Não podemos tolerar o abuso de
poder dentro da UFRRJ! Readmissão Já!
A luta pelos direitos trabalhistas e
pela liberdade de organização sindical é uma luta democrática e
social. Tentar impedir ou deslegitimar essa luta é o método dos
defensores do obscurantismo e do autoritarismo. A luta contra as
demissões dos terceirizados na UFRRJ é parte da luta contra a
precarização e por serviços públicos de qualidade.
Os Comitês de Mobilização assumiram
para a si a tarefa de luta pelos direitos trabalhistas dos
terceirizados. O primeiro movimento foi o de esclarecer as denúncias
de trabalhadores terceirizados, que comunicaram aos Comitês de
Mobilização da UFRRJ o descumprimento de direitos trabalhistas e
também a precariedade das condições de trabalho. A partir de então
os comitês realizaram as seguintes ações:
24-07: É enviado um pedido de
esclarecimento à direção do IM, relativa às denúncias feitas de
descumprimento de direitos trabalhistas por parte de trabalhadores
terceirizados.
29-07: A direção afirma que não
existem problemas trabalhistas, que tudo se “encontrava
regularizado”.
Os Comitês decidem enviar uma solicitação de esclarecimento à
Reitoria.
13-08: Os Comitês de Mobilização
iniciam campanha de defesa dos terceirizados com as faixas “Cadê os
Direitos dos Terceirizados?” nos campi Seropédica e Nova Iguaçu e
com panfleto esclarecendo a situação à comunidade.
14-08: A Direção do IM convoca os
terceirizados para reunião, ocasião em que recomenda que os mesmos
“não dialoguem com o movimento estudantil”.
16-08: Carta solicitando
esclarecimentos sobre a situação dos terceirizados da UFRRJ é
entregue à PROAF.
21-08: Exatamente uma semana depois
da reunião dos terceirizados com a Direção do IM, e oito dias após o
início da campanha em defesa dos direitos destes trabalhadores,
quatro deles são demitidos sem justificativa, orientados a não mais
retornarem ao local de trabalho e a cumprirem o período do aviso
prévio “em casa”.
22-08: Estudantes ocupam a Direção
do IM em resposta às demissões ilegais e arbitrárias, denunciando a
insensibilidade da administração e as ilegalidades praticadas pela
empresa.
25–08: As trabalhadoras demitidas
participam de reunião na Ocupa IM onde apresentam as provas de que
existem irregularidades seríssimas e violação de direitos
trabalhistas.
26-08: Um dia após a denúncia, com
provas testemunhais e materiais, a empresa Digna distribui
equipamentos de segurança para os trabalhadores terceirizados do IM,
uma das principais queixas relatadas pelas demitidas no dia anterior
(como luvas, uniforme adequado, etc).
- É publicada uma nota conjunta
assinada pelas entidades representativas das três categorias da
UFRRJ, intitulada “SINTUR,
ADUR e DCE-Rural apoiam a luta pelos direitos dos terceirizados”,
na qual são reiteradas as denúncias feitas pelos Comitês, o apoio
aos terceirizados e aos estudantes que, em solidariedade a eles,
ocuparam a sala da Direção do IM.
- Nesta mesma data a PROAF responde,
finalmente, à solicitação de esclarecimentos enviada há 10 dias. Na
nota, reconhece a existência de “pendências trabalhistas” e a
ciência da situação surgida no IM, afirmando que a Digna alegou que
a demissão dos quatro terceirizados foi motivada por “problemas de
assiduidade e na execução das tarefas que lhes eram atribuídas”.
27-08: É publicada a “Nota
de apoio da Assembleia da ADUR à ocupação do IM e à luta contra a
violação dos direitos dos terceirizados”.
29-08: Os Comitês de Mobilização
emitem a nota “A luta por
direitos dentro das universidades: o caso dos terceirizados da
UFRRJ”, onde reiteram a
denúncia da violação dos direitos trabalhistas dos terceirizados e o
apoio à ocupação, entendida como uma ação justa e legítima de
solidariedade aos terceirizados demitidos.
30-08: Reunião do CONSU (Conselho
Universitário) em que o tema é discutido de forma inconclusiva,
apesar das provas apresentadas e do reconhecimento, por parte de
membros da própria administração superior, que o descumprimento dos
direitos trabalhistas continuava. Foi constituída uma comissão para
“apurar a existência de irregularidades”.
