Governo ignora
quadro de precarização nas IFE e cria mais quatro universidades
Presidente Dilma
Rousseff sancionou na última quarta-feira (5) leis que criam as
universidades federais do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), do
Oeste da Bahia (Ufob), do Sul da Bahia (Ufesba) e do Cariri (UFCA)
Apesar de as
Instituições Federais de Ensino (IFE) de todo país continuarem
sofrendo com as consequências do novo ciclo de expansão
intensificado nos últimos anos, a partir da implementação do
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais Brasileiras – Reuni -, o governo federal
amplia o número de universidades nos estados sem observar as
sequelas já existentes nas instituições brasileiras, denunciadas
pelo ANDES-SN no Dossiê Nacional 3: Precarização das condições de
trabalho 1, lançado nacionalmente em abril deste ano. Na última
quarta-feira (5), a presidente Dilma Rousseff sancionou as leis – nº
12.824/2013, nº 12.825/2013, nº 12.818/2013 e nº 12.826/2013 - que
criam, respectivamente, quatro novas universidades federais: do Sul
e Sudeste do Pará (Unifesspa), do Oeste da Bahia (Ufob), do Sul da
Bahia (Ufesba) e do Cariri (UFCA), no Ceará. A criação das
instituições integra o Reuni.
De acordo com o
governo, juntas, as quatro universidades ofertarão 145 cursos e
poderão atender 38,3 mil alunos. No entanto, o quadro de docentes e
técnico-administrativos previstos para as instituições é bem menor:
1.677 professores e 2.156 técnico-administrativos. Ao fazer uma
média geral, a partir dos critérios utilizados pelo MEC, a relação é
de 22,8 alunos para cada professor, superior ao determinado nas
metas do Reuni, de 1 (um) docente para cada 18 estudantes.
A UFCA terá 27
cursos e deverá receber 6,5 mil estudantes, com campi nos municípios
Juazeiro do Norte, Barbalha e Crato. Na Ufob, além da sede em
Barreiras, haverá campi em Bom Jesus da Lapa, Barra e Santa Maria da
Vitória. Ao todo, serão 35 cursos e 7,9 mil estudantes. A Ufesba
terá 36 cursos para 11,1 mil estudantes em Itabuna, e nos campi dos
municípios de Porto Seguro e Teixeira de Freitas.
A Unifesspa terá
campi em Marabá, Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Félix do
Xingu e Xinguara. A nova instituição poderá receber 12,8 mil
estudantes e oferecerá 47 cursos. O número previsto para docentes é
de 506. A relação entre as vagas e os professores divulgados - de
25,3/1 - já é um alerta para o aumento da precarização nestas
instituições.
Com a sanção das
leis, a presidente cumpre uma das promessas da campanha feita
durante as eleições de 2012, sem considerar todo o quadro de
precarização instalado nas IFE de todo país, como as más condições
de trabalho dos professores, falta de docentes e infraestrutura
necessária para as aulas teóricas e práticas, número excessivo de
alunos, entre outros. Além de todo prejuízo na vida acadêmica dos
estudantes e os problemas que atingem os professores – como a
sobrecarga de trabalho, prejuízo das atividades de pesquisa e
extensão, aumento dos casos de doença na carreira – as consequências
são ainda piores, pois o processo de expansão aplicado pelo governo
reduz a função social das universidades públicas, com a fragilização
do papel institucional de referência no padrão unitário de qualidade
do ensino, da pesquisa e da extensão, e com a mudança dos modelos
curriculares para apressar a formação dos discentes.
“Este governo se
propôs a dobrar, em dez anos, o número de vagas das universidades
federais, só que ele faz isso sem primar pela qualidade do ensino. A
gente observa que as universidades que têm surgido pelo interior do
Brasil não têm infraestrutura adequada, nem biblioteca e nem uma
política capaz de fixar os professores e os estudantes. A
assistência estudantil, por exemplo, é muito precária e isso provoca
uma evasão altíssima”, afirma o 1° vice-presidente da Regional
Nordeste I do ANDES-SN, Antônio Gonçalves Filho. “Como é que se
amplia o número de vagas, cria-se um sistema nacional de seleção em
que os alunos vão poder migrar pelo país, e não se prepara as
universidades para receber os estudantes?”, questiona Antônio, que
acrescenta que a relação professor/aluno e técnico/aluno está ainda
bem aquém do desejável.
