McDonald´s é alvo
de inquérito da Polícia Federal
O McDonald´s está
sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de submissão de
seus funcionários a condições análogas à escravidão. A PF instaurou
o inquérito policial após denúncia de não pagamento de salários a
uma funcionária durante os oito meses em que ela trabalhou em um dos
restaurantes da rede de fast food.
Conforme relatado
pela mãe da jovem à reportagem do Brasil de Fato em setembro de
2012, o McDonald´s justificou a falta da remuneração pelo fato de a
funcionária ter apresentado uma conta-poupança no momento da
contratação e os depósitos somente eram feitos em conta-corrente
pela empresa. “Eles a fizeram abrir uma nova conta, agora corrente,
mas até hoje só vieram despesas”, disse.
A adolescente, de
17 anos, integrou o quadro de funcionários do McDonald´s de dezembro
de 2010 a agosto de 2011. Em abril do mesmo ano descobriu que estava
grávida. Pela falta da remuneração e a proximidade do nascimento de
seu filho, ela decidiu buscar meios judiciais para resolver a
situação. Ao procurar a Justiça do Trabalho, a adolescente e a mãe
foram encaminhadas para o Sindicato dos Empregados em Hospedagem e
Gastronomia de São Paulo e Região (Sinthoresp), de modo que tivessem
acesso à assistência jurídica gratuita.
O sindicato
entrou com uma ação pedindo a rescisão indireta da trabalhadora e
pleiteando o pagamento dos valores devidos. A entidade ainda
solicitou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) a instauração de
um inquérito civil para apurar o não pagamento de salários levado a
cabo pela Arcos Dourados Comércio de Alimentos Ltda., franqueadora
do McDonald´s. No entanto, o pedido foi negado sob o argumento de
que não existiam provas de que tal procedimento se estendia aos
demais funcionários da rede de restaurantes fast food. “Não há como
se presumir a existência de irregularidades trabalhistas perpetradas
pela empresa em face de uma coletividade de empregados, situação
que, em tese, legitimaria a atuação do Ministério Público do
Trabalho”, diz o relatório de arquivamento do pedido.
Investigação
criminal
Após a negativa
de abertura do inquérito civil para apurar o não pagamento de
salários a ex-funcionária, o sindicato entrou com um pedido junto à
Polícia Federal para que fosse feita a investigação criminal da
conduta do McDonald´s com seus empregados. No requerimento, o
Sinthoresp alegou que a jovem “foi submetida à condição análoga de
escravo”. O pedido foi protocolado na PF em 27 de agosto de 2012 e a
instauração do inquérito foi determinada no final de outubro do
mesmo ano.
Conforme o
advogado do Sinthoresp, Marinósio Martins, a Polícia Federal já
ouviu a trabalhadora. “Ela confirmou os fatos que estavam incluídos
no requerimento para o inquérito”, conta. Agora, a PF deve intimar
mais pessoas para prestarem esclarecimentos sobre os fatos, entre
eles os donos do restaurante da rede fast food em que ela trabalhou,
ex-colegas de trabalho e os responsáveis pela Arcos Dourados,
franqueadora master do McDonald´s no Brasil. “[Os agentes da PF] vão
apurar os fatos e, chegando à conclusão de que houve um crime e de
quem foi a autoria, as implicações serão em termos penais”, explica
o advogado.
Os resultados da
investigação da Polícia Federal serão reunidos em um relatório e
encaminhados ao Ministério Público (MP) que, se aceitar a denúncia,
encaminhará o processo para a Justiça Federal. Rodrigo Rodrigues,
também advogado do Sinthoresp, diz que a expectativa é que o MP
aceite a denúncia. Ele pondera, no entanto, que o que se conseguiu
até agora, com a instauração do inquérito pela PF, foi um grande
passo. “Ter aberto um inquérito para investigação de trabalho
análogo à escravidão já é uma vitória dos trabalhadores”, afirma.
A mesma opinião é
compartilhada por Marinósio Martins. “Como a própria Polícia Federal
fez uma análise preliminar e concluiu que há a prática desse crime,
a nossa expectativa é que isso [o inquérito] progrida, para que não
haja mais esse tipo de abuso em nosso país”, defende.
Pacto
Diante da
abertura do inquérito pela Polícia Federal para apurar a suspeita de
trabalho escravo na rede de fast food, o Sinthoresp encaminhou ao
Comitê de Monitoramento do Pacto Nacional pela Erradicação do
Trabalho Escravo denúncia contra a Arcos Dourados, que é signatária
desde 2009 e apoiadora da iniciativa, pedindo a sua exclusão por
violação ao Pacto. “Há violação quando a empresa denunciada, Arcos
Dourados, vale-se das necessidades vitais das pessoas humanas, que
buscam o seu primeiro emprego, para reduzir direitos em uma nítida
situação de escravidão econômica”, afirma no requerimento. Além
disso, o sindicato pede a inclusão da empresa no rol da lista suja
“pela prática de trabalho degradante”.
O advogado
Rodrigo Rodrigues afirma que a presença da rede de fast food no
Pacto é fora de contexto, já que os signatários se comprometem a não
comercializar produtos de fornecedores que usaram trabalho escravo.
“Agora, o próprio McDonald´s é investigado pelo inquérito da Polícia
Federal por trabalho escravo. Como fica? O frigoríficos não vão mais
vender carne para ele?”, questiona.
Segundo
Rodrigues, o pedido foi encaminhado para o Comitê de Monitoramento
do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no dia 4 de
janeiro deste ano e ainda não obteve retorno.
Fonte: Brasil de Fato, Michelle Amaral, 15/2/13.