À
Comunidade Universitária da UFRRJ e à População
Brasileira
A
matéria veiculada pelo Jornal O Globo, de 23 de março
corrente, merece uma resposta tão contundente quanto os
fatos e fotos ali relatados e expostos. A Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro enfrentou, ao longo de
seus mais de cem anos de existência (originária da
antiga Escola Superior de Agricultura e Medicina
Veterinária – ESAMV), momentos de dificuldades e de
superação que fazem da sua história um marco na
resistência à períodos de exceção, na luta pela
conquista de processos democráticos, seja de
representatividade legítima em seus órgãos decisórios,
seja para a escolha de seus dirigentes e da contínua
busca de sua comunidade pela excelência acadêmica.
Ver
estampadas, em um jornal de grande circulação nacional,
fotos relacionadas a problemas ora enfrentados, mas
totalmente descontextualizadas quanto à origem dos
mesmos e aos esforços que vêm sendo desprendidos para
resolvê-los, é, no mínimo, preocupante. O uso das falas
que explicitaram o atual contexto, em um texto editado
jornalisticamente sem esse viés, não nos parece atentar,
como o momento requer, para uma análise séria e
responsável da realidade.
A
Vice-Reitora, no exercício da reitoria, ao se referir ao
Programa REUNI, o fez no contexto de uma detalhada
explicação sobre o sucateamento histórico que, durante
décadas, se abateu sobre as universidades públicas
brasileiras, que trouxe a essas instituições um quadro
severo de falta de docentes (com uma imensa expansão na
precarização do trabalho docente, via contratos de
professores substitutos), de carência e falta de
renovação de quadros técnicos administrativos, com falta
de investimentos para obras e aquisição de equipamentos
necessários ao desenvolvimento das atividades
administrativas e acadêmicas.
Nesse
contexto de total precarização, o REUNI se apresentou
como um Programa de Governo que viabilizou algo pelo
qual todos os movimentos organizados e a sociedade
brasileira sempre lutaram: a possibilidade da ampliação
do ingresso de estudantes oriundos de famílias de baixa
renda nas Universidades Públicas Federais que, por meio
desse mesmo programa, duplicaram o número de docentes e
receberam recursos para novos investimentos. No entanto,
foi realçado pela Vice-Reitora que, diante do desmonte
ao qual a universidade havia sido submetida, a forma de
implantação do REUNI necessita ainda atender ao passivo
estabelecido.
Também foi apresentado na entrevista que com as
dificuldades acumuladas há décadas, o crescimento do
número de estudantes implica em um desafio constante de
adequação e readequação de espaços, mesmo reconhecendo
que o programa permitiu iniciar a solução da efetivação
do corpo docente de alguns cursos abertos no final dos
anos 1990 e início dos anos 2000. Por isso, torna-se
fundamental que o programa seja assumido como um
Programa de Estado, por todos os poderes da república e
não somente seja considerado um programa de governo. Com
essa perspectiva, a recomposição do passivo das
instituições poderia se transformar em uma prioridade,
não só do Ministério da Educação - MEC, mas de todos os
setores da Nação, incluídos aí os poderes Legislativo e
Judiciário.
Reconhecemos os problemas que a Universidade possui e
assim nos apresentamos à comunidade acadêmica com uma
proposta de gestão voltada para consolidar a expansão
com qualidade, que foi vitoriosa nos três segmentos que
compõem a comunidade da UFRRJ. Realçamos esse fato para
a jornalista que nos entrevistou, assim como o esforço
realizado durante os oito anos das gestões – Um Novo
Tempo e O Tempo Não Para, que assumiram o desafio de, na
Fase 1 da Expansão das Universidades, iniciada em 2005,
propor para 2006 a instalação das Unidades Acadêmicas de
Nova Iguaçu e Três Rios (hoje campi da UFRRJ), e de, em
2007, apoiados na decisão do Conselho Universitário, nos
incorporarmos ao REUNI, desenvolvendo, durante 2008, um
amplo debate para a construção de projetos pedagógicos
de cursos a serem implantados, o que levou à aprovação
de um incremento de 32 novos cursos de graduação
presenciais, significando a passagem de 23 para 55
cursos de graduação, a partir de 2009.
