Mercadante
defende mudança de vagas “públicas” por “gratuitas” no PNE
O ministro da
educação, Aloizio Mercadante, declarou apoio a parecer que propôs
alterações controversas e estruturais do Plano Nacional de Educação.
Entre as mudanças, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), por meio
de seu relator, o senador José Pimentel (PT-CE), substituiu a
expansão de “vagas públicas” por “vagas gratuitas” nas Metas 11 e 12
do plano.
Na última
terça-feira (14), Mercadante declarou que esta substituição é a
discussão central das alterações da CAE e que se justifica pelo
artigo 214 da Constituição Federal que prevê o “estabelecimento de
meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do
produto interno bruto”.
Segundo ele, há a
necessidade de se incluir como investimento público na educação
iniciativas como as dos programas Ciência sem Fronteiras, Pronatec –
realizado em parceria com o Sistema S, ProUni e Fies. A declaração
do ministro foi concedida aos jornalistas durante as atividades do
14º Fórum da Undime* (União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação).
“Com todo o
crescimento que nós fizemos na rede federal, o setor privado tem um
papel importante de expansão. Quando a gente faz uma bolsa de estudo
gratuita com isenção fiscal, temos que considerá-la como
investimento público na educação. Já falei com o Fórum da Educação e
vamos construir um acordo sobre o que poderá conter este conceito,
definindo que tem que conter políticas públicas que gerem inclusão
social e que garantam a gratuidade no ensino”, afirma o ministro.
Críticas da
sociedade civil
Em resposta ao
parecer do senador Pimentel, a Campanha Nacional pelo Direito à
Educação – que reúne mais de 200 organizações da sociedade civil com
atuação no campo educacional – divulgou relato crítico apontando os
riscos de retrocessos no Plano Nacional de Educação. De acordo com a
Campanha, a medida prevê a desresponsabilização do Estado na
garantia da educação pública e não se refere apenas ao ProUni e ao
Pronatec, mas sim a toda a expansão de vagas que se dará por eles ou
por iniciativas similares de parcerias público-privadas ainda não
discutidas.
O Pronatec
(Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), por
exemplo, possui o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação
profissional e tecnológica se utilizando também de parcerias com
organizações do Sistema S (SENAI, SENAC, SENAR e SENAT).
Segundo
Mercadante, em 2014, 75% das vagas do Sistema S serão gratuitas.
“Nós temos um grande esforço em ampliar o ensino gratuito e é isso
que interessa para o jovem. Eu não vejo como a gente financiar um
doutorado em MIT ou um pós-doutorado em Havard, Cambridge ou Oxford,
e que não seja tido como parte do investimento público na educação
no Brasil”, defende.
Já para a
Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o governo federal,
estados e municípios “serão desresponsabilizados de expandir a
educação profissional e o ensino superior em estabelecimentos
próprios, marcadamente aqueles que apresentam melhor qualidade e que
tem sido centrais ao desenvolvimento do país”, fazendo com que,
possivelmente, se promovam “programas de bolsas de estudo em
estabelecimentos bem menos qualificados”.
O jogo dos
Royalties
Uma das polêmicas
debatidas nas plenárias do Congresso Federal nos últimos meses se
refere à forma como serão financiadas as políticas educacionais
brasileiras, tendo como dois importantes pontos de pauta a
vinculação dos royalties do petróleo para a área educacional e o
investimento de quantia equivalente a 10% do PIB para o setor. Para
Mercadante, ainda em declaração durante as atividades do 14º Fórum
da Undime, a decisão sobre o vínculo dos royalties é o que realmente
vai assegurar mais recursos para a educação.
“Essa é uma
questão duríssima e mais difícil do que determinar a garantia dos
10% do PIB. Se não estiver no orçamento, não vai acontecer. Todo
mundo vota por unanimidade pelos 10% do PIB, mas não vota na hora de
vincular os royalties para a educação. Os parlamentares sabem que
esta é uma fonte real de receita para a educação, para o município,
estado e União e é isso que vai transformar a educação brasileira”,
diz o ministro.
*A convite da
organização do evento, o Observatório da Educação está acompanhando
as atividades do 14º Fórum da Undime, realizado no município de Mata
de São João, na Costa do Sauipe (BA).
Para saber mais
sobre as mudanças no Plano Nacional de Educação, leia reportagem do
Observatório "Organizações denunciam risco de retrocesso no PNE;
votação é adiada em uma semana".
Fonte: Observatório da Educação, 15/5/13.