Estado d'Exceção: Estado e Imprensa promovem covardia contra
estudantes e contra a cidadania no Ato contra o Aumento das
Passagens
A farsa já estava armada e era perceptível desde a saída dos
manifestantes da Cinelândia, na última quinta (7/6), por volta das
17h30-18h. Diferentemente da manifestação contra o aumento das
passagens realizada anteriormente, desta vez a quantidade de
policiais que seguiam
os manifestantes foi decuplicada e já era expressiva desde o início
da marcha. O Batalhão de Choque também não demorou a se posicionar e
a demonstrar que tinha ordens superiores para dispersar a multidão
desde o início, de forma a evitar o desgaste político do governo e a
garantir a imagem de segurança idealizada de cidade global da Copa e
das Olimpíadas, que seria imediatamente ratificada pela imprensa
saudosa da ditadura, que justificou a ação militar, dizendo que os
manifestantes é que 'entraram em confronto com a PM'...
Estudantes, alguns com 15, 16 e 17
anos, antes mesmo de chegarem a suas casas, receberam ligações
preocupadas de seus pais, que foram informados, pela imprensa global
da ditadura do capital, de que seus filhos promoviam a desordem na
cidade. A irresponsabilidade desta imprensa é de tal ordem que não
foram poucos os relatos de conflitos familiares que colocaram em
questão o processo de formação destes jovens para a cidadania, pelo
reconhecimento, no conflito, promovido pelo estado maior militar e
pela imprensa, dentro de suas casas, dos limites a sua liberdade
política. Não é à toa, portanto, que muitos jovens demonstraram
revolta. Tal limite já havia sido reconhecido na manifestação
anterior, quando, no final do ato, na Av. Pres. Vargas, em frente à
Central, a manifestação foi dispersada violentamente pela PM.
Qualquer motivo para iniciar a
dispersão ordenada seria, como foi, utilizado pelo comando militar.
De fato, toda a movimentação tática das centenas de militares
demonstrou, logo após a saída dos manifestantes da Rua Araújo Porto
Alegre, como qualquer leigo reconheceria, que a ação de dispersão
dos manifestantes, que até então protestavam pacificamente sem
qualquer ameaça à 'ordem pública', iria começar em breve. E começou,
sintomaticamente, bem em frente ao prédio do Fórum e do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro. E, sem que visasse conter qualquer
distúrbio específico que pudesse ter identificado, a ação persistiu
ao longo da Av. 1° de Março até a total dispersão dos manifestantes,
demonstrando claramente seu objetivo: acabar, de forma
anti-democrática, com o ato. Mas não foi a única coisa que ficou
evidenciada na ação militar, mas também o uso desproporcional da
força, como abuso da violência e da autoridade militar.
Violentados pela extrema agressividade
da ação militar, os manifestantes correram para se proteger. Uma
parte expressiva foi em direção à Presidente Vargas, de forma a
reafirmar, ainda que contra a violência militar, seu direito ao
protesto. Os militares continuavam a disparar bombas de gás
lacrimogêneo e balas de borracha, gás de pimenta e choque elétrico,
assustando todos aqueles que voltavam para casa depois do trabalho e
provocando prejuízos ao comércio (que seriam colocados na conta dos
manifestantes pela imprensa do capital). Revoltados, alguns
manifestantes optaram por explicitar sua revolta, e o estado de
exceção em que vivemos, contra a ordem estatal d'exceção, como
demonstração de sua condição paradoxal, pelo desrespeito e
reafirmação contraditória de seus direitos políticos, fechando ruas
e grafitando ônibus.
Estas cenas foram utilizadas para
justificar a ação militar injustificável. Gostaria, a imprensa
ditatorial, que os manifestantes obedecessem à ordem militar ilegal
contra seus direitos? E, em defesa das empresas de ônibus e dos
governos do capital, chamaram estudantes e trabalhadores em geral de
baderneiros, arruaceiros, etc, de forma clichê, como era de se
esperar.
O que a imprensa capitalista não fala
é que os manifestantes têm sido cotidianamente violados em seus
direitos de ir e vir, à cidade, ao transporte público de qualidade.
Os protestos são uma resposta à violência que têm sofrido e,
portanto, não justificam a criminalização de que são vítimas, pois
seus atos têm o status de ato político expresso e sua condição é
decorrência do desrespeito a sua cidadania.
Por Fernando Luís Monteiro Soares – Rede das Comunidades de
Resistência Impactadas - 12 de junho de 2013