Índios aceitam
acordo com parlamentares, mas querem avançar nas definições
Em assembleia
realizada na quarta-feira, 16 de abril, por volta das 21h, no
auditório da Comissão de Constituição e Justiça, os 700 indígenas
representantes de 73 etnias das cinco regiões do Brasil, decidiram
aceitar a proposta apresentada pela comissão de parlamentares e
desocuparam a Câmara. A decisão foi tomada após a reunião de dez
lideranças indígenas com o presidente da Câmara, Henrique Alves
(PMDB/RN), que contou com a presença de outros parlamentares.
De acordo com a
proposta, não haverá qualquer movimentação dos congressistas em
relação à PEC 215, considerada uma das principais ameaças aos povos
porque dá ao Legislativo a atribuição de demarcar terras indígenas,
em um período de seis meses. Uma mesa de negociação deverá ser
instalada ainda hoje para discutir todas as proposições legislativas
e algumas executivas que ameaçam direitos indígenas. Segundo a
proposta, este grupo de negociação será paritário, ou seja, terá em
sua formação o mesmo número de parlamentares (de diferenças
legendas, inclusive as vinculadas aos ruralistas) e de lideranças
indígenas.
Este acordo foi
possível após os índios terem ocupado por cerca de 50 minutos o
plenário da Câmara dos Deputados, fazendo com que as discussões e
votações fossem suspensas por duas horas. Eles concordaram em
desocupar o plenário após o presidente daquela instituição, Henrique
Alves, propor uma reunião imediata entre parlamentares e lideranças
indígenas. A avaliação do movimento era de que a proposta
encaminhada durante a tarde era insuficiente para garantir que a PEC
não avance. Segundo ela, os líderes dos partidos se comprometeriam a
não indicar representantes para a Comissão Especial sobre a PEC 215,
em um prazo de 45 dias. Segundo o cacique Marcos Xukuru, de
Pernambuco, "eles tinham condição de dar uma decisão concreta para
nós. A resposta dada é simplesmente uma manobra para que possamos
retornar aos nossos estados e em 40 dias fariam a indicação dos
nomes para compor a Comissão Especial".
Truculência X
Respeito
Apesar da fala de
Alves sobre respeito e democracia, no sentido de convencer os índios
a desocuparem o plenário, o que se viu, na realidade, foi uma
postura bastante truculenta da Polícia Legislativa. Para tentar
conter a ocupação, os policiais apelaram para a utilização do choque
elétrico. O Secretário Executivo do Cimi, Cleber Buzatto, foi uma
das vítimas desse tratamento “democrático e respeitoso”. O editor do
jornal Porantim, também do Cimi, Renato Santana, que fotografava a
manifestação, foi espancado por vários policiais, teve seus óculos
destruídos e foi arrastado para dentro do café do plenário. Sendo
solto somente graças à intervenção do deputado Jean Wyllys
(PSOL-RJ). Ambos apresentaram denúncia na delegacia da Polícia
Legislativa da Câmara e fizeram exame de corpo delito no Instituto
Médico Legal (IML). Vários índios também relataram ter sofrido
agressões por parte dos seguranças da Câmara.
Avaliação do
movimento
Em assembleia
realizada agora pela manhã, 17 de abril, em Luziânia, os indígenas
fizeram uma avaliação da ocupação e dos atos durante o dia de ontem.
“A avaliação foi bastante positiva. E a proposta feita pelos
parlamentares ontem à noite foi considerada um passo importante no
sentido de garantir os direitos indígenas. Precisamos agora saber
quais as condições práticas sobre, por exemplo, a paridade, o número
de participantes dessa mesa e quem banca a vinda das lideranças
indígenas para Brasília, de modo que a conversação realmente
aconteça”, afirma Saulo Feitosa, Secretário Adjunto do Cimi. Neste
sentido, um grupo de lideranças indígenas irá participar de uma
reunião com parlamentares para avançar nestas definições hoje à
tarde, após a reunião que farão com o presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Joaquim Barbosa.
Texto: Laila
Menezes
Fonte: Assessoria de Comuniação CIMI