Começam
audiências públicas da Comissão de Verdade e Memória da UnB
Evento contou com
depoimentos do ex-reitor Antônio Ibañez Ruiz e do ex-aluno e
jornalista Romário Schettino
A primeira
audiência pública da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade
da UnB, que ocorreu na tarde desta terça-feira (21), lotou o
auditório da Reitoria. Em tom de desabafo, o ex-reitor Antônio
Ibañez Ruiz e o ex-aluno e jornalista Romário Schettino relataram os
abusos a que foram submetidos durante o período de repressão na
universidade. O atual reitor, Ivan Camargo, juntamente com os
ex-reitores José Geraldo - responsável por instaurar a comissão - e
Roberto Aguiar - presidente da comissão - , participaram da mesa de
abertura.
Durante cerca de
uma hora, o ex-reitor Antônio Ibañez Ruiz relatou sua trajetória
como estudante do curso de Engenharia Mecânica da Universidade de
São Paulo até a chegada à Universidade de Brasília e os anos de
repressão. "Sempre havia um clima de provocação muito grande por
parte da polícia. Essa tensão foi aumentando e tudo foi contribuindo
para o clima de pavor”, conta. Entre os momentos mais dramáticos,
Ibañez lembrou da violência sofrida pelo estudante Waldemar Alves.
“Vi os professores se debruçando e puxando um rapaz. Ele havia
levado um tiro no olho esquerdo. Era Waldemar", relatou o ex-reitor.
“Fiquei 25 dias
desaparecido e fui libertado depois de ficar numa geladeira para
cicatrizar os ferimentos da tortura”, contou Romário Schettino sobre
a prisão em que esteve mantido no subsolo do Ministério do Exército.
No cativeiro, o jornalista foi sujeito a torturas e incansáveis
interrogatórios. Por ter sido mantido encapuzado durante todo o
processo, Schettino não consegue identificar quem foram seus
agressores. “Depois disso, voltei para o meu trabalho, mas não
consegui, estava paranoico. Dei-me um exílio e fiquei um tempo fora
do Brasil”, relata. Ao final de seu depoimento, o ex-aluno da UnB
entregou à comissão um documento recebido por ele do ex-reitor
Cristovam Buarque. O texto foi escrito por um militar a respeito de
33 presos durante o regime, dentre esses o próprio Schettino. "Uma
violência brutal e uma interrupção de vida. A Comissão de Verdade
tem o papel de fazer com que as pessoas conheçam esses documentos”,
declarou o jornalista.
A primeira
audiência pública da Comissão de Verdade e Memória da UnB se
estendeu por mais de quatro horas. Após os depoimentos, os membros
da comissão e os presentes puderam questionar os participantes.
Sessões com o ex-reitor Cristovam Buarque e mais oito integrantes da
comunidade estão previstas até junho.
Fonte: UnB Agência, [Andes-SN, 22/5/13].