Ministério
Público da Paraíba tenta criminalizar greve na Uepb
Para diretor do
ANDES-SN, ação do MP ao solicitar o julgamento da ilegalidade da
greve é sinal de uma tendência à criminalização de direitos
constitucionais da categoria
Por meio de ação
civil pública no Tribunal de Justiça da Paraíba, a
Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do estado tenta
criminalizar a greve dos docentes e dos técnicos-administrativos da
Universidade Estadual da Paraíba (Uepb), iniciada em fevereiro deste
ano. O pedido de liminar, solicitado à Procuradoria pelo promotor da
Educação de Campina, Guilherme Costa Câmara, pede a ilegalidade da
greve e a determinação de prazo de 24 horas, a contar da publicação,
para retorno das atividades por parte das categorias, sob pena de
multas diárias que variam de R$ 2 mil a R$ 40 mil. O MP quer ainda
que a Uepb desconte os dias parados dos docentes e técnicos.
“O Ministério
Público, sem ouvir os sindicatos das duas categorias em greve –
docentes e técnicos-administrativos – solicitou ao Tribunal de
Justiça a decretação da ilegalidade da greve utilizando um conjunto
de argumentos improcedentes à realidade da nossa luta, não
questionando o nosso direito de greve, o nosso direito do
cumprimento da nossa data-base pela reitoria e não considerando a
situação de precarização grave das atividades acadêmicas existente
hoje em todos os campus da Uepb”, afirma o presidente da Associação
dos Docentes da Uepb (Aduepb), Seção Sindical do ANDES-SN, José
Cristóvão de Andrade. Para Andrade, o Ministério Público não
considerou os pontos colocados pelas categorias e a situação grave
dos estudantes em relação às políticas de assistência. “O MP assumiu
um papel que não compete a ele já punindo e julgando sem garantir o
direito de defesa”, acrescenta.
Para o 1º
vice-presidente da Regional Nordeste II do ANDES-SN, Josevaldo
Cunha, a ação do MP ao solicitar o julgamento da ilegalidade da
greve é sinal de uma tendência à criminalização de direitos
constitucionais da categoria, tendo em vista que o movimento não foi
ouvido pelo Ministério Público. Ele afirma ainda que a atitude do MP
é autoritária. “A posição do MP é inaceitável e antidemocrática.
Tende a tensionar a conjuntura de greve no sentido que se apresenta
criminalizando direitos constitucionais dos docentes de tentar
negociar pautas das categorias que representa na defesa de
interesses econômicos e acadêmicos”, afirma.
Cunha explica que
a greve da categoria docente da Uepb foi deflagrada depois que todos
os espaços de negociação sobre a pauta reivindicatória foram
esgotados, que inclui salários e condições de trabalho, apresentada
pelos professores à reitoria ainda em 2012. “O ANDES-SN demonstra
estranheza em relação ao posicionamento do MP da Paraíba. Depois que
a greve foi iniciada, o movimento e o comando de greve, acompanhados
do Sindicato Nacional, tentaram outras formas de negociação, tanto
junto à reitoria da universidade quanto ao governo do estado, no
sentido de romper o silêncio. A reitoria alega que o orçamento não
comporta o atendimento das reivindicações da pauta da greve e o
governo expressa seu desrespeito com a categoria alegando que a
universidade tem autonomia financeira, o que é uma inverdade, porque
o atual governo do estado, desde os seus primeiros dias de governo
de 2011, ataca a autonomia da universidade deixando de fazer os
repasses regulares mês a mês de acordo com o que a lei de autonomia
garante”, alega.
Até que o pedido
de liminar seja julgado pelo Tribunal de Justiça, os docentes
permanecerão em greve, segundo Andrade. “Estamos nos preparando para
contra argumentar a tese do MP. Temos a confiança de que, se for
preservado o direito constitucional de defesa, vamos poder
apresentar todas as teses que temos que levou a greve dos docentes.
Do contrário, a liminar ameaça punir o sindicato com multas absurdas
e os professores em greve”.
Alternativas
Após participação
do movimento grevista em sessão pública na Assembleia Legislativa da
Paraíba no dia 4 de abril, que contou com a presença de deputados,
governo do estado, universidade e comunidade,Andrade conta que foi
criada uma comissão parlamentar suprapartidária, composta por
parlamentares, pelos dois comandos de greve – que representam os
docentes e os técnico-administrativos -, entidades da comunidade
acadêmica, ANDES-SN e Administração Central da Uepb. “A comissão foi
criada para contribuir com a negociação”, afirma.
Segundo Andrade,
a categoria tem buscado apoio de senadores e deputados federais a
fim de encontrar alternativas de verbas federais para resolver o
problema de precarização dos campi da Uepb. “Estamos trabalhando 24
horas buscando a negociação e o diálogo. A resistência não é do
movimento, e sim o contrário. A resistência da negociação e de
alternativas é da reitoria, que não sai para buscar estes espaços”,
afirma.
O presidente da
Aduepb conta que o sindicato tem participado de sessões especiais
das Câmaras de Vereadores onde tem campus da universidade, para que
entrem na negociação. “Nesta quarta, o comando de greve participou
de uma audiência com a Secretaria de Finanças, o líder do Governo na
Assembleia, reitoria da Uepb e comando de greve dos
técnicos-administrativos para definirmos uma negociação”. Segundo
Andrade, apesar de a reitoria dizer que não tem margem para atender
a data-base proposta pelos docentes, o orçamento de 2013 da Uepb
teve incremento de mais de R$ 20 milhões e previsão de receber entre
R$ 40 e R$ 50 milhões de outras fontes, que não são do tesouro. “O
que percebemos é a falta de vontade política por parte da reitoria e
certa omissão no debate por parte do governo do estado, que n ão
apresentou nenhuma alternativa”.
No próximo dia
22, às 9h, será realizada uma assembleia de avaliação da greve, no
Auditório do Curso de Psicologia no campus 1 – Campina Grande.
Greve
Os docentes da
Uebp estão em greve há 51 dias e reivindicam melhores condições de
trabalho, reposição de perdas salariais e reajuste de 17,7%,
defendem uma política justa de assistência estudantil, respeito à
autonomia departamental, e denunciam a precarização do trabalho dos
professores em todos os oito campi da universidade.
Fonte: ANDES-SN, 18/4/13.