Como
mais uma importante contribuição deste programa de
reestruturação e expansão, realçamos que a contratação,
por meio de concursos públicos de novos docentes, em sua
grande parcela titulados como doutores, permitiu uma
intensa e importante articulação, que viabilizou o
incremento de mais 19 cursos de pós-graduação que se
somaram aos 17 existentes em 2005, criando novas
demandas por espaços e equipamentos e reposicionando de
forma positiva a UFRRJ no cenário da pesquisa e do
ensino em nível de pós-graduação no país.
Destacamos na entrevista os problemas oriundos de
diferentes processos licitatórios, alguns em que não
apareceram firmas especializadas ou em condição de
realizar o serviço, como é o caso das questões relativas
ao funcionamento do Parque Aquático, em que estamos já
no terceiro processo licitatório. Realçamos o fato de
que, em virtude dessa situação, imediatamente foi
procurada uma solução para a realização das aulas de
natação, no Clube Social do Km 47 situado em frente ao
campus de Seropédica, a exemplo do que já ocorreu em
gestões anteriores, quando problemas operacionais também
inviabilizaram o funcionamento da piscina.
Na
mesma direção dos problemas licitatórios, realçamos para
a jornalista de O Globo o abandono de obras iniciadas,
por parte de empresas que não tiveram a capacidade
financeira para executá-las até o final, obrigando a
instituição a refazer todo o processo, com medidas
saneadoras, mas que devem obedecer aos prazos
estipulados na legislação específica. Alguns desses
exemplos foram citados, como é o caso da construção do
Campus de Nova Iguaçu, em que a empresa abandonou a obra
com 80% daquilo que havia sido projetado e o da
Biblioteca Central, obra oriunda de gestão anterior,
para a execução da qual foram realizadas demandas de
recursos junto ao MEC e que também foi abandonada pela
empresa que ganhou a licitação. No primeiro caso, a obra
foi concluída e encontra-se sediando os 11 cursos
daquele campus, em períodos da manhã, tarde e noite,
enquanto a obra de ampliação da Biblioteca Central
encontra-se em pleno desenvolvimento com prazo de
entrega para agosto de 2013.
Realçamos também que o órgão de controle interno –
Controladoria Geral da União – CGU e, também o Tribunal
de Contas da União – TCU procedem, anualmente, a uma
fiscalização detalhada nos diferentes processos
administrativos da UFRRJ e que sempre buscamos o
atendimento às suas observações e recomendações, razão
pela qual tivemos as nossas contas aprovadas durante os
diferentes exercícios.
De
outro modo, cumpre registrar a estranheza de que não se
destacou na reportagem quaisquer dos aspectos positivos
que ocorreram nesses últimos anos, tais como a reforma
das salas de aula de todos os Institutos do campus
Seropédica, a recuperação de equipamentos, a construção
do Pavilhão para Aulas Teóricas – PAT, as obras em
andamento para construção de Pavilhões de Anatomia
Animal e Humana e do Hotel Escola, o programa de
aquisição de equipamentos de informática e de aquisição
de acervo bibliográfico (triplicado nos últimos 4 anos),
a construção dos edifícios nos campi de Nova Iguaçu e
Três Rios. Destacou-se ainda o avanço na pós-graduação,
com a criação do primeiro Programa binacional de
doutorado (com a Universidade de Rio Cuarto, na
Argentina) e o Programa de Práticas de Desenvolvimento
Sustentável (em parceria com três universidades
brasileiras e uma africana). Também foi considerado o
expressivo aumento do número de capacitações oferecidas
aos servidores e o incremento na participação de
estudantes, docentes e técnico-administrativos em
eventos, inclusive com a aquisição de uma frota de
ônibus capaz de viabilizar viagens interestaduais,
atendendo visitas técnicas, aulas práticas, seminários,
congressos, etc.
A
gestão que está iniciando suas atividades para o próximo
quadriênio tem a clareza de que lhe estão postos
desafios de grande magnitude, e para enfrentá-los
submeteu um conjunto de propostas de ação, embasadas em
Diretrizes e Princípios oriundos de um compromisso com a
democracia, com a ética e com a verdade. Apresentou
também à comunidade uma proposta de Agendas capazes de
congregar ”expertises” e vocações que se debrucem e
busquem soluções para temáticas centrais da vivência
universitária, tais como: Segurança, Ambiente, Cultura,
Saúde e Alimentação, Comunicação e Informação,
Acessibilidade e Inclusão. Essas Agendas deverão ser o
eixo articulador das prioridades institucionais e
manterão a comunidade em um trabalho conjunto, de
construção partilhada, com contínua avaliação e
acompanhamento.
