Governo reprime
manifestação e leiloa maior bacia do pré-sal do país
Em menos de uma
hora, a maior bacia do pré-sal brasileiro foi entregue para as mãos
do capital privado internacional. O Campo de Libra, situado na Bacia
de Santos e que em dez anos deve se tornar a maior área produtora de
petróleo do país, foi vendido em leilão pelo seu preço mínimo: R$ 15
bilhões.
A produção
extraída será partilhada pelo consórcio formado entre as empresas
Petrobras (40%); a anglo-holandesa Shell (20%); a francesa Total
(20%); e as chinesas CNPC e CNOOC (com 10% cada uma). O grupo foi o
único a apresentar proposta, e deve repassar à União 41,65% do
excedente em óleo extraído do campo – percentual mínimo fixado pelo
governo no edital.
Segundo Fernando
Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras
(Aepet), os dados que mais assustam estão relacionados às
facilidades oferecidas pelo governo para que as empresas
estrangeiras se apropriem de uma de nossas maiores e mais
estratégicas riquezas. “O governo vem causando um prejuízo crônico à
Petrobras, reduzindo drasticamente seu caixa, obrigando-a, de forma
ilegal, a comprar combustíveis no exterior e vender mais barato para
as distribuidoras, suas concorrentes. Ao mesmo tempo, retoma o campo
que estava com a Petrobras por conta da cessão onerosa e estabelece
um bônus de assinatura de R$ 15 bilhões, que prejudica a Petrobras e
impede a participação das demais empresas nacionais”, denuncia em
artigo publicado no Le Monde Diplomatique.
De acordo com
Siqueira, enquanto no resto do mundo os países exportadores de
petróleo ficam com 80% do óleo-lucro – uma média de 72% do óleo
produzido –, o governo brasileiro fixou para o leilão de Libra o
pagamento mínimo de 41,65% à União. Em um campo sem riscos, de óleo
de excelente qualidade, não seria razoável menos de 80%. Para o
engenheiro, o Brasil leiloou um bilhete premiado. “Nenhum país
soberano e independente faz esse tipo de leilão”, afirma.
Para o membro da
Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Claiton Coffy, também
da direção da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), o governo
Dilma copiou em grande estilo o governo de Fernando Henrique
Cardoso. “Chamou o Exército como fez FHC contra os petroleiros em
1995; mas fez pior, entregou a maior bacia do petróleo brasileiro
para as mãos do capital privado. Quando FHC privatizou a empresa
precisaria pesquisar o petróleo, agora ele já está descoberto, toda
a pesquisa foi feita pela Petrobras. É uma lástima”, denuncia.
Campo de guerra
Mais uma vez, o
Estado utilizou dos seus aparatos de repressão, quando necessário,
para impor suas políticas. O cenário visto pelos brasileiros foi o
do Exército e a Força Nacional, nas ruas da Barra da Tijuca, no Rio
de Janeiro, jogando bombas de gás lacrimogênio, gás de pimenta e
balas de borracha contra os que se colocavam contrários à política
do governo e tentavam defender o petróleo brasileiro.
A Avenida Lúcio
Costa, no Rio de Janeiro, próxima ao hotel onde foi realizado o
leilão, se transformou em uma praça de guerra. A Força Nacional
dispersou ao menos 700 manifestantes participavam do ato contra o
leilão de Libra. “O governo Dilma criou uma zona de exclusão
militar, de sítio. Isolou várias ruas no entorno do hotel, uma
repressão muito forte. Qualquer avanço dos manifestantes a policia
ataca com bombas, bala de borracha, gás lacrimogêneo”, contou Coffy.
Ao menos seis pessoas ficaram feridas.
Royalties
Uma das
justificativas para a privatização do patrimônio nacional é que o
governo não possuiria recursos para os investimentos necessários à
produção plena do Campo de Libra, que geraria “royalties” para as
áreas sociais.
Os “royalties” –
dos quais 75% iriam para Educação e 25% para a Saúde – equivalerão a
apenas 15% da produção, e somente serão obtidos quando o Campo de
Libra começar a operar plenamente, o que ocorrerá apenas por volta
de 2019. Além do mais, cabe lembrar que o governo federal já não tem
destinado os recursos dos royalties para as suas finalidades legais,
mas em grande parte para o pagamento da dívida pública, o que deve
novamente com o Campo de Libra.
Segundo a
Auditoria Cidadã da Dívida, em 2013, os recursos dos royalties
representarão a 0,02% do PIB. Em 2022, alcançariam, no melhor dos
cálculos, a porcentagem de 0,6% do PIB.
Resistência
petroleira
Em greve há cinco
dias, os petroleiros paralisaram suas atividades contra a
privatização da Bacia de Libra e pelas bandeiras da campanha
salarial da categoria.
Na manhã desta
segunda-feira (21), a Petrobras se reuniu com a Federação Única dos
Petroleiros (FUP /CUT). A proposta apresentada pela empresa foi
recusada pela Federação. A empresa elevou de 7,68% para 8% o
reajuste salarial dos trabalhadores da ativa, com ganho real de até
1,8%. A categoria pede 12,86%, com 5% de ganho real, informou a FUP.
Amanhã será a vez da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP /
CSP-Conlutas) se reunir com a Petrobrás e também irá recusar a
proposta.
Com informações
da CSP-Conlutas
Fonte: ANDES-SN, 21/10/13.