Durante a sanção
das leis, a presidente Dilma afirmou que as novas instituições
federais fazem parte da “interiorização” do ensino superior. A
presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, explica que o Sindicato
Nacional defende o acesso ao curso universitário - de qualidade em
uma instituição pública, autônoma e com função social - a todos os
interessados. “Neste sentido, a expansão em si é algo bom, o
problema é que o governo implementa nas universidades um processo de
expansão sem qualidade e com precarização do trabalho docente”, diz
a presidente do ANDES-SN.
Segundo
Marinalva, o Reuni foi apresentado pelo governo como panaceia aos
problemas das IFE, mas a destinação de recursos insuficientes e
voltados principalmente para infraestrutura. “Assim, teremos nas
universidades um número maior de prédios, cursos e alunos sem
aumento de orçamento. Se já tínhamos dificuldades de funcionar
antes, o quadro ficou pior depois do Reuni”, acrescenta. Segundo
dados do governo, em 2012, 114 municípios tinham campi de
universidades federais. Em 2013, este número subiu para 275. O
aumento foi de 141,2%.
“Trata-se de uma
expansão meramente quantitativa, precarizante e sem qualidade.
Muitas dessas novas universidades, que não são novas a rigor, pois
são antigos campi que se juntam, não têm estrutura para ser uma
universidade e isso implica em uma série de consequências, entre
elas, a falta de estrutura e a não fixação de professores e alunos”,
completa o diretor do ANDES-SN, Antônio Gonçalves Filho.
O ANDES-SN atua
nos processos de expansão das IFE antes mesmo da implantação desses
programas pelo governo. Em 1983, o Sindicato Nacional apresentou sua
proposta para a Universidade Brasileira, com a publicação do Caderno
2. O documento encontra-se na quarta edição, atualizada e revisada.
O lançamento foi realizado em março deste ano, durante o 32º
Congresso do ANDES-SN, no Rio de Janeiro.
Para o ANDES-SN,
a universidade pública brasileira deve expandir com qualidade, e não
apenas de forma quantitativa, sem condições necessárias para o
ensino, a pesquisa e a extensão. Por isso, na proposta do ANDES-SN
para a universidade brasileira consta um capítulo sobre “Padrão
Unitário de Qualidade”, que só poderá ser atingido pela
transformação e expansão da universidade pública com oportunidade de
acesso para todos, onde a qualidade do ensino deve ser buscada por
meio da implementação das necessárias condições materiais a um
funcionamento da universidade.
Universidade
Federal do Sul da Bahia – Ufesba (Lei nº 12.818/2013)
- Cria os campi
de Porto Seguro e Teixeira de Freitas
- Prevê 617
cargos de professor e 623 cargos para técnico-administrativos (242
de nível superior e 381 de nível intermediário)
- Disponibilizará
36 cursos para 11,1 mil estudantes
Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa (Lei nº 12.824/2013)
- Os campi de
Marabá da UFPA passam a integrar a Unifesspa e são criados os campi
de Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e
Xinguara
- Prevê 506
cargos de professor e 595 cargos de técnico-administrativos (238 de
nível superior e 357 de nível intermediário)
- Terá 12,8 mil
estudantes e oferecerá 47 cursos
Universidade
Federal do Oeste da Bahia – Ufob (Lei nº 12.825/2013)
- Os campi de
Barreiras da UFBA passam a integrar a Ufob e são criados os campi de
Barra, de Bom Jesus da Lapa, de Luiz Eduardo Magalhães e de Santa
Maria da Vitória
- Prevê 357
cargos de professor e 408 técnico-administrativos (163 de nível
superior e 245 de nível intermediário)
- Ao todo, serão
35 cursos e 7,9 mil estudantes
Universidade
Federal do Cariri – Ufca (Lei nº 12.826/2013)
- Os campi de
Juazeiro do Norte, Barbalha e Crato da UFC passam a integrar a Ufca
e são criados os campi de Icó e de Brejo Santo
- Prevê 197
cargos de professor e 530 técnico-administrativos (212 de nível
superior e 318 de nível intermediário)
- Disponibilizará
27 cursos e receberá 6,5 mil estudantes
Fonte: ANDES-SN, 10/6/13.