País ficou 60%
mais pobre, afirmam críticos do leilão do campo de Libra
O leilão do campo
de Libra, realizado na tarde dessa segunda-feira (21) no Rio de
Janeiro, foi comemorado pelo governo. A participação da Petrobras,
de 40% sobre o petróleo explorado, e os cálculos da Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de que o Estado
ficará com 73% dos lucros do bloco do pré-sal é vista como um
resultado positivo pela administração Dilma Rousseff.
No entanto, a
realização do leilão e o seu resultado foram alvos de críticas de
trabalhadores e especialistas. Para o coordenador-geral da Federação
Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, o país ficou
60% mais pobre. "Até o leilão, o Brasil tinha 100% do maior campo do
pré-sal. A partir de então, tem no máximo 40%", disse.
"A entrega de 60%
de Libra para as empresas estrangeiras é um dos maiores crimes de
lesa-pátria que já tivemos no país. Um dia triste para o povo
brasileiro", lamentou. "O leilão foi um fiasco e o governo ainda
comemorou".
Além dos 40% da
Petrobras, o petróleo será divido entre a francesa Total (20%), a
anglo-holandesa Shell (20%) e as chinesas CNPC e CNOOC (10% cada). O
consórcio pagará 41,65% do excedente de óleo bruto ao Estado
brasileiro. Além disso, as empresas tiveram de depositar R$ 15
bilhões para poder participar do leilão.
Para Moraes, o
fato de a Petrobras ficar com 40% do campo – 30% assegurados pelas
regras do edital mais os 10% de participação no consórcio vencedor –
não chega a acalmar os ânimos daqueles que defendiam a exploração
exclusiva pela Petrobras como prestadora de serviço.
De acordo com
ele, a FUP se debruçará detalhadamente sobre o edital e contratos em
busca de alternativas jurídicas ainda cabíveis para anular a
licitação. Outra ação será a de promover campanhas educativas para a
população. "O brasileiro tem de passar a entender de petróleo e gás
para não vir a ser lesado como foi hoje", disse.
Menos para a
educação
O consultor da
Câmara dos Deputados para Assuntos de Petróleo e Gás, Paulo César
Ribeiro Lima, questionou os cálculos da ANP. De acordo com ele, com
base no edital do leilão, a participação da União será muito menor
que o anunciado, podendo chegar a 9,93% (de 41,65%) caso o valor do
barril de petróleo despenque no mercado internacional e a
produtividade da produção de Libra também seja reduzida.
Para ele, esse
cenário não é tão improvável assim, uma vez que a produção mundial
pode ser elevada principalmente pelo aumento da produção americana
de Shale oil, categoria de óleo extraído do xisto betuminoso. Além
do mais, o preço do barril já chegou a R$ 60,00 e a produção já caiu
a menos de 4 mil barris diários.
"Pelas regras, a
remuneração de 41,65% é calculada numa perspectiva de produção de 12
mil barris por dia, cada um no valor entre 100 e 120 dólares. Se
ambos subirem, o percentual sobe para 45,56%. Mas se caírem, pode
chegar a 9,93%", afirmou. "Quem perde com isso é a educação, que
receberá 75% dos royalties, e a saúde, que ficará com 25%.". Os
royalties correspondem a 15% do valor do barril.
Essa matemática,
conforme Lima, chega a ser mais desfavorável ao país do que em um
regime de concessão. "Por esse regime, Libra pagaria perto de 40%
independente da produção e do preço do barril".
Conforme ele, as
regras estabelecidas para o leilão de Libra são diferentes daquelas
do regime de partilha de outros países. "Se Libra fosse na Noruega,
o governo norueguês ficaria com mais de 60% da produção, e não as
empresas; aqui não teve leilão, e sim um acordo entre a Petrobras,
que é mais privada que estatal, com 53% de capital social
estrangeiro, e as companhias multinacionais."
O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do modelo e disse que o
governo não pretende promover mudanças para os próximos leilões, que
devem ocorrer apenas a partir de 2015. "Como nós estamos falando de
grandes somas de investimentos, e também de grande capacidade
tecnológica, isso limita um pouco a participação", disse. “[Outras
empresas] não devem ter participado por questões estratégicas, ou
têm outros investimentos a fazer, ou não cabia no portifólio, ou não
julgaram interessante. Cada empresa é que deve dizer. Mesmo que seja
um consórcio, mas ele foi um consórcio com várias empresas e é
perfeitamente satisfatório.”
Coordenador-geral
da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, entende
que o resultado do leilão não chegou a surpreender e ficou bem
abaixo da necessidade de recursos para a educação. "Infelizmente o
governo não conseguiu acertar um valor maior para o maior campo.
Apesar da riqueza que ele trará, estimulando toda a cadeia produtiva
do petróleo e gás, não podemos esquecer o retorno que deixaremos de
obter", disse.
Para o
conselheiro do Clube de Engenharia Paulo Metri, embora a União ganhe
com os royalties que serão arrecadados com a licitação e produção do
campo de Libra, perde porque a maioria (60%) dos lucros ficarão com
as empresas estrangeiras. "Foram criadas regras que permitiram que o
consórcio, e não a União, fique com a maior parte dos lucros."
Para Metri, o
fato de a Petrobras ficar com 40% da participação só é positivo num
panorama em que a estatal ficasse de fora. "Porém, é ruim quando a
Petrobras poderia ter ficado 100%", disse, destacando o artigo 12 da
Lei 12.351, de 2010, que permite à União contratar a petroleira
nacional sem licitação em caso de preservação do interesse nacional
e ao atendimento dos demais objetivos da política energética.
Além disso,
conforme nota divulgada pela Petrobras, a estatal deverá desembolsar
R$ 6 bilhões referente à sua participação no consórcio para o
pagamento de um bônus de assinatura do contrato no valor de R$ 15
bilhões, que deverá ser pago em parcela única.
Fonte: Brasil de Fato, Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual,
22/10/13.