adquiriu
um perfil de projetista, chegando a desenhar sua casa baseado na
beleza da Tarde em Itapuã, título da famosa música. Além disso, na
Bahia, passa a reforçar a sua adoração aos orixás e à língua Nagô,
já antes cantadas em composições com Baden Powell.
Vinicius faz
parte da beleza carioca
Apaixonado pela
cidade do Rio, as composições de Vinícius são uma ode à beleza da
cidade e ao povo carioca. Em 1956, conheceu Jobim, com quem musicou
letras para a peça teatral Orfeu Negro, inspirada na mitologia de
Orfeu e Eurídice e adaptada para a realidade das favelas. Naquele
mesmo ano, ela seria encenada apenas por atores negros no Teatro
Municipal, algo impensável para a época.
A amizade afinada
entre ele e Jobim renderia composições que fortaleceram a Bossa Nova
como um movimento genuinamente brasileiro. Apesar da série de
homenagens que acontecem para lembrar o Centenário do Poetinha,
Maria Lúcia Rangel critica a falta de reconhecimento do poder
público do Rio.
“Estou percebendo
como as pessoas estão muito interessadas em sua obra, na importância
dela. Mas é triste ver que a cidade está na direção contrária. A
prefeitura não consegue render uma homenagem. Chegou a ser anunciado
um musical para a praia de Ipanema, mas logo depois foicancelado
pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB). Isso é negar a própria história
cultural da cidade” conclui Maria Lúcia.
Fonte: Brasil de Fato, Fran Ribeiro, 21/1013.