Mudanças no
ensino médio geram polêmica
Entidades e
profissionais opinam sobre programa “Mais Médicos”
Para colocar o
programa em prática está prevista a contratação de profissionais
estrangeiros para atuarem em cidades periféricas do país, e para a
graduação em Medicina, há duas mudanças: ampliação de vagas nos
cursos e aumento de dois anos na formação, ou seja, ela passará a
contar com oito anos (os últimos dois dedicados à atuação no SUS).
Tais mudanças, para muitos não são soaram como bem-vindas. A fim de
contextualizar a polêmica em torno do “Mais Médicos” a Assessoria de
Imprensa da Sedufsm entrou em contato com entidades, profissionais e
estudantes da área da saúde.
Na linha dos que
são favoráveis ao programa, a professora de Enfermagem da UFSM,
Teresinha Heck Weiller. Segundo ela, “o sistema público não dá conta
de atender toda a demanda”, argumenta ressaltando a carência de
profissionais em regiões pobres, o que poderia ser combatido com as
medidas anunciadas no programa. “A Medida Provisória encontrou um
meio viável pra resolver essa questão”, declara Teresinha. A
professora também pontua a importância da criação de uma carreira
nacional do trabalhador do SUS. “Sempre defendi essa bandeira, mas a
sociedade ainda não avançou nessa discussão”, lamenta.
A partir de 1º
janeiro de 2015, os alunos de Medicina que ingressarem na graduação
deverão atuar os dois anos últimos anos SUS, em uma espécie de
“serviço civil” obrigatório. Sobre esta mudança na formação, a
professora discorre que é uma maneira do estudante retornar para a
sociedade os ensinamentos da educação pública, bem como o
investimento do governo federal nas universidades: “O estudante
precisa se inserir na política pública, precisa assumir um
compromisso com a sociedade, pois a mesma sustenta a universidade
pública. Nós precisamos dar um retorno, não só os acadêmicos de
medicina, mas todos os profissionais da saúde, até porque só a
medicina não é suficiente”, enfatiza Teresinha. Ela comenta que os
recém-formados não querem sair dos centros urbanos, mas, com o
auxílio da bolsa de 10 mil reais e a obrigatoriedade dos dois anos a
mais, o problema poderia ser solucionado.
Falta de
infraestrutura
Em contraponto à
algumas declarações da docente do curso de Enfermagem, o médico e
professor do curso de Medicina da UFSM, Nilton Gomes Bertoldo,
explica seu posicionamento, mas antes esclarece: ”Vou me posicionar
pela experiência que eu tenho aqui em Santa Maria. Isso é empírico,
é apenas uma opinião, e sendo opinião pode não corresponder à
verdade do ponto de vista filosófico”.
Bertoldo inicia
comentando que o curso de Medicina da UFSM não tem infraestrutura
para matricular ainda mais alunos, além dos que já ingressam a cada
semestre. “Nossa graduação comportaria no máximo 25, 30 alunos,
atualmente esse número dobrou. Com a ampliação de vagas, de onde vão
tirar professores e infraestrutura de hospitais para ensinar?”,
questiona. Nesse aspecto, a opinião do professor se encaixa na
avaliação do Diretório Acadêmico da Medicina (Dazef). Conforme a
entidade, o curso da UFSM não comportaria mais alunos, tendo essa
questão se tornada pauta de manifestação da entidade.
Investimento
O professor
Nilton Bertoldo defende que solucionar o problema da saúde pública
remete a uma instância primária: investimento em educação. “A
situação da saúde brasileira é um caos. E para formar bons
profissionais depende de uma boa educação. Então, a prioridade é
investimento em educação, o resto vem automaticamente”, frisa ele.
Nas palavras do professor e médico, investir 10% do PIB ou até mais,
em saúde e educação, seria o primeiro passo, que seria vislumbrado
na melhoria das condições de trabalho, e por consequência, futuros
profissionais bem preparados.
