“Obama cruzou a
linha vermelha”, afirma o professor Reginaldo Nasser
No 12º aniversário do 11 de
Setembro, ele rechaça a ligação entre combate ao
“terrorismo” e intervenção na Síria. O recado do possível
ataque seria para o Irã. |
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Em 11 de
setembro de 2001, os EUA sofriam o pior ataque de sua
história, em território americano. Doze anos depois, o país
relembra a data com a expectativa de mais uma intervenção
militar contra um país, dessa vez, o alvo é a Síria.
A opção
bélica estadunidense para combater o “terrorismo” pelo mundo
se voltou contra os próprios EUA. Segundo o professor de
Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, os
norte-americanos são alvo de 85% dos ataques terroristas no
mundo, hoje, “antes [da invasão ao Afeganistão e ao Iraque]
eram 50%, 60%.”
Para
Nasser, a justificativa para tanto empenho bélico está na
economia, já que a guerra pode ser um bom negócio. O
professor lembra Joseph Sitiglitz, que afirmou que a
investida americana no Iraque e no Afeganistão custou mais
de U$$ 3 trilhões aos EUA e outros U$$ 3 trilhões ao resto
do mundo. “Coloco outra pergunta, eles não são idiotas: será
que o objetivo é ir atrás e acabar com o terrorismo? Será
que podemos computar esses 5 trilhões como gasto?” |
Nasser afirma que
a possível intervenção militar contra o país governado por Bashar
al-Assad deve ser encarada pra além da lógica que passou a vigorar
depois do atentado contra as Torres Gêmeas, em Nova Iorque. “Não
podemos achar que tudo é pós 11 de setembro.” Confira a entrevista.
Fórum – Doze anos
depois do 11 de setembro os EUA continuam investindo em intervenções
militares em outros países. A política externa norte-americana não
aprendeu nada?
Reginaldo Nasser
– Acho que tem duas formas de avaliarmos essas ações dos EUA. A
primeira é fazendo uma avaliação em um sentido mais administrativo,
da perspectiva deles. Temos um problema de terrorismo no mundo,
segundo os americanos: “Houve um ataque e precisamos unir todas as
forças para derrotar o terrorismo”. Aí os EUA implementaram duas
guerras, uma no Afeganistão e outra no Iraque, gastando trilhões de
dólares. Do outro lado, tem os resultados dessas guerras. Em termos
de julgamento público foi muito ruim, duas guerras com milhares de
mortos, e o terrorismo aumentando em números e em alvos americanos.
85% dos ataques hoje em dia têm os EUA como alvo, antes, eram 50%,
60%.
Se olhar por aí,
vai se pensar o seguinte: “Os EUA estão errando, gastam tudo isso e
não resolvem o problema do terrorismo”. Coloco outra pergunta, por
que acho que eles não são idiotas: será que o objetivo é ir atrás e
acabar com o terrorismo? Será que podemos computar esses U$$ 3
trilhões como gasto? O [Joseph] Stiglitz fez um estudo e mostrou que
foram gastos mais de U$$ 3 trilhões com as guerras no Afeganistão e
Iraque. Alguém está gastando e alguém está ganhando. Isso é uma meta
e é de interesse de alguns grupos, os EUA estão presentes e querem
estar mais presentes ainda no Oriente Médio. Os mercados de armas e
de segurança privada cresceram nos EUA, não podemos entrar nessa de
venceram ou não, eles estão atendendo outros interesses.
Fórum – O senhor
consegue enxergar alguma conexão entre as experiências americanas no
pós 11 de setembro e a iminência de um ataque à Síria, feitas pelos
EUA?
Nasser – Dessa
vez, os EUA não foram agredidos. Eles também não tinham sido
agredidos por Afeganistão e Iraque, mas o argumento era de luta
contra o terrorismo. Segundo informações, os grupos de terrorismo,
desta vez, estão contra o Assad. O Obama diz que o Assad cruzou a
linha vermelha, eu diria que o Obama cruzou essa linha vermelha. Não
me espantaria se daqui um tempo tiver um acontecimento que propicie
aos EUA voltarem a argumentar sobre uma intervenção militar na
Síria.
Não podemos achar
que tudo é pós 11 de setembro. Em 1998, houve um ataque às
embaixadas da ONU, não houve consulta, os EUA imediatamente lançaram
mísseis no Afeganistão. A postura é a mesma de Obama, hoje.
Fórum – Agora tem
a Rússia no cenário.
Reginaldo Nasser
– A Rússia, com o Putin, na década de 90, começou a mostrar os
dentes, mas com outra postura na política internacional. A Síria é
um ponto de influência da Rússia. O Obama já afirmou que quer fazer
a intervenção sem tirar o Assad do poder, não vai tirar porque
provavelmente existe uma negociação com a Rússia. Entendo que a
questão da Síria não é a mais importante para os EUA, eles querem
atacar para dar um recado ao Irã. A Síria não tem mais tanta
importância assim, é só uma corrente para o Irã. E esse contexto não
está tão ligado ao 11 de Setembro, por que ainda não se fez menção
ao terrorismo.
Foto: Official White House/Pete Souza
Fonte: Brasil de Fato, Igor Carvalho. Da Revista Fórum, 11/9/13.