03/09: Reunião do CONSUNI/IM
(Conselho do Instituto) com pauta única, na qual: 1. É criada uma
comissão que daria um ultimato aos estudantes para desocuparem a
sala em 24 horas, em uma reunião a ser realizada no dia seguinte; 2.
Delibera-se, por unanimidade, “que a Direção do IM não teve nenhum
envolvimento na demissão dos quatro trabalhadores” (mesmo antes da
Comissão do CONSU iniciar seus trabalhos de apuração dos fatos).
04-09: Reunião da Comissão do
CONSUNI com os estudantes do Ocupa IM, onde não houve diálogo nem
negociação, mas a entrega de uma NOTIFICAÇÃO onde é concedido “um
prazo improrrogável de 24 horas para a desocupação”.
06-09: Reunião do CONSUNI/IM, onde
se decide solicitar à Reitoria o encaminhamento imediato de uma ação
judicial de reintegração de posse e é instaurada uma comissão de
sindicância “para apurar os fatos relacionados à ocupação,
estabelecer responsabilidades e tomar as providências cabíveis”.
*
No relato desses fatos é importante
registrar o seguinte: a iniciativa dos Comitês de Mobilização foi de
solicitar esclarecimentos à administração. A primeira resposta da
administração, via Direção do IM, foi negar a existência do
problema. Na sequência, ocorreram as demissões com claro teor
político. Basta vermos o que aconteceu no CONSU, em que o ponto de
pauta principal foi a demissão dos quatro funcionários da empresa
Digna. Houve, num primeiro momento, esclarecimentos pelas partes
envolvidas sobre as demissões e o motivo da ocupação da sala da
Direção. Naquele instante foram ouvidos, respectivamente, o diretor
do IM, uma técnica administrativa que é uma das responsáveis pela
gestão dos contratos, o Sr. Amauri, “representante” dos
terceirizados, o representante da empresa Digna e o estudante
Jônatas Aarão.
A fala do diretor do IM, Prof.
Alexandre Fortes, foi no sentido de se isentar totalmente da
responsabilidade sobre as demissões, dizendo que a decisão foi da
empresa e esta alegava que as demissões tinham sido motivadas por
“faltas”. A gestora do contrato confirmou que foi comunicada pela
empresa que os quatro terceirizados seriam demitidos e afirmou que a
empresa “estava regularizando” os depósitos no que se refere ao FGTS
e o INSS, o que contraria a resposta dada pelo diretor do IM em 29
de julho, na sua nota oficial. O Diretor do IM confirmou que falou
na reunião com os terceirizados (14/08) que os “achava bem
grandinhos para se auto-representarem e que não necessitavam de
ajuda dos estudantes”. A fala do representante da empresa foi no
sentido de confirmar as pendências do INSS e do FGTS para com os
funcionários e que a empresa estava correndo atrás pra regularizar
isso, mas que essas situações se deviam ao atraso da universidade no
pagamento de faturas para a empresa. Fato negado pela Profª Nídia
Majerowicz, Pró-reitora de Assuntos Financeiros, que apresentou as
provas de que a UFRRJ está em dia com o pagamento das faturas,
desmentindo o representante da empresa. Ou seja, não existe nem
pendência da Universidade para com a Digna que justifique atrasos de
pagamentos, nem justificativas funcionais para as demissões.
A mesa pediu para que o
representante da empresa Digna expusesse os motivos reais das
demissões e ele disse que foi por “insubordinação à encarregada”,
além das faltas. Um dos conselheiros apresentou a proposta de
desocupação da sala da direção, o que foi prontamente rechaçado pela
Reitora, Profª Ana Dantas, que disse considerar o movimento de
ocupação legítimo e que a via para resolução desse caso é o diálogo
entre as partes e não medidas impositivas. Relatou que na história
da UFRRJ nunca foi preciso nem mesmo o uso de força policial para
resolução de problemas políticos. Foi aprovada uma comissão para
investigar os fatos relacionados às demissões dos quatro
terceirizados do IM.
