Liderança do MST
é assassinada em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro
O trabalhador
rural e militante do MST Cícero Guedes foi assassinado por
pistoleiros nesta sexta-feira (25/1), nas proximidades da Usina
Cambahyba, no município de Campos (RJ).
Cícero foi
baleado com tiros na cabeça quando saía do assentamento de
bicicleta. Nascido em Alagoas, ele foi cortador de cana e coordenava
a ocupação do MST na usina, que é um complexo de sete fazendas que
totaliza 3.500 hectares.
Esse latifúndio
foi considerado improdutivo, segundo decisão do juiz federal Dario
Ribeiro Machado Júnior, divulgada em junho. A área pertencia ao já
falecido Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador biônico do Rio, e
agora é controlada por seus herdeiros.
Cícero Guedes era
assentado desde 2002 no Sítio Brava Gente, no norte do Rio de
Janeiro, no assentamento Zumbi dos Palmares, mas continuou a luta
pela Reforma Agrária. Era uma referência na construção do
conhecimento agroecológico tanto entre os companheiros de Movimento
como também entre estudantes e professores da Universidade do Norte
Fluminense.
No lote, ele
desenvolvia técnicas da agroecologia, com uma diversidade de plantas
, respeitando a natureza e aproveitando de tudo que ela poderia dar.
Começou com o plantio de sua cerca viva de sabiá, que viu sua
propriedade melhorar visualmente e também obter uma boa fonte de
renda.
Cícero também era
conhecido pelas suas bananas, presentes em muitas partes do lote,
consorciadas com leguminosas, milho e espécies frutíferas.Os filhos
cresceram vendo a experiência se desenvolver e aprenderam com o pai
que os alimentos produzidos na agroecologia têm qualidade superior
aos do supermercado.
O agricultor
assentado Cícero Guedes dos Santos, desde o inicio da ocupação do
seu lote em 2002, já possuía o desejo de ter em sua área diversidade
de plantas, respeitando a natureza e aproveitando de tudo que ela
poderia dar. A natureza, inclusive, foi a fonte de inspiração para
esse tipo de consciência e o entendimento da mesma fez com que esse
sentimento de preservação e convívio fosse dia-a-dia aumentando.
Violência do
latifúndio
O complexo de
fazendas tem sido palco de todo tipo de violência: exploração de
trabalho infantil, exploração de mão de obra escrava, falta de
pagamento de indenizações trabalhistas, além de crimes ambientais.
Em dezembro, o
Incra fez o compromisso de criar um assentamento na área da usina,
mas até agora não avancou no sentido de assentar as famílias.
A morte da
companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da
impunidade das mortes dos Sem Terra e da lentidão do Incra para
assentar as famílias e fazer a Reforma Agrária. O MST exige que os
culpados sejam julgados, condenados e presos.
As fazendas da
Usina Cambahyba acumulam dívidas de milhões com a União e seu
processo de desapropriação está paralisado há 14 anos — desde que o
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
considerou aquelas terras improdutivas e passíveis de desapropriação
para fins de reforma agrária.
Porém, a dívida
da usina não se limita ao aspecto financeiro. No último mês de maio,
os brasileiros ficaram estarrecidos com a revelação de que os fornos
de Cambahyba foram usados para incinerar corpos de 10 militantes
políticos durante a ditadura civil-militar brasileira. A confissão
do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops),
Cláudio Guerra, consta no livro “Memórias da uma guerra suja” e foi
divulgada por toda a imprensa.
Até hoje, porém,
a Justiça Federal impede a desapropriação da área e já determinou
despejos violentos de famílias que reivindicam a terra. Essa é a
segunda vez que o MST realiza uma ocupação na área da usina.
A primeira foi em
2000, e seis anos depois, as Polícias Federal e Militar, por decisão
da Justiça Federal de Campos, despejaram as 100 famílias que haviam
criado o acampamento Oziel Alves II.
Fonte: MST