Síndrome de
Burnout: Professores à beira de um ataque de nervos
Por João Luís de
Almeida Machado
A
princípio é importante definir o que é stress, situação a
qual todos nós estamos sujeitos ao longo de nossas
atividades diárias. Diferentemente do que pensa a maioria
das pessoas, o stress não é uma enfermidade, mas um
mecanismo natural de reação do organismo as dificuldades,
problemas e questões que se apresentam e que acabam de algum
modo nos tirando da zona de conforto, da segurança que
normalmente temos em nossos cotidianos.
É,
portanto, necessário que tenhamos tais reações, como
autêntico “mecanismo de sobrevivência”, a nos deixar alertas
e guiar-nos em nossas ações frente ao inesperado. Isso
acontece tanto em situações-limite, como por exemplo, um
assalto ou um acidente de automóvel, quanto naquelas mais
corriqueiras, como começar num novo emprego ou enfrentar uma
discussão com o chefe no trabalho. |
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Quando nos vemos
diante de tais situações acionam-se hormônios (cortizol e
adrenalina), que regulam o organismo e fazem com que tenhamos dois
tipos de ação frente aos quadros com os quais nos deparamos, a
saber: ou enfrentamos ou fugimos. E o nosso cérebro registra a forma
como reagimos e vai fazendo com que isso se torne a ferramenta mais
frequente a ser utilizada, ou seja, se batemos de frente, ainda que
aquilo de algum modo gere insegurança, sabendo dos prós e contras da
situação, esta passará a ser a reação normal que teremos em outras
situações-limite. Se corrermos da raia, fugindo da situação, será
então esta a base operacional de nosso organismo quando colocados em
xeque. Este stress, considerado nível 1, é portanto necessário ao
ser humano.
O problema é que,
além dele, há ainda 4 outros níveis de stress e, quanto mais
“evoluímos” nesta escala, significa dizer que mais problemas temos.
Vamos afundando porque deixamos os problemas tomarem conta de nosso
cérebro e isso, certamente, vai prejudicando aspectos físicos,
emocionais, profissionais…
O mais elevado de
todos os níveis de stress é conhecido pelo termo “burnout”, que
traduzido ao pé da letra significa “combustão”. É exatamente esta
figura que caracteriza com precisão o que está acontecendo com uma
pessoa acometida pelo burnout. É como se a pessoa fosse consumida
pelos problemas e já não tivesse poder de reação.
Neste estágio as
pessoas não tem vontade de trabalhar, demonstram clara ansiedade,
estão sempre desanimadas, sentem efeitos físicos permanentes (como
dores de cabeça, nas costas, no estômago…), adquirem doenças
crônicas que mesmo aparentemente solucionadas com tratamentos e
remédios retornam depois de algum tempo, começam a se afastar de
seus colegas e familiares.
A Síndrome de
Burnout, assim como os quadros de stress em geral, associam-se ao
trabalho, ao ritmo alucinante de vida que hoje prevalece, as
cobranças e demandas da sociedade e do mundo profissional e, como
resultado, afetam as outras instâncias da vida das pessoas,
repercutindo na família, nas amizades, na vida social, no lazer…
A pessoa afetada
quer “sumir do mapa”, passa a considerar errada a sua opção
profissional, começa a considerar seriamente a ideia de mudar de
trabalho e está emocionalmente fragilizada. Como se sente impotente
diante das situações que ocorrem em seu trabalho começa a falhar com
maior frequência, o que torna ainda mais frágil sua situação perante
si mesma e, é claro, diante de seus pares. Precisa de atendimento
psicológico e carece de descanso e mudanças em sua vida.
No caso dos
profissionais da educação há muitos fatores que estão fazendo com
que tais pessoas se tornem os líderes deste ranking tão negativo.
Superaram socorristas, médicos, enfermeiros, bombeiros e policiais,
outras categorias de risco, ligadas a situações de grande stress em
seu cotidiano. Os motivos para isso? É certo que o nível de cobrança
aumentou muito por parte de todos os elementos com os quais se
relaciona profissionalmente, dos gestores da escola aos alunos, dos
pais a sociedade como um todo.
Só isso, no
entanto, não explica, pois a competição internacional acirrada com a
globalização torna maior a demanda em todos os segmentos
profissionais. Podemos pensar também no fato de que os professores
hoje não atuam apenas como profissionais da educação, muitas vezes
fazem também o papel de pais, psicólogos, amigos…
Não bastasse
isso, a comparação entre o trabalho das escolas implementada com os
rankings e provas nacionais e internacionais, a despeito de sua
clara intenção de promover uma revisão de procedimentos e melhorar o
nível da educação pública e privada, também se tornou elemento que
de algum modo pressiona os educadores na busca por “mais e melhores
blues” na sua seara profissional.
Outro elemento
igualmente estressante são as condições gerais de trabalho e os
salários e benefícios. Como o holerite dos professores não
corresponde em grau, número e gênero as atribuições que têm pela
frente, a sua formação acadêmica e tampouco ao nível de exigência
social de sua profissão, os salários tendem a terminar antes do mês
e, para compensar, a correria aumenta, com várias escolas fazendo
parte dos seus afazeres diários.
A insegurança nas
escolas, com o aumento de casos de violência atingindo estes
profissionais também não ajuda. Aumentam os relatos trazidos pela
mídia de atentados contra a integridade física dos educadores. São
fatores que se acumulam e que, certamente, não contribuem para uma
vida tranquila dos professores em sua rotina de trabalho.
O que fazer?
Buscar apoio na família e de terapeutas especializados é um caminho
obrigatório. Somente a partir daquilo que estes profissionais,
aliados aos familiares, trouxerem é que a situação poderá mudar.
Outro aspecto primordial é a mudança dos hábitos diários, com a
adoção de práticas que elevem sua qualidade de vida, como por
exemplo: dieta balanceada, exercícios físicos regulares, prática de
atividades de lazer, interação com família e amigos, participação em
eventos culturais, integração a projetos de solidariedade…
A Síndrome de
Burnout é quadro clínico grave e seus resultados podem ser
devastadores para as pessoas que padecem deste mal. Antecipar-se a
este stress é recomendável sempre que possível diagnóstico precoce,
mas quando isso não acontecer, o ideal é que o tratamento comece o
mais rapidamente possível.
Fonte: Blog - Pensar e Causar, 28/5/13.