Com Dilma e Papa
no Rio, trabalhadores voltam às ruas
Na tarde de
segunda-feira (22), dia da chegada do Papa Francisco ao Rio de
Janeiro em razão da 26° Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Católica,
estudantes, sindicatos e movimentos sociais voltaram às ruas para
denunciar os gastos públicos milionários com os grandes eventos na
cidade, as remoções arbitrárias da população que mora nos entornos
de onde serão realizados os megaeventos e a truculência da Polícia
Militar do governador Sérgio Cabral, tanto nos protestos recentes
como nas favelas cariocas.
Convocado pela
CSP-Conlutas, o ato procurou dialogar com os participantes da JMJ
que visitam a cidade. Os manifestantes que saíram do Catete, em
direção ao Largo do Machado, exigiram a desmilitarização da PM, o
fim das remoções e das privatizações no setor público e a defesa
intransigente da saúde e educação públicas, gratuitas e de
qualidade. Alheios à manifestação, a presidente Dilma Roussef, o
Governador Sérgio Cabral e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, se
preparavam para recepcionar o Papa no Palácio Guanabara.
“A nossa luta é
todo dia contra o machismo, racismo e homofobia”
A luta contra
todos os tipos de opressões também foi um dos motes do ato. Os
manifestantes protestaram em favor do aborto e contra o Estatuto do
Nascituro (PL 478/07), projeto de lei em trâmite no Congresso
Nacional, que prevê uma “bolsa-estupro” para as mulheres sexualmente
violentadas que ficarem grávidas e mantiverem a gestação.
“A luta pela
legalização do aborto perpassa pelo reconhecimento de que a mulher é
a dona de seu próprio corpo, e não o conservadorismo estatal ou o
fundamentalismo religioso. Nesse sentido, o Estatuto do Nascituro é
um retrocesso”, afirmou a estudante de Letras e integrante da
Executiva da ANEL, Priscila Branco.
O fim da
homofobia também foi uma bandeira levantada no protesto. Nas ruas,
os manifestantes gritavam “Fora Feliciano”, em referência ao
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado da
base governista Marco Feliciano (PSC-SP), reconhecidamente racista e
homofóbico, que dentre vários ultrajes e ofensas apoiou o projeto de
lei que defendia “a cura gay”, mais tarde arquivado pela Câmara.
“Chega de bomba,
de caveirão, trabalhador quer saúde e educação”
Presente no ato,
Urutau Guajajara, um dos representantes dos povos que ocupavam a
Aldeia Maracanã, relembrou o episódio que culminou no despejo dos
povos originários do antigo Museu do Índio. “Nós, povos indígenas,
negros, pobres, quilombolas não aguentamos mais esse massacre que
já dura 513 anos. Como na época de nossa expulsão – em que Cabral e
Paes jogaram bombas em crianças, idosos em mulheres indígenas
grávidas – as ações de repressão continuam. Que governo é esse que
persegue e mata o próprio povo?”, protestou. Guarajara também
questionou o papel do governo federal no processo e pediu um pedido
de perdão do governo Dilma. “Afinal, o governo é do povo ou
representa a especulação imobiliária e o agronegócio?”.
Os manifestantes
também mostraram indignação com o sumiço de Amarildo de Souza,
morador da Rocinha e pai de 6 filhos que desapareceu, no dia 14 de
julho, após ser abordado por policiais da UPP e convidado a
comparecer à unidade “de pacificação” para averiguação. A professora
Vera Nepomuceno, coordenadora geral do Sindicato dos Profissionais
da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) chamou a ação de
vandalismo de Estado. “Cabral chama os manifestantes de vândalos,
mas precarizar e privatizar a saúde e a educação não é vandalismo?
Perseguir e desaparecer com moradores da favela não é vandalismo?
Remover os moradores da Vila Autódromo não é vandalismo? Os vândalos
não somos nós, são eles”, referindo-se a Cabral e Paes.
A 1ª secretária
da Regional RJ do ANDES-SN e diretora da ADUFF, Sônia Lúcio,
garantiu que os docentes das instituições de ensino superior
seguirão juntos, “nas ruas e nas lutas”, do lado dos trabalhadores
que não se renderam ao conformismo e à capitulação. “Seguiremos
denunciando o fechamento das escolas e a precarização dos hospitais,
exigindo os 10% do PIB para a educação já e lutando cotidianamente
por uma educação pública, gratuita e de qualidade nesse país”,
afirmou.
O coordenador da
executiva estadual da CSP-Conlutas, Luis Sérgio Ribeiro, também
assegurou que os trabalhadores não irão sair das ruas e antecipou a
articulação de uma nova greve geral para o dia 30 de agosto. ”Essa é
uma luta do conjunto da classe trabalhadora”, finalizou.
“É ou não é piada
de salão tem dinheiro para o Papa mas não tem para a Educação”
Matéria publicada
em O Globo, no dia 11 de julho, revelou que os governos federal,
estadual e a prefeitura do Rio terão um gasto milionário com a
visita do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude.
Somados, União, estado e município gastarão R$ 118 milhões durante a
passagem do Papa pelo país. Só o governo federal desembolsará R$ 62
milhões, sendo R$ 30 milhões com ações de segurança e defesa. Estado
e município darão R$ 28 milhões cada.
Fonte: Aduff - Seção Sindical, [Andes-SN, 24/7/13].