Os motivos da
greve unificada de professores, estudantes e trabalhadores da Unesp
Certamente
venceremos e, paulatinamente, avançaremos rumo a uma universidade
pública, gratuita, laica, de qualidade, aberta à população e a
serviço do povo, ou seja, democrática de fato
Comando Conjunto
de Mobilização
De acordo com o
Academic Ranking of World Universities, elaborado pela Universidade
de Xangai, a UNESP está entre as 400 melhores universidades do
mundo; já, segundo o ranking QS, a UNESP é a 11ª melhor dentre as
universidades latino-americanas. O Ranking Universitário Folha lista
a UNESP como a 6ª melhor universidade do país. Os dados da reitoria
apontam que a UNESP responde por quase 30% da pesquisa cientifica do
estado, e 10% do país. Seus laboratórios e salas de aula de
excelência, seus hospitais e clínicas de ponta, e suas vastas
bibliotecas, no entanto, escondem uma realidade bem diferente da
estatísticas brilhosas.
Desde o dia 26 de
maio, há um chamado de greve geral em curso na UNESP. As assembleias
de base realizadas pelos sindicatos de professores, o de servidores
técnico-administrativos e o CEEUF/DCE estão paralisando quase toda a
universidade. Estudantes estão em greve em 8 dos 24 campi, e em 16
destes fizeram paralisações – em alguns, há ocupações da direção,
salas de aula ou outros espaços do campus também; em 10 campi, são
os servidores que estão em greve, e muitos outros com indicativos;
professores cruzaram os braços em 3 campi. Uma insatisfação muito
grande toma conta da universidade e os motivos da mobilização
unificada são diversos.
Entre os
estudantes, a insuficiência das políticas de permanência estudantil,
que garantem que estudantes de baixa renda concluam seus cursos –
como: moradias, restaurantes universitários e bolsas de caráter
socioeconômicas –, somada ao programa de cotas do governo do estado
de São Paulo [PIMESP], que é considerado racista e excludente,
causam ampla repulsa à reitoria da UNESP.
Entre os
servidores técnico-administrativos, a principal queixa refere-se à
falta de isonomia com as demais universidades estaduais paulistas.
Hoje, os pisos salariais e o conjunto dos salários (por reflexo) na
UNESP são expressivamente mais baixos do que na USP. Por exemplo:
enquanto na USP um servidor de nível fundamental é contratado por R$
1.768,29, na Unesp o valor é de R$ 1.393.14; no nível superior, o
piso da USP é R$ 6.040,42, enquanto o da Unesp fica em R$ 4.075,34;
no nível médio, o piso da USP é de R$ 3.212,36, ante R$ 2.058,32 na
Unesp.
Por seu turno, os
professores da Unesp manifestam descontentamento também com a falta
de isonomia (o vale alimentação na USP é de 690,00, na Unicamp é de
R$ 720,00, enquanto na Unesp fica em 500,00). Também denunciam a
falta de docentes em boa parte das unidades, o que repercute na
sobrecarga de trabalho. As faixas salariais da carreira são
consideradas baixas e pouco atrativas. A Adunesp enfatiza que, na
ausência de um salário inicial atraente, é grande o número de
recém-titulados que buscam trabalho fora da carreira acadêmica.
Além da
solidariedade, que une os três segmentos da comunidade
universitária, há um sentimento comum de revolta contra a
antidemocracia universitária. Desde a ditadura civil-militar, as
universidades foram progressivamente enquadradas em rígidos moldes,
que a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional (LDB) de 1996,
defendida pelo governo neoliberal de FHC, consolidou ao estabelecer
a primazia de um setor dentre os docentes como controladores da
universidade: os professores titulares. Em contraposição a este
modelo, reivindicamos a paridade entre os três segmentos
universitários (estudantes, servidores técnico-administrativos e
professores) nos órgãos colegiados, com a representação a mais
consensual possível, e exigimos que a UNESP avance neste sentido.
O estado mais
rico da federação em nada tem a comemorar em seus indicadores
relativos a educação. No entanto, quanto ao ensino superior, as
universidades paulistas são uma ilha de exceção no mar da
precariedade: não à toa. Um movimento persistente e combativo de
professores, trabalhadores e estudantes, ao longo dos anos, resiste
às medidas privatizantes e precarizadoras. Este ano, não há nada de
novo, nem os ataques da mídia marrom, nem a postura autoritária das
reitorias. Do mesmo modo, nossa resistência, como em outros anos, é
maior que os projetos políticos neoliberais dos governos. Este ano,
como nos outros, a força do movimento é maior que a sanha da
reitoria. Certamente venceremos e, paulatinamente, avançaremos rumo
a uma universidade pública, gratuita, laica, de qualidade, aberta à
população e a serviço do povo, ou seja, democrática de fato.
Fonte: Brasil de Fato, 7/6/13.