Já a decisão do CONSUNI do IM se
mostra profundamente autoritária. Autoritária na forma e no
conteúdo. Em menos de 72 horas, instaura uma Comissão de Negociação
que não negocia, fixa um prazo de saída e delibera por solicitar a
reintegração de posse e abrir uma Comissão de Sindicância. Essa
Comissão de Sindicância, com claro teor policialesco e político,
para caçar as bruxas. Infelizmente não se demonstrou a mesma
celeridade para apurar as ações da empresa Digna, nem a repressão
política contra os trabalhadores terceirizados. Essa ação do CONSUNI
não somente mostra que não houve o menor interesse em diálogo da
parte da Direção do IM, apesar dessa ser a palavra que é mais usada.
O diálogo para a Direção do IM parece ser o diálogo do “fala quem
pode, obedece quem tem juízo”. Testemunhamos então uma ação
autoritária e arrogante, de quem acha que é administração e que o
movimento deve se subordinar aos seus ditames, mas não consegue nem
dar respostas enquanto administração e nem acompanhar o movimento
real da história. Ao criminalizar a ocupação, eles caminham na
contramão da história recente do país, em que os vários movimentos
de Ocupa (Cabral, Câmara, Assembleias Legislativas) se difundem pelo
país como principal método de luta em defesa dos direitos e contra a
criminalização. E fazem uso de uma prática repressiva e autoritária,
entulho da história conservadora e ditatorial que parece querer
voltar a se impor em toda a sociedade. História e prática essa que
encobre sob o apelo “a democracia e a lei”, o império da opressão
social e discriminação racial estrutural que opera sob a forma de
terceirização, tática de superexploração, e inclusive práticas
ilegais para os quais fecham comodamente os olhos.
A decisão do CONSUNI/IM apenas
mostra a inabilidade em lidar com um movimento legítimo de defesa de
direitos. Além disso, reforça a tendência de fechar os olhos diante
do problema principal, a terceirização e suas consequências, como a
prática sistemática dessas empresas em descumprir direitos
trabalhistas. O que acontece na Universidade é extremamente grave. E
não é um caso isolado. A UFRRJ e a Digna figuram como rés em vários
processos trabalhistas. Além disso, a empresa Digna foi convocada no
edital de licitação depois da empresa anterior, “Forte”, ter tido o
contrato rompido por problemas na execução do serviço e desrespeito
aos direitos trabalhistas. A legislação é clara: “IV - O
inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços,
quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da
administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que
hajam participado da relação processual e constem também do título
executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).
(Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000).”
Não podemos deixar desviar o foco.
Vimos no mês de julho, como no caso Amarildo, que a denúncia do seu
desaparecimento levou a uma grande mobilização. Mas o Estado, a
princípio, optou por “investigar a família da vítima”. Uma mesma
lógica parece surgir na cabeça de determinadas pessoas dentro da
universidade. Querem investigar as vítimas da demissão arbitrária e
os que com elas se solidarizaram - que são cidadãos que lutam por
direitos - e se esquivam de investigar a empresa, que deveria ser a
verdadeira ré. Continuaremos na luta, em uma ampla campanha de
denúncia da violação dos direitos trabalhistas dos terceirizados da
UFRRJ, não apenas para a comunidade acadêmica, mas para outras
entidades sindicais, movimentos sociais e órgãos públicos. Os
movimentos organizados, estudantes e trabalhadores devem recusar que
uma empresa privada possa praticar abusos de poder dentro do espaço
público. Tentamos, através do diálogo com a UFRRJ, que a situação
dos terceirizados fosse regularizada. A resposta até agora foi a
omissão e a repressão, velada ou não, aos terceirizados e aos que
estão na luta em solidariedade a estes trabalhadores – que hoje são
as maiores vítimas e os exemplos emblemáticos da realização da
política de precarização do trabalho dentro da UFRRJ, Por tudo isso,
EXIGIMOS:
1. READMISSÃO IMEDIATA dos quatro
trabalhadores terceirizados demitidos no IM.
2. Regularização imediata da
situação trabalhista dos terceirizados ligados à empresa Digna.
3. Abertura de sindicância para
apurar as denúncias de descumprimento dos direitos trabalhistas de
todos os terceirizados da UFRRJ e da violação do direito à liberdade
de organização no local de trabalho.
Assembleia Geral
dos Docentes da UFRRJ – 09 de setembro de 2013