A
administração central não deve e não pode ser uma ilha,
e, por consequência, não pode e nem deve ser
responsabilizada por todas as questões do cotidiano. Os
diferentes níveis de gestão também são responsáveis pela
condução dos processos e programas administrativos e,
numa perspectiva colegiada e participativa, a comunidade
é chamada a uma ação proativa em prol do desenvolvimento
institucional.
O
papel propositivo e articulador da administração central
é fundamental, bem como a sua ação efetiva fora dos
muros da universidade, no diálogo com os poderes
constituídos, com os órgãos de fomento e com a sociedade
em geral. Esse diálogo foi estabelecido de forma
bastante efetiva nos últimos anos, viabilizando o
ingresso em programas nacionais e internacionais, o
fecundo intercâmbio que permite novas perspectivas aos
servidores docentes, técnico-administrativos e
estudantes e, o estabelecimento de convênios e acordos
de cooperação técnico científica.
Na
dinâmica do relacionamento com os órgãos públicos,
sobretudo com o MEC, a forma respeitosa com que somos
tratados e o reconhecimento do esforço que vem sendo
feito no sentido do maior desenvolvimento da
instituição, se materializa no apoio a diferentes
programas e na abertura de novas possibilidades para a
concretização de uma base física mais condizente com as
necessidades.
A
busca de uma relação mais efetiva com as Prefeituras
Municipais onde nossos campi encontram-se instalados,
aponta também para novas oportunidades e para o
atendimento por parte dos órgãos de governo municipal de
várias demandas que lhes foram apresentadas.
O
diálogo com os movimentos sociais tem sido fortalecido
através desses anos propiciando que a instituição
desenvolva uma série de projetos de pesquisa, extensão e
ensino voltados para populações historicamente
segregadas. A Licenciatura em Educação do Campo é um
belo exemplo, que permitiu a que o projeto de
oferecimento de uma turma, ora em desenvolvimento com o
suporte do PRONERA, se transformasse em um projeto de
curso regular, submetido em edital nacional e aprovado
pela SECADI/MEC, contendo a contratação de professores
efetivos para o curso e com o compromisso, por parte do
MEC, de uma próxima construção de espaço a ele
destinado, atendendo às especificidades da metodologia
adotada.
Neste
momento em que consideramos que o bom nome da
instituição UFRRJ, da qual nos orgulhamos em participar
há mais de três décadas e que tem uma história e uma
trajetória a preservar, foi exposto de forma
irresponsável ao conjunto da sociedade, e que pessoas
que ocuparam e ocupam a direção da nossa Universidade
também o foram, pois levianamente se apresentam os
problemas, mas em nenhum momento os mesmos são
contextualizados, caracterizando-se em uma malévola
fórmula de enlamear as instituições publicas federais
brasileiras, cumpre-nos o dever de conclamar a
comunidade acadêmica da UFRRJ e a sociedade brasileira
para continuar acompanhando o nosso cotidiano, a
conhecer melhor as diferentes nuances da burocracia
universitária e, principalmente, ao exercício
fundamental do diálogo como base na solução dos
conflitos e na elaboração de suas soluções.
Para
além dos debates eleitorais que cumprem o seu papel em
época própria, entendemos que a Universidade é muito
maior do que isto. A UFRRJ somos todos nós,
representantes de sua comunidade interna e cada
brasileiro que paga seus impostos e nos permite existir
como instituição. Em nome da ética e da lisura que devem
alicerçar o processo de divulgação das informações
solicitamos o direito de resposta ao jornal O Globo e a
possibilidade de apresentarmos à sociedade a imagem real
de todo o esforço pelo crescimento e desenvolvimento da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como
instituição necessária para a educação, de todos os
níveis, em nosso país.
Seropédica, 25 de Março de 2013.
Profª
Ana Maria Dantas Soares
Vice-Reitora no exercício da Reitoria
Assessoria de Informação e Comunicação (Ascom/UFRRJ)
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