O “caos” que
Bertoldo se refere também está nas dificuldades que os médicos
enfrentam em cidades do interior: “As deficiências são inúmeras, e
isso o Governo não diz, ele esconde. Os médicos não estão optando
por trabalhar em lugares que não há laboratórios, aparelho de Raio
X, entre outros equipamentos. Simplesmente mandá-los para tais
lugares, só pelo pagamento ou pela obrigatoriedade, não deve ser
assim, até porque pagamento não é tudo. Acho que o Governo, para
resolver essa questão, tem que transformar a profissão em carreira
do Estado”, opina.
Se em regiões
pequenas ou até periféricas as condições para exercer a Medicina
deixam a desejar, será que trazer estrangeiros para atuarem nessas
localidades é o mais certo a fazer? Bertoldo é enfático ao dizer que
importar profissionais sem revalidar o diploma é imprudente. “Nos
últimos dois anos, 200 médicos prestaram o exame para revalidar o
diploma e somente dois passaram. É uma percentagem muito pequena.
Então, são essas pessoas que vão colocar para atender a população
brasileira? Eu diria que entre um médico mal preparado e nenhum, é
melhor não ter nenhum”.
Força do mercado
A posição da
presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), instância máxima de
deliberação do Sistema Único de Saúde, confronta a posição de
entidades médicas quanto ao programa “Mais Médicos” como também em
relação à contratação de profissionais estrangeiros. Para o CNS, a
contratação de médicos estrangeiros é uma forma de diminuir
ausências em algumas regiões. “Defendemos que a demanda a ser
suprida não é só de médicos, mas no momento, é o profissional que
está mais em falta. Achamos que o governo precisa criar uma forma de
avaliar o médico que vier, não necessariamente através do
‘revalida’, mas com algum mecanismo de avaliação”, explica a
presidente do CNS, Maria do Socorro de Souza.
De acordo com
Maria do Socorro, no dia 6 de agosto o Conselho vai debater o
programa na íntegra e logo após tomará uma posição. A presidente do
CNS acrescenta que: “O Conselho acredita que é papel do Estado
regular a formação dos estudantes e a profissão, e não o mercado e
outras entidades como vem ocorrendo”.
A posição do
Sindicato dos Médicos de Santa Maria (Sindomed) é contrária ao
programa de contratação de formados fora do país sem a revalidação
do diploma, e ainda acrescenta que a vinda de estrangeiros
desvaloriza o profissional graduado aqui. Assim como na análise do
professor Nilton Bertoldo, o Sindomed esclarece a carência de
médicos em algumas regiões devido à falta de uma política que
transforme a profissão em carreira do Estado.
Na opinião dos
entrevistados, sem essa medida o mercado acaba por regular a
concentração de médicos em cidades maiores. Os profissionais buscam
trabalhar onde o retorno financeiro é mais atrativo, além de também
quererem atuar em espaços bem estruturados para atendimento. Para
entender como funcionaria a carreira de Estado do profissional
médico, o Sindomed explica: “o médico seria admitido em concurso
público, com remuneração que o motive a se dedicar a esta carreira
(o piso médico nacional para 20 horas semanais é de R$ 10.412,00) e
começaria a atuar nas localidades onde forem criadas as vagas. Ao
longo de sua carreira, ele poderá avançar, passando a atuar em
centros maiores, caso desejar. Tramita no Senado uma Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 454 que prevê a carreira médica.
“Queremos urgência na aprovação. Esta é a solução séria e definitiva
para o SUS", declara o Sindomed.
Manifestações
contra o “Mais Médicos”
A terça-feira,
23, foi atípica em diversos postos de atendimento da rede pública do
país. Os médicos em mais de 10 estados paralisaram suas atividades
para protestar contra o programa. As manifestações ainda
contemplaram atos públicos, marchas e uma nova agenda de
mobilização. Já está previsto paralisações para os próximos dias 30
e 31 deste mês.
O site da
Federação Nacional dos Médicos (Fenan) divulgou um balanço detalhado
dos protestos. Na nota também consta o planejamento da agenda dos
próximos atos.
Leia aqui.
Texto: Carina
Carvalho (estagiária)
Edição: Fritz R. Nunes (Jornalista)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
